terça-feira, 30 de setembro de 2014

BIBLIOTECA DE CAMPO MAIOR, PI


BIBLIOTECA DE CAMPO MAIOR, PI

 Jacob Fortes

A Biblioteca Municipal da cidade de Campo Maior encontra-se albergada num pardieiro localizado no cruzamento das ruas Capitão Manoel Oliveira e Santo Antonio, centro velho da cidade. O local, que nos tempos de antanho fora o tradicional palco de oferta e procura de sexo, ainda conserva visíveis traços dos cabarés e casas de tolerância que vigeram naquelas eras.  São os bares circunvizinhos demarcados não apenas pelo bulício de frequentadores que desandam sob os efeitos etílicos, mas também pelo barulho do som eletrônico, mais das vezes melodias de letras desditosas. Há, ainda, a presença de mulheres malfadadas que perambulam desventuradamente pelo local.   O cenário, nada confortante, de causar repugnância aos olhos e entristecer corações, acaba deslustrando o ânimo de quem tenciona recorrer ao acervo da biblioteca. Além de exprimir verdadeira heresia ao livro, o local não honra a comunidade: alunado, corpo docente, moçoilas, rapazolas, senhoras, anciãos, enfim, não confere honras à grandeza do município. Mas isso retrata bem o desprestígio que, progressivamente, encurrala o livro.  Durante as minhas eventuais viagens, de automóvel, sempre que possível faço uma rápida parada nas urbes de maior relevo para uma visitinha à respectiva biblioteca municipal. Via de regra, os acervos dessas bibliotecas tem a mesma marca: o descuido. Todo o acervo aquartelado e maquilado de pó denota que o povo não lê o quanto deveria; inexistem políticas (municipal, estadual e federal) para que os livros se tornem companheiros das pessoas. Quem já teve o condão de maravilhar e ofertar conhecimento apequenou-se ante o surgimento das tecnologias: sedutoras, palatáveis, que oferecem informações em tempo real, mas em linguagem minimalista e superficiais. É a tecnologia sentenciando o escambo: o conhecimento do livro vai, a informação da internet vem.

Ao consignar o fato, pesaroso, exsurge neste escriba a centelha de esperança de que aquele acervo possa ser transladado para local francamente favorável aos seus usuários. O próprio corpo docente municipal também assim há de pretender, mais que isso: exigir. Por mais que se queira relativizar a importância do livro, este será sempre reverenciado, admirado, respeitado e, portanto, digno dos melhores espaços culturais.        

domingo, 28 de setembro de 2014

Seleta Piauiense - Alcenor Candeira Filho


DIANTE DA PORTA DA VIDA MORTA

Alcenor Candeira Filho (1947)

Diante da porta
da vida morta,
devo sorrir
ou devo chorar?

Há deste lado
belas estrelas
que um dia talvez
possa alcançar.
Belas estrelas,
mas que me assombram
e fazem mal
ao meu olhar.
Por trás da porta
da vida morta,
em meio a um branco
transcendental,
o que haverá?
o que haverá?

Belas estrelas
dos meus assombros,
por gentileza
dizei-me vós:
diante da porta
da vida morta
devo sorrir
ou devo chorar?   

sábado, 27 de setembro de 2014

GHOST, a sublimação do amor


GHOST, a sublimação do amor

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
  

         Ronaldo Terra prepara-se para enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM): “O professor de redação estabeleceu que desenvolvêssemos um tema de crítica à banalização do amor, nas novelas, músicas e relações afetivas entre os jovens. Professor, dê uma mãozinha, pois ainda não me apaixonei por uma garota”.

         É, Ronaldo, você sabe muito bem utilizar suas mãozinhas para desnudar a intimidade das garotas, especialmente das safadinhas. Vocês traduzem essa relação, de “ficar”, a fórmula mágica do amor. No entanto, Ronaldo, a liturgia do amor não antecede com liberdade sexual, que deveria ser aguardada, prudentemente, para a mais tarde, depois de uma série de convivência disciplinada. Sentimento amoroso não combina com a paixão, que, frequentemente, desemboca nos versos de Carlos Drummond de Andrade: “O amor bate na porta/o amor bate na aorta/fui abrir e me constipei”.

         A agitação moderna, na tentativa estressante de conquistas profissionais e materiais, vem brutalizando relações afetivas, rejeitando trivial bom-dia, desculpem, por favor, a bênção papai e mamãe. Músicas que retratam afetos sublimes ou estimulam raro prazer são substituídas por conteúdos animalescos, sem algo de sublimação. Quer exemplo de música saudável? Ligue o som da trilha sonora do filme Ghost, do outro lado da vida, 1990, estrondoso sucesso até hoje. Observe a tradução da letra e se arrepie, umedeça os olhos, como eu: “Oh meu amor, minha querida!/Eu estou faminto pelo seu toque/O tempo passa devagar, tão devagar/E ao mesmo tempo pode fazer tanta coisa/Será que você ainda é minha?/Eu preciso de seu amor/Que Deus mande logo seu amor para mim/Os rios solitários fluem para o mar/ Para o mar, para os braços abertos para o mar/Ao lado dos rios solitários, espere por mim/Estarei voltando para casa/Espere por mim, oh meu amor, minha querida/Estou faminto de seu toque/Por um longo e solitário tempo/O tempo passa tão devagar/E ao mesmo tempo fazer tanta coisa!/Será que você ainda é minha?/Eu preciso de seu amor/Que Deus mande logo o seu amor para mim.”

         O ser humano carece de sonhos que estimulem vértices de felicidade, somente encontrada no afeto, especialmente familiar, na generosidade e exercício das virtudes. No momento em que se rompem laços fraternos e sentimentos amorosos, a angústia e pesadelos rompem as fronteiras da paz interior. Não há cura, senão no exercício do afeto. O espírito desce ao inferno quando busca o sonho sublime nas drogas.

         Louvável a ideia do professor de redação ao estimular os estudantes a elaborarem um texto que aborde o sentimento amoroso da atual juventude. Bom começo para se estender aos círculos de debate, em programas de rádio, na escolha de repertório musical mais decente, em vez das canções insossas, vazias de nobres sentimentos. Nas instituições de recuperação de viciados, inclusive nos presídios, podem-se conseguir ótimos resultados de cura, utilizando canções que fecundem o espírito de sentimentos afetivos. Em casa, os pais tentassem estabelecer vínculos com os filhos, ouvindo e interpretando músicas que toquem fundo as fibras de saudáveis sentimentos. Infelizmente, o tom maior é a agressão, que não cola como tema de uma produção de texto. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

EXORTAÇÃO À JUSTIÇA E À BONDADE


EXORTAÇÃO À JUSTIÇA E À BONDADE

                                 Elmar Carvalho

No livro “O Jardim das Rosas”, de Saadi, encontra-se a emblemática passagem em que um pastor teria pedido ao pai lhe ensinasse a bondade, ao que este lhe teria respondido: “Sê bom, mas que a tua mansidão não faça o lobo tornar-se audacioso.” De igual modo, diria que nós, os juízes, devemos também ser bons, mas com as devidas cautelas, ainda mais agora em que os ogros e elfos, desconformes e canhestros, andam, afoitamente,  com os dedos tortuosos e sujos, apontando pretensas mazelas da Justiça, para depois, a exemplo do que já faziam dantes, incorrerem em maiores e mais danosos pecados.
Devemos sempre ter em mente que aqueles que nos procuram para solução de conflitos, via de regra, já tentaram por vários outros meios, mais rápidos e econômicos, a sua resolução, e que, quando batem à porta da Justiça, batem como sendo a última porta da esperança, e que por isso mesmo não os podemos decepcionar, porquanto só aqueles que se defrontam com o limbo do inferno dantesco são despojados de toda esperança.
A balança da Justiça há de restar sempre soerguida, limpa e altaneira, e devidamente ajustada pelo prumo e pelo esquadro, para que os pratos se mantenham no equilíbrio da imparcialidade.
Quando tomei posse de meu cargo de juiz junto ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, em solenidade singela, contudo para mim memorável, disse que uma dúvida me assaltava naquela ocasião: sobre o que seria mais importante, se a justiça, se a bondade. Mas eu próprio resolvi o aparente paradoxo da equação, ao dizer que quem era bom era justo, e quem era justo necessariamente teria que ser bom.
Todavia, hoje me assalta novamente a mesma dúvida, ao lembrar-me da história de Judas, que fustigado pela sua consciência implacável, talvez o último resquício da centelha divina que ainda lhe restasse, ao tentar ser justo, sendo juiz e algoz de si próprio, expiando sua culpa com o enforcamento, deixou de ser bom para consigo, perdoando-se a si mesmo e buscando o perdão do Mestre traído, mediante uma vida de bondade e de arrependimento.
Porém, no desespero e no orgulho, preferiu optar por uma justiça inexorável, sem bondade e sem perdão para consigo mesmo, o que me faz novamente enxergar que a justiça e a bondade não se excluem, mas, ao contrário, se completam e se sublimam. E isto até o nosso ordenamento jurídico, a jurisprudência e a doutrina entendem, quando assinalam o princípio da bagatela e o estado de necessidade, que atenuam e de certa forma justificam alguns pequenos delitos, cometidos em certas circunstâncias.
A consciência que está em todos nós, e que estava em Judas, no momento do salto e do laço fatal, é um semáforo divino, que nos alerta sobre os perigos e armadilhas do pecado, mas que, semelhante a um sinal de trânsito, não nos impede de avançarmos indevidamente e entrarmos na delinqüência e na prática de ações reprováveis. Aliás, dizem que, quando a consciência é freqüentemente desrespeitada e violada, termina por se tornar insensível, e leva o homem a sua degradação total e sem retorno, em que ele mergulha nas profundezas abissais dos pecados hediondos, progressivos e sem freios, numa espiral ascendente e em expansão.
Dizia o mestre Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, que os pecados são virtudes enlouquecidas. Isto porque o que se chama pecado, quando sentido e praticado de forma sutil e diminuta, é virtude, tanto que a soberba, a gula, a luxúria, a inveja são extrapolações do amor próprio, do apetite, do sexo e da admiração. Há quem diga que o anjo decaído amava tanto e tanto admirava o Onipotente que ousou desejar ser um seu igual. Assim, devemos estar em perpétua vigilância para que as nossas virtudes não se transformem em vícios, pela incúria e pelo superdimensionamento.
O grande estadista do Império, Nabuco de Araújo, pai do não menos ilustre Joaquim Nabuco, dizia que preferia um juiz desonesto a um juiz destituído de inteligência, porque, na sua avaliação, um magistrado corrupto só errava nas causas em que tivesse interesse, ao passo que o honesto, mas desprovido de inteligência, cometeria muitos erros, em face do seu despreparo. Por outro lado, em sentido oposto, conta-se que Anatole France, ao proferir notável conferência sobre as qualidades que deveriam ornar um julgador, não se referiu à honestidade. Indagado sobre a aparente omissão, respondeu que não falava ali senão a magistrados honestos, porque um juiz corrupto não era efetivamente um juiz, mas alguém que deveria ser tratado em matéria penal.
Compartilho desta última opinião, porquanto entendo que um julgador corrupto terminará, como uma metástase ou como uma infecção generalizada, por macular o próprio conceito de Justiça, e por levá-lo a ter cada vez mais interesses escusos nos processos, por força da ganância e da elasticidade degenerativa de sua degradação, ao passo que um juiz probo, embora não quinhoado com os fulgores de uma inteligência portentosa, através de seu esforço e zelo na persecução do justo e da verdade real, alcançará dar soluções corretas aos litígios, uma vez que não faz parte de sua índole tirar a razão de quem tem para dar a quem não a tem. De qualquer modo, tenho plena convicção de que os juízes iníquos são uma pequena minoria, que jamais há de empanar o brilho e a glória do Poder Judiciário.
Sou um otimista. Acredito que no filme da luta entre o bem e o mal, os mocinhos vencerão os bandidos, porque as trevas não podem prevalecer sobre a luz. Onde a luz chega, as trevas, em fuga, desaparecem. O bem sempre dominará o mal, pois a marcha da humanidade é para a frente e para o alto, e o seu desiderato maior é o bom, o bem e o belo. Por isso existe o amor, o mais nobre e sublime dos sentimentos.
Onde existe o amor, existem a bondade, a caridade e a justiça, e essas virtudes interagem entre si e se retroalimentam, e fazem surgir o resplendor e a glória de um círculo virtuoso. Inclusive, o culto e inteligentíssimo São Paulo dizia que, ainda que tivesse os mais importantes dons e falasse a língua dos anjos, sem o amor nada seria. Embora haja controvérsia a este respeito, tenho para mim que o amor deve ser colocado acima da caridade, pois quem tem realmente amor tem disposição para a prática das virtudes, inclusive a caridade, ao passo que esta, desprovida do excelso sentimento, pode ser apenas hipocrisia e demagogia, ou até mesmo vão comércio, na esperança de uma futura e improvável recompensa divina.
Exorto os colegas juízes para que prossigamos com fé, esperança e coragem em nossa luta para que a Justiça humana seja realmente justa, porque um dia, talvez no dia do Juízo Final, haveremos de nos defrontar com a balança do Supremo Julgador, ao qual nos teremos de submeter. E que, nessa ocasião, a palavra tequel, entrevista pelo rei Baltazar, em seu opíparo banquete, inserta na frase “mene, mene, tequel, ufarsim” (Daniel, 5:25-27), cujo enigma foi revelado pelo profeta Daniel, em sua tradução para “Pesado foste na balança, e foste achado em falta”, não seja por nós avistada.

Sim, porque ao invés desta palavra, embebida de profunda iniqüidade, queremos que, ao passarmos pela balança incorruptível e exata do Criador, não sejamos achados em falta, e que a sua espada flamejante e gloriosa não caia sobre a nossa cabeça.    

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Que é isso, Leonardo Boff?!


Que é isso, Leonardo Boff?!

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Conhecido, estudado e discutido nos centros de cultura, dentro e fora do Brasil, o ex-frade franciscano, Leonardo Boff, brilhante professor universitário, escritor, expoente da Teologia da Libertação, célebre pelos temas polêmicos da missão humana na Terra.

Para Boff, “os pobres gritam porque são oprimidos. A teologia da libertação nasceu tentando fazer justiça ao grito deles. Mas não apenas os pobres e oprimidos gritam. Gritam as florestas, as águas, os animais, grita a natureza e geme a Terra. Todos estão submetidos a um processo sistemático de opressão e devastação. Não apenas os pobres, mas todos, reféns de um paradigma que propôs explorar de forma ilimitada todos os recursos e serviços da Terra. É o paradigma da vontade de poder como dominação. Daí sermos todos oprimidos e necessitados de libertação”.

Leonardo Boff, afeiçoado ao PT, não perdoa a presidenciável Marina Silva, filiada ao PSB e segue outros paradigmas que não os do antigo partido. Logo ele, fervoroso ambientalista, especialmente da floresta amazônica. Aliás, petista detesta ex-petista; prefere abraçar a escória imunda, condenada no passado, a acatar críticas de ex-membro do PT.

Em 2010, Boff sonhava com uma representante dos povos da floresta, dos caboclos, dos ribeirinhos, dos indígenas, dos peões vivendo em situação análoga à escravidão, chegar a presidente do Brasil. Hoje. Em entrevista ao site Viomundo, Boff classifica a ex-petista, ex-católica, agora membro da igreja Assembleia de Deus, de fundamentalista, piegas, retrógrada em pleno século XXI: “O que Marina pratica é o fundamentalismo. Este é uma patologia de muitas religiões, inclusive de grupos católicos. O fundamentalismo não é uma doutrina. É uma maneira de entender a doutrina: única verdadeira e as demais estão erradas e como tais não têm
direito nenhum.”

Marina Silva, 56 anos, magérrima, analfabeta até aos 16, semblante debilitado, resultado de cinco malárias, professora, psicopedagoga, ambientalista, foi vereadora mais votada em Rio Branco, também como deputada estadual; senadora, depois reeleita, ministra do Meio Ambiente nos dois mandatos de Lula, afastando-se do cargo e do PT, por discordar dos rumos negativos do partido. Premiada na ONU e Suécia por sua defesa da floresta amazônica. Conduta ética ilibada, mas bombardeada pelos adversários, devido à aura de uma mulher capaz de dar nova cara e esperança à nação envolta pelo crime organizado, tráfico de drogas, violência e lideranças corruptas.

Líderes do bem, quase sempre frágeis, ressurgem das cinzas da pobreza, do campo hostil e anonimato, arrebentam a História. Ghândi, esquelético e mal vestido, líder pacifista, resgatou a Índia do imperialismo britânico; Madre Teresa de Calcutá, franzina e alquebrada, tesouro de gratidão às comunidades excluídas; Papa João XXIII, modesto camponês e pouco letrado, empurrou a Igreja para mudanças radicais, a partir do Concílio Vaticano II, convocado pelo mesmo pontífice; Papa Francisco, abnegado jesuíta, ideais franciscanos, avesso a luxo e privilégios do cargo; Francisco de Assis fundou uma ordem dentro de velha pocilga. Na Bíblia, Moisés, educado na nobreza faraônica, resgatou seu povo hebreu da escravidão para a Terra Prometida; Davi, pastor de ovelhas, último dos irmãos, ungiu-se rei, venceu batalhas, institucionalizou a nação de Israel; Jesus Cristo, criado na miserável Nazaré: “De Nazaré pode surgir tamanho profeta?!” zombavam adversários. É que as coisas do alto escandalizam a sociedade, quando se avaliam líderes pela pose e pelas posses, especialmente as imundas. Leonardo Boff esqueceu-se de que Deus pode "transformar pedras em filhos de Abraão” – proclamava João Batista, nas estepes e margens do Jordão.      

domingo, 21 de setembro de 2014

Seleta Piauiense - J. Ribamar Matos


Ressurreição

J. Ribamar Matos (1946 - 1974)

Reza ao teu morto uma oração constante:
deixa cair do triste olhar vazio,
do teu, então, já pálido semblante
o pranto que te torna o olhar sombrio...

Vai derramar em minha sepultura
chuva eterna de lágrima sentida
de tua alma, diluída na amargura;
que, se molhar a minha face ungida,

então me erguendo lá da cova escura,
eu chamarei por ti, mulher querida!
de tua alma, diluída na amargura;

que, se molhar a minha face ungida,
então me erguendo lá da cova escura,
eu chamarei por ti, mulher querida!      

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Eleições brasileiras: uma briga de foice


Eleições brasileiras: uma briga de foice

Cunha e Silva Filho

                       Até pensei que as eleições presidenciais  seriam  realizadas em clima de respeito mútuo. Não é o que está  acontecendo  para vergonha de todos nós  eleitores.
                       Depois do infausto acidente aéreo de Eduardo Campos, duas  competidoras  saíram a campo (sem trocadilho), uma  atacando, a petista  Dilma, a outra, Marina,  se defendendo com o discurso  da prudência.  Marina vem das lutas  ambientais,  de voz  mansa,  baixa,  pouca  adequada  ao timbre  de vozes  de  candidatos que  almejam  vencer  no grito. Marina  é tranquila, não provoca,  não  alardeia,  lembra um pouco  as mulheres   indianas, mas, no corpo frágil, como  Gandhi,   parece ser dotada de   uma determinação  de querer  vencer,  de enfrentar  os desafios  enormes  do país. O PT não lhe dá trégua,  indiretamente  a ataca quando  associa  o nome do  falecido   Eduardo Campos  em outro   escândalo  relacionado   a benefícios fraudulentos   envolvendo  governadores,  deputados e senadores  de vários  partidos,  inclusive petistas. Mal  foram  prestadas homenagens a um  político  em ascensão, morto  precocemente, e já tem seu  nome  conspurcado  pela fúria  dos abutres  politiqueiros. A família de Campos deveria,  agora,   vir a público defendê-lo e exigir retratação. Afinal, um morto não pode se defender, o que torna mais  covarde  a suposta calúnia.
                        Dilma, por sua vez,  sempre  com suas  declarações  evasivas, diz que  as investigações  devem ser  feitas  e os implicados   punidos caso sejam   considerados   responsáveis  por seus delitos. É fácil perceber que  o PT vai jogar todos as suas cartas, todo o seu veneno  a fim de não perder  as regalias  do poder  imperial de que desfruta desde  a primeira posse do Lula.
Aécio Neves, em segundo  plano diante das duas  candidatas,  procura  tirar seus dividendos sem grandes  ataques,  sem ferocidades, o que lhe poderá  render alguns votos a mais. Porém, a polarização  já está   lançada. Dilma não quer  arredar do poder. Ninguém, segundo suas convicções,  lhe poderá  tascar a faixa presidencial. Ela ainda quer  andar, por mais  quatro anos,  de Rolls-Royce nas paradas  de Sete de Setembro,  com toda a sua coorte  e  áulicos  palacianos. Marina é a sua preocupação, a “pedra no meio do caminho.”  É preciso  derrubar  a frágil Marina, mulher  sem ostentação de vaidades femininas,   de gestos  moderados, de voz pausada, de olhar profundo como  se estivesse  sondando todos os  possíveis   golpes  baixos  dos adversários. Lembra mesmo  o tipo  comum de vestir-se de uma evangélica, de uma  mulher   simples,    sem physique de rôle. Nem quando foi  ministra  ou senadora  dava a impressão   exterior  de que   exercia   um cargo importante..
O apresentador Boris Casoy, em mesa redonda, conversando com  jornalistas,   pôs em dúvida a capacidade de Marna   para ser Presidente  da República. Não atinei  com  a perplexidade  dele porque a Dilma  nunca foi   prefeita, governadora, i.e.,  não tinha experiência de cargos  executivos e, no entanto,   aí está como  Presidente. O pior foi  o Lula, sem competência nem  escolaridade    para  dirigir  o mais  alto  cargo da Nação.Só tinha a seu favor a habilidade de  armar seus discursos  populistas, sua lábia, sua malandragem  política, seu messianismo,  sua fácil  e  sedutora  comunicação com   as massas. Neste talento é quase imbatível. Conseguiu  conquistar  o gosto tanto do  povão quanto  dos sociólogos  europeus ou americanos, que o admiram e julgam que seja    um político da esquerda, quando  sabemos que,hoje,  sua família  já se elitizou e ele próprio,  já  mudou  muito  seu aspecto   físico, sua indumentária., que não é mais a de um  ex-torneiro mecânico ou sindicalista.
Na verdade,  um Presidente da República, para governar  bem, tem que escolher  pessoas  competentes e íntegras para   serem  seus ministros. No entanto,  o PT, durante  toda o seus  período  no poder,  não  escolheu  as pessoas  corretas  para os cargos  mais importantes. A nomeação por razões politiqueiras e não pelo bom currículo  do indicado. Os cargos são, por assim dizer, loteados, mercadejados,    pelos diversos  partidos  que  constituem a chamada base política do governo, e é aí que  o desempenho  da governança se perde  no submundo   dos conchavos,   dos conluios,   dos bastidores   escusos   do balcão  sujo e fétido  das decisões  a serem tomadas ao arrepio  da  autenticidade   dos princípios democráticos, nas esferas  dos poderes  executivo e  legislativo,  assim como no Congresso  Nacional e até mesmo  respingando no judiciário.
O Brasil ainda está  longe de atingir  um nível   de excelência  na sua  forma   de realizar  eleições. Persistem os mesmo vícios atávicos, a propaganda  política  na televisão  e fora dela  ainda  se cerca  de  um  ritualística  que mais   se aproxima  da pantomima,  de um tosco  espetáculo circense,  de saltimbancos, prestidigitadores e ilusionistas  de teatro de revista de segunda ou terceira categoria. É uma ópera bufa, uma  cena burlesca, uns cinquenta minutos dignos de uma  peça  satírica vicentina. Esse palco de momices, de figuras  caricatas,   grotescas, é um banho, em geral,  de imbecilidades   empurradas goela abaixo de quem  assiste  a esse teatro  de comédia.    
Essa interrupção obrigatória foi  com justiça   chamada pelo brasileiros  de “programa  humorísticos.” Não sei por que cargas d’água ainda  o  Tribunal    Eleitoral  mantém   essa configuração rabaelaisiana.  A continuar com está,  o país  nada   renovou  nas formas de   divulgar  as ideias, em elevado nível,  de seriedade  e de  discussão  dos grandes  problemas   brasileiros. 
Com a balbúrdia de  coligações   de partidos  de  colorações as mais díspares, ou melhor, disparatadas,  não é possível  aperfeiçoar  nossa democracia  em bases de  elevação moral.Quando um país como o  Brasil  elege  oportunistas de todos  os  segmentos   da sociedade que se candidatam  para auferir  vantagens  e mordomias, quando  não   envolvimento  em   maracutaias, mensalões  e negociatas   com   criminosos   danos   ao  Erário Público, difícil se  torna  ainda ter esperança  numa democracia   de  verdade  entre nós.         

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

AS BELAS SERENATAS DO SÁBIO CASTOR


AS BELAS SERENATAS DO SÁBIO CASTOR

Luís Alberto Soares (Bebeto)

           João Castor da Silveira, popular Castor, amarantino nato, um dos maiores nomes de Amarante. Nunca se exibiu por ser grande sábio. Sempre levou sua vida na maior simplicidade. Com ele não tem essa de “frescura”. É amigo de todos e gosta de se apegar com pessoas humildes. Dr. Castor se formou em matemática, física, geologia. Possui outros importantes cursos. Portador de uma inteligência fora do comum. Tem ainda, muito conhecimento da língua portuguesa, inglesa, alemã, espanhola, italiana, latim e tupi-guarani. Vale esclarecer que Dr. Castor trabalhou vários anos na PETROBRÁS (Rio de Janeiro e Bahia), na PAULI-PETRO (São Paulo) e na COMDEPI (Piauí), onde se aposentou. Dr. Castor nunca esqueceu suas raízes, sempre esteve em Amarante. Gosta de tocar violão e de cantar. Sua voz já encantou muita gente em noites de serenatas. Proprietário do grupo musical “Os Vibrantes”, composto pelos músicos: Julinho, Pedro Dias (falecido). Hoje, Dr. Castor se encontra com saúde fragilizada na residência de sua mana, a popular Dorita (Teresina).    

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Engajamento ou alienação política?


Engajamento ou alienação política?

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Há tempos, observo, desencantado, o comportamento alienado de expressiva parcela dos jovens, inclusive de universitários. A galera, ou patota, como se dizia no passado, não “se liga nos 30 segundos” para exibir habilidades políticas ou conceitos quaisquer de filosofia política. O que não é bom. A moçada parece contentar-se somente com a conquista do diploma superior, para enfrentar concursos públicos, acomodar-se ao emprego, arranjar-se financeiramente. Só. Associada aos estudos, encolhe-se a uma pilha de cds com músicas de péssima qualidade, para embalar momentos de lazer.

Engajado ou alienado? Dois verbetes exaustivamente utilizados, no passado, em círculos universitários, nos sermões, nos discursos inflamados da esquerda política contra o regime militar. Engajados exibiam a marca do protesto panfletário, dos “aparelhos” clandestinos de guerrilha urbana, reuniões secretas, decorebas de bordões fabricados na Rússia e Cuba para implantação do regime comunista no Brasil. Contestar significava inteligência. Exaltavam-se músicos ativistas do Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, que seduziam estudantes engajados às letras primorosas e ricas de metáforas ousadas de contestação, sob a mira das baionetas militares. As inteligências detestavam Roberto Carlos e a turma do iê, iê, iê e Jovem Guarda. Só tratavam de temas românticos, portanto do time dos alienados. Engajados enchiam ginásios com canções de protesto. Alienados seduziam o povão, pouco interessado nos temas nacionais.

Engajados sustentavam temas polêmicos contra o sistema de desigualdades sociais. Alienados, todos aqueles que se afastavam dos compromissos sociais e se encastelavam nos benefícios pessoais. Os dois termos, que serviram de contraponto entre o capitalismo e o socialismo, caíram de moda, depois da queda do Muro de Berlim.

         No Brasil, não se fala mais em engajamento ou alienação política. Todavia alguns extremistas da surrada esquerda bolchevista cubana continuam repetindo velhos e surrados bordões de antanho, mas sem respaldo popular.

O atual momento político do Brasil está mais para interesses pessoais de enriquecimento ilícito do que pela construção social. Talvez se explique a alienação e desinteresse dos jovens pelas questões nacionais. Basta curta conversa com estudantes de nível médio e superior: “Como você vê a atual elite política brasileira”. Respostas monossilábicas: “esculhambação!” Ou mais incisiva: “Bando de ladrões!”

Os jovens brasileiros de hoje são alienados, não possuem senso crítico, e setores da imprensa também alienantes, bem como o processo educacional atual. Poucos programas de televisão oferecem educação para jovens, exceto em horários pouco habituais ao interesse estudantil. Os jovens não acompanham e não gostam de política. Quando têm interesse político, tendem a acompanhar a posição de seus pais, conservadora.

Os jovens brasileiros precisam tirar lições políticas da juventude argentina, que gosta mais de ler e de acompanhar as questões de interesse nacional, apartidários, e, melhor, sem quebra-quebra. Sonho ver jovens politizados e patriotas. Talvez esta geração me cure desse sentimento desencantado.       

domingo, 14 de setembro de 2014

MÍSTICA II


MÍSTICA

Elmar Carvalho

           II

Meu anjo da guarda
em sete anjos transmudado
minha guarda de honra revistava
e com sua espada de fogo
ou raio laser
franqueava-me a entrada
da gruta dos leões
enquanto Daniel dormia
à minha sombra.        

sábado, 13 de setembro de 2014

A vida é breve, a leitura é longa


A vida é breve, a leitura é longa

Cunha e Silva Filho

 A respeito desta  outra edição Flip, realizada  em Parati, Rio de Janeiro,  li que alguns escritores que  delas têm participado  andam se queixando e com razão de que em geral  o que mais   está ficando evidente  é que o público  tem   dado mais  atenção,  não  à leitura   dos  livros  que estão sendo  lançados  por ocasião  do Festival Cultural, mas  ao espetáculo  em si  rodeando  as figuras de autores,  suas performances de bom  expositor  ou sua  facilidade de   seduzir  com suas palestras  ou  falas  o auditório, pois este está mais   estimulado a  ouvir  o que  dizem sobre  literatura,  sobre  os processos  criativos de escrever  um romance ou  um livro  de poesia  do que  comprar  e  desejar    ler  mesmo  as obras  ali  exibidas  de autores  nacionais e   estrangeiros.

Dois deles, pelo menos,  sinalizaram com essa  mesma   queixa dando a entender que estão cansados de desempenhar mais  o papel  de  expositores  ou  de exibir seus dotes  de  captar a  atenção do público do que de  levarem    este  à efetiva  leitura dos livros comentados.Em outras  palavras,  o que tais autores  deixam escapar é que falar sobre a sua obra  ou sua   técnica  narrativa  já está  se tornando  cansativo. Eu aproveito  estas dicas  para  afirmar  que os autores  que  pensam assim   estão  com razão .

 E mais:  não acho que  relatar   as  próprias     formas  de compor  uma  obra de ficção ou de  fazer  poemas possa  ser tão útil  assim  a qualquer  leitor, inclusive  até   sou  levado a  pensar  que os próprios escritores  talvez, em muitos   casos,  não  gostem  de confessar  em público  sobre seus  “processos de criação   ficcional.”   Há certos aspectos   da criação  literária  que o autor   guarda para si  mesmo, como  uma  espécie  de segredo  íntimo,   inconfessável,   que não conviria   revelar. No entanto, da parte de um determinado público constitui sempre uma grande curiosidade  saber  como  se origina   mesmo  uma  obra  literária, como se  desejasse  com isso    aproveitar-se   das lições dos  criadores   algumas centelhas de    vias de acesso  ao  por vezes  denominado   “mistério” da   criação   ou do imaginário   que  serviriam   a potenciais  candidatos  a escritores.

Caberia lembrar  aqui  a definição de “poeta” nos  já famosos   versos   de Fernando  Pessoa de  que  o  poeta é um ‘fingidor,”  que se estenderia  não só à poesia  mas  também a todos os gêneros  literários que   trabalham  com  a arte da palavra   na sua  expressão  estético-criativa.

Do que concluí dos desabafos  dos escritores – e vale destacar – todos  eles  das novas gerações  foi o seguinte:  todos  indistintamente   aspirar a ver as pessoas  lendo as obras  e não  se preocupando  apenas com   o lado  edulcorado  ou  o charme  das apresentações   de autores  que  enfrentam  um público ávido   da, diga-se assim,  da espetacularidade   do evento  literário   e não  da necessidade de  conhecer   o que  os novos livros   exibidos  nas feiras  contêm  de  conhecimento  da vida e dos homens, i.e.,  das questões colocadas para discussão  no  que concerne aos  desafios do mundo social, da História da humanidade, das condições  de vida de um povo, dos seus anseios  e dificuldades,   vistos no seu espaço  regional  ou universal, não importa.

Ler as obras me parece  ser  o nó  górdio das preocupações dos autores.  Fazer  as pessoas lerem  o que escrevem  , eis  , a meu ver,   toda a inquietação   desses autores. Alguns deles  chegam mesmo   a pensar  em dar  algum  tempo  a tais eventos  a fim de  que  possam,   por assim dizer,   afastar-se um pouco  dessa  forma  superficial  de  estar sempre   disponível  a fazer  o papel  de celebridade, de justificar  sua condição de autor,  de  revelar  sua  fórmula  individual  de   produzir obras. Aquela antiga “aura” que  distinguia  as obras  literárias  ou  de outra  natureza artística, que se  desfez  na era da “reprodutibilidade técnica"  de que  fala o crítico e filósofo alemão Walter  Benjamin (1892-1940), já atingiu  seu  ponto mais   alto  de exaustão com todas as consequências   boas ou más.

Não é  que esteja  advogando  a volta à torre de marfim de tempos  envelhecidos e inatuais.

Contudo  um pouco de reclusão  voluntária  e saudável  com  o  objetivo de  repensar  novas  investidas no campo da  criação literária, seja  em  experiências   inovadoras de construção   ficcional,  poética ou  dramatúrgica, seja no adensamento  de novos  temas a serem  explorados, faz-se  necessária  e imperiosa sob pena de  se transformar  a  figura do escritor  em mero  “entertainer” de auditórios  aficionados  do fetiche da compra ou por vezes da  simples   frivolidade como forma de derivativo socialesco sem  compromisso  com o  efetivo   ato de abrir uma  livro comprado  e  fruir  o prazer  democrático  proveniente  de sua leitura como   insuperável forma  de  conhecimento, de formação  crítica  e aperfeiçoamento  cultural.   


Se esses novos autores  andam assim pensando   é porque   a experiência   que  os festivais tem lhes  ensinado já deu demonstração de que  algo de  inovador  deve ser  feito  para que   o verdadeiro   compromisso   dos escritores, que é fazer  aumentar  o número  de leitores e assim  dinamizar o processo  de leitura  como  hábito a ser adquirido  o mais cedo  possível  e mantido ao longo da  vida  de cada um. Se objetivos   desta  natureza  forem  alcançados, ganharão os autores  profissionais, ganharão  os editores e os livreiros, e o livro, mesmo tendo  perdido  sua  “aura,” continuará  exercendo a sua função   precípua: a de fazer  circular  o conhecimento não apenas no país  mas também  ganhando  o mercado  exterior, tornando a . literatura  brasileira mais  conhecida e, quem sabe,  mais  apreciada em âmbito mundial.   

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Pastores evangélicos abraçam Roma


Pastores evangélicos abraçam Roma

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

O protestantismo ultrapassa 20 mil divisões no mundo. Quantas? 20 mil. Uma simples divergência teológica entre pastores pode eclodir nova igreja. Acrescentem-se ainda motivos de ambições pessoais, inclusive financeiras, cisma atrás de outro.

Igrejas, especialmente as mais antigas, muito contribuem para a formação cristã, especialmente dos jovens. Entretanto, nos últimos tempos, fundam-se templos até em fundos de armazém; tempos depois, rompem fronteiras, atingem continentes, pregam multiplicação dos pães e peixes, milagres fantásticos de duvidosa credibilidade e conveniência divina.

Neste cenário de tantos donos de igrejas, brilhante pastor americano, Scott Hahn, começou a questionar os verdadeiros fundamentos bíblicos para tanta confusão e interpretações. Observou que a Igreja Católica, apesar dos deslizes cometidos através dos séculos, continua unida, sob a batuta de um chefe cognominado Papa, bem como o clero, que não são donos de nada.

Pastor Scott, nasceu em 1965, ex-membro da Igreja Presbiteriana, apaixonado pelos estudos bíblicos, desde jovem, letrado, professor universitário, vários livros publicados; o mais recente, TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA. Catedrático, Direito e Economia, PHD em Teologia Bíblica. Não só se dedicava a interpretar as Escrituras, segundo a teologia protestante, mas pesquisava doutores da Igreja Católica, como Tomás de Aquino, Santo Agostinho e Santos Padres dos primeiros séculos do cristianismo, além das encíclicas papais. Aprofundou-se nos temas referentes à ALIANÇA de Deus com os homens, a partir da Criação, que se estendeu pelos patriarcas, completando-se com Sagrada Família, a tarefa da Virgem Maria, as pregações de Jesus Cristo, a constituição de sua Igreja e exigindo união, “um só rebanho e um só pastor”, a quem prometeu assistir até o fim dos tempos, acompanhada pelo Espírito Santo. A família, símbolo da ALIANÇA. O Mestre, na última Ceia, consagrou o pão e vinho, elementos essenciais e saudáveis na cultura humana: “Isto é o meu corpo... o meu sangue da Nova Aliança... Fazei isto em memória de mim”. Além desse tema, Scott centrou-se em Maria e na exagerada devoção dos católicos, enquanto protestantes a eliminam do plano da salvação. Sua esposa Kimberly Hahn, evangélica radical, quase se divorcia do marido, por turbulências religiosas. Scott batizou-se no catolicismo, depois de cinco anos de reflexões e discussões, em casa e no convívio presbiteriano. Perdeu empregos nos centro educacionais evangélicos, demorou o reconhecimento no meio católico. Sua decisão, depois a da esposa, custou-lhes isolamento e crise financeira.

Scott recebeu convite do Papa Bento XVI e de dezenas de bispos para lecionar em centros universitários em diversos estados americanos. Atraiu mais de cinquenta pastores para o catolicismo. No livro, TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA, o casal convertido narra todo o processo da transformação. Escrevem e ministram palestras, mundo afora, sobre família, oração, liturgia, Bíblia, Nossa Senhora, sacramentos. Cá entre nós, até eu me converti a algumas ideias desse notável ex-pastor.             

sábado, 6 de setembro de 2014

MUNDO LOUCO


MUNDO LOUCO

Luís Alberto Soares (Bebeto)

O mundo está louco atingindo vários segmentos da sociedade. Em Amarante, o dinheiro é a causa principal desta ruína. A discórdia, o egoísmo, a ganância pela cifra monetária transtornam aqueles que gostam de viver no topo da mordomia. Eles não olham a quem, vão muito além para realizarem seus desejos. Em nosso meio, a esperteza, os artifícios são metas conhecidas que, infelizmente, os carentes de consciência, vitimados das fúrias doentias daqueles com muita ânsia do poder monetário.

Tudo por dinheiro – prática, que na maioria dos casos, faz sufocar corações dos que têm alma e causa atropelamento que deixam feridas para sempre. Atos ilícitos e covardes – frutos da obsessão compulsiva. A ira dos velhos fascinados de Amarante por “querer mais”, rompem barreiras da justiça para se darem bem no uso da ignorância humana. Tendo como maior exemplo, a cobiça desenfreada pelo poder público onde o dinheiro é o alvo principal para seus benefícios.

Esta epidemia desvairada não acabará nunca, mas não faz calar os honestos desta imundice que abala todos de espírito do bem – batalhadores dignos para uma vida melhor. Infelizmente moramos num país da corrupção e da impunidade. Quem viver verá mais tragédias praticadas pelos velhos exclusivistas de Amarante, gananciosos pelo poder público, para fortalecerem mais ainda suas famílias.        

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CARTA-PREFÁCIO



CARTA-PREFÁCIO

 Elmar Carvalho

              Prezado Gen. João Evangelista:

Estive em sua bucólica e simpática Piracuruca, de muita glória e tradição, hospedado nas proximidades da velha estação ferroviária, onde os trens não mais passam, onde só passam os longos comboios de saudade e solidão.

Acordei cedo e resolvi olhar a linha férrea. Era uma manhã de densas névoas. Os frondosos oitis se esvaíam, embranquiçados, no meio das brumas, como em certas pinturas impressionistas. Ao longe, na curva, a estrada férrea se dissolvia na neblina, despertando a imaginação para longas viagens no tempo e no espaço, feitas de pura emoção. O bairro sossegado mais parecia uma aldeia, em que só faltavam os repiques saudosos de um sino e o canto vibrante e melancólico de um galo, ambos anunciando e saudando o alvorecer.

De longe eu contemplava a pequena estação, de longa história, pois uma inscrição em suas paredes assinalava a sua construção como sendo de 1922. E eu lamentava que ao invés do progresso, com locomotivas mais ágeis e confortáveis, a velha ferrovia estivesse desativada, em completo abandono e desperdício.

O frio leve e gostoso dessa madrugada de muito sentimento e quietude era por vezes avivado pela carícia suave de uma quase imperceptível brisa, que perpassava como um leve toque sobrenatural, em que a gente se sente envolvido pela paz e proteção do Onipotente, em verdadeira sensação de êxtase e beatitude.
E como não poderia deixar de ser, lembrei-me do amigo, um dos mais ilustres e dedicados filhos de Piracuruca, sempre fidalgo nos gestos e no trato, e sempre em prontidão, na defesa dos interesses maiores da pátria, do Piauí e de sua cidade natal. É que a sua condição de militar, e de militar herói da guerra contra o nazi-fascismo, nunca lhe impediu de ser um perfeito cavalheiro e cidadão sensível e preocupado com a justiça social, com os desmandos administrativos, com a sorte dos miseráveis e com os valores artísticos e culturais de seu Estado natal.

O Sr. tem, com muita propriedade e argúcia, analisado em seus artigos e crônicas as mazelas que afligem o povo brasileiro, sempre com um elevado senso de justiça, e invariavelmente apontando sugestões e alternativas.

Embora não seja propriamente um crítico literário, em sentido estrito, todavia pela sua capacidade de análise e observação, embasada em larga cultura humanística e em profunda sensibilidade e empatia para com a arte literária, tem produzido comentários críticos com muita propriedade e pertinência, e desvelado ângulos e aspectos que os afoitos, apressados e superficiais nunca vislumbrariam.

Quando estive em sua Piracuruca, por força de minha nova função na magistratura, como forma de homenageá-lo, e talvez movido pelos incentivos que o Sr. sempre me dispensou, escrevi um longo poema sobre Sete Cidades, em que canto:

           Sete Cidades:
           Sonho feito
           De pedra
           Pedra feita
           De sonho
           Sonho que se fez sonho
           Na concretude da pedra.

E  a velha Piracuruca não ficou sendo apenas uma fotografia na parede, como no dizer do poeta, mas se tornou mais viva e presente, através da escrita e da memória do Gen. João Evangelista Mendes da Rocha, que lhe tem como permanente fonte de ternura e inspiração.
Agora só me resta dar um longo mergulho nas páginas de seu livro, de ricos e variados assuntos, e delas extrair a seiva rica e saborosa, para o salutar alimento e regozijo de meu espírito.          

terça-feira, 2 de setembro de 2014

DESLIzes da memória


DESLIzes da memória

Edmar Oliveira

O senso comum acredita que existem pessoas com uma boa memória, capazes de reproduzir fielmente fatos há muito acontecidos. Eu, garanto, não tenho o que chamam “boa memória” e não consigo gravar coisas nas que não tenho interesse, até que tenham me acontecido ainda agora. Minha memória é seletiva e afetiva ao extremo, confesso. Mas creio que as pessoas “de boa memória” sejam melhores que eu no trato com as lembranças, mas não lhes dou carta em branco. Tive até aborrecimentos por tentar separar lembranças de fatos em quem se achava poder retratar o passado tal como tivesse acontecido. O velho pensador alemão Karl Jaspers criou uma psicologia da memória para aprofundar o assunto. Mas juro que vou ficar nas abobrinhas para comentar um acontecimento de momento.

Um vídeo, que demorou ser encontrado por estar ainda rodando no horário de verão (o que confundiu os peritos), mostrou a queda do avião em Santos, que levava o candidato Eduardo Campos, embicando de cima pra baixo, desgovernado e rápido, passando por trás de dois prédios para provocar, na sequência, um clarão e uma nuvem de fumaça. Essa filmagem ocasional faz supor um erro do piloto no processo de arremeter a aeronave: ou provocando em alta velocidade – por retraimento dos flaps – um embicamento do avião e descontrole; ou não alcançando uma velocidade suficiente que evitasse uma queda por estol. Na primeira hipótese foi encontrada uma nota de pé de página no rodapé do manual alertando que se os flats fossem recolhidos com a velocidade acima de 200 nós, a aeronave podia perder a estabilidade e embicar. Na segunda hipótese, todos sabem que o que mantém o avião em voo é a velocidade: se for baixa, que não compense a força de gravidade o avião cai em estolagem (neologismo para perda de sustentação). De qualquer modo nossos pilotos estão muito bem preparados para voos normais. Em situações complicadas o raciocínio do treinamento é testado na velocidade do jato. Uma nota de pé de página pode ser esquecida e/ou a inversão dos movimentos entre tentativa de pouso e arremetimento pode ser demorada. Não os culpo, é do humano.

Pois bem, no vídeo encontrado o avião cai límpido, cortando o céu, sem explosões, sem qualquer tentativa (de pilotagem) para evitar os prédios. Em poucos segundos o impacto da explosão e da nuvem de fumaça. Como explicar o depoimento de tantas testemunhas oculares que juram ter visto uma explosão no ar e outras que supunham que o piloto desviou dos prédios para evitar um acidente de grandes proporções?

Memória seletiva seria juntar o nosso conhecimento anterior – de que avião explode – para ver uma bola de fogo no avião, que não existiu. Memória afetiva seria desconfiar anteriormente de uma conspiração para ver na bola de fogo o suposto atentado. Altruísmo seria atribuir ao piloto morto a intenção de desviar a aeronave para evitar uma tragédia maior. Note-se aqui que o altruísmo é muito mais atribuído aos mortos. E eu me admiro de quanto a memória humana deforma a realidade!

Por aceitar essas experiências coletivas, candidamente não confio na minha memória. E, vez por outra, desconfio de quem se vangloria de afirmar peremptoriamente que a história foi assim e não de outro jeito!