REGINALDO MIRANDA
Nasceu o escritor Higino Cícero da Cunha em 11 de janeiro de 1858, no sítio Bacuri, município de São José das Cajazeiras, hoje Timon, no Maranhão, bem próximo a Teresina(PI). Foram seus genitores Luís José da Cunha e Ludgera Maria da Conceição.
Iniciou os estudos de primeiras letras na casa paterna, orientado pelos irmãos mais velhos, Sátiro, Loreno e Luís. Aos doze anos de idade, mudou-se para Teresina, a fim de trabalhar como caixeiro de um dos irmãos e, mais tarde, guarda-livros em diversas firmas de Teresina, entre as quais a do coronel José de Araújo Costa e a de João da Cruz e Santos, futuro Barão de Uruçuí, ambos lideres do Partido Liberal. Estuda Português, Gramática, Aritmética e Escrituração Mercantil, visto o seu interesse em dedicar-se à vida comercial.
Porém, aos vinte anos de idade, reconhecendo a inaptidão para o comércio, foi continuar os estudos em São Luís, onde, entre 1878 e 1880, realizou os preparatórios para o curso jurídico. Nessa época travou contato com as obras de Büchner, que muito o influenciaram intelectualmente. Para complementar a renda iniciou a longa carreira de professor, ministrando aulas particulares.
Em princípio de 1871, vai estudar Direito no Recife, passando a morar na república dos maranhenses Benedito Leite, Urbano Santos e Viveiros de Castro, grandes entusiastas das idéias de Tobias Barreto. Logo, faz amizade com os líderes estudantis Clóvis Bevilacqua, Martins Júnior, Artur Orlando e Faelante da Câmara, passando a colaborar em diversos jornais abolicionistas e republicanos, sobretudo em Folha do Norte. Nesse período, publicou um ensaio de críticas denominado Pro-Veritate(1883), fez ensaios oratórios, estudou piano e freqüentou a vida cultural recifense. Custeava suas despesas com a pequena mesada familiar, complementada com recursos auferidos nas aulas particulares que então ministrava. Foi um estudante ativo numa época de ebulição política e social que culminou na abolição da escravatura(1888) e na proclamação da República(1889), colando grau em cinco de outubro de 1885.
Retornando a Teresina em dezembro de 1885, exerceu a advocacia e continuou suas atividades no magistério particular, lecionando Português, Inglês, Francês, Matemática e Filosofia. A convite do chefe liberal João da Cruz e Santos, futuro Barão de Uruçuí colaborou na redação d’A Imprensa, de outubro de 1885 a junho de 1887, em substituição a Clodoaldo Freitas. Afasta-se dessas atividades para assumir o cargo de Juiz Municipal do termo de Picos, hoje Colinas, no Maranhão, onde permanece até a proclamação da República, em 1889, quando regressou a Teresina.
Em março de 1890, foi nomeado Juiz Municipal de Amarante. Pouco tempo depois, assumiu o cargo de Procurador Secional da República, de onde passa a Juiz Municipal de Teresina. Nesse período, colabora nos jornais A Democracia e Gazeta do Comércio. Na primeira organização judiciária do Estado, foi nomeado Juiz de Direito da comarca de União, de onde passa, em 1892, para a comarca de Itamaraty, hoje Pedro II, e, posteriormente, foi removido para Amarante. Toda essa movimentação ocupou cinco anos de sua vida. Em 1895, assume a Chefatura de Polícia, no governo de Coriolano de Carvalho e Silva.
Todavia, incompatibilizado com esse governador, viaja para Manaus, onde permanece por dez meses, retornando a Teresina em agosto de 1896. No Amazonas, colabora nos jornais A Federação e Estado do Amazonas.
Porém, retornando ao Piauí mostra-se insatisfeito com a pacata vida de magistrado no interior, preferindo a movimentação cultural da Capital. De 1897 a 1900, permanece em disponibilidade, atuando na advocacia, na imprensa e na vida literária. Nesse último ano, consolida sua estabilidade financeira ao assumir os cargos efetivos de Procurador dos Feitos da Fazenda Pública Estadual e professor do Liceu Piauiense, em cujos exercícios permanece até à aposentadoria em 1925. Embora demitido sumariamente em 1915, em acintosa perseguição política, pouco depois consegue a reintegração.
Depois de aposentado desses cargos públicos, continuou exercendo atividades na advocacia, no jornalismo político e literário e no magistério particular. Em 1929, dava aulas particulares de Português, Francês e Inglês. Com a fundação da Faculdade de Direito do Piauí, em 1931, passou a nesta lecionar as cadeiras de Direito Administrativo e Ciência da Administração. Da atividade política, afastou-se definitivamente em 1930.
Higino Cunha participou ativamente da vida social, política e cultural do Piauí. Era um dos principais organizadores das famosas festas do trabalho, em primeiro de maio, além de muitas vezes orador oficial. Dirigia-se à classe operária por meio do jornal O Operário, que apareceu em 1906. Era considerado boêmio. Em torno de si, reunia muitos intelectuais, a exemplo de Zito e Jônathas Batista, Mário e Benjamim Batista, Celso e João Pinheiro, Antônio Chaves e outros.
Orador brilhante, conferencista primoroso, Higino Cunha empolgava multidões com sua oratória nos comícios populares, assim como os seletos auditórios nas conferências literárias. A sua pena jornalística sustentou situações e derribou governos, no dizer de Cristino Castelo Branco.
“Polemista intrépido, audaz, desassombrado, valia por metralhadoras.(...). Na tribuna das conferências, como literato; na tribuna do júri, como advogado; na praça pública, nos comícios, nas passeatas populares, como cidadão e como patriota, - a sua voz trovejou em acentos alcandorados de eloqüência. Fez época, como se costuma dizer. Escreveu livros; publicou trabalhos de fôlego; encheu as revistas e jornais com estudos de filosofia com ensaios de crítica, de história, de religião. Polígrafo: gigante da pena e da palavra” (CASTELO BRANCO, Cristino. Frases e Notas. Rio, 1957).
Publicou importantes obras, destacando-se: Pro-Veritate(1883), Asineide(1897), O Idealismo Filosófico e O Ideal Artístico(1913), Discursos Acadêmicos(1920 e 1921), O Teatro em Teresina(1923), História das Religiões no Piauí(1924), O Ensino Normal no Piauí(1926), O Assassínio do Juiz Federal(1929), A Defesa do Professor Leopoldo Cunha(1934), A Igreja Católica e a Nova Constituição da República(1934), Os Revolucionários do Sul(1936), A Revolução de 30 no Piauí(1939) e Memórias Autobiográficas(1940).
Em 31 de dezembro de 1917, participou da fundação da Academia Piauiense de Letras, tomando assento na Cadeira 07, e presidiu o sodalício no período de 1919 a 1924, em sucessão a Clodoaldo Freitas(1917 – 1919), e no período de 1929 a 1943, somando cerca de vinte anos. Também, fundou e presidiu o Instituto Histórico e Geográfico Piauiense.
Foi casado com D. Corina da Paz Cunha, com quem teve diversos filhos, entre esses o Professor e escritor Edson da Paz Cunha, também fundador da APL. Era seu genro um outro fundador da APL, Jônathas Batista, esposo de sua filha Durcila Cunha.
Faleceu na cidade de Teresina, em 16 de novembro de 1943, aos 85 anos de idade, deixando um nome honrado e um grande legado cultural.