quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

MÚSICA E LAZER NO CAFUNDÓ

José Luís, o Barão de Bitorocara

Assis Capucho, mestre do sax e da harmonia

Zé Francisco, El Gran Montilla

30 de dezembro   Diário Incontínuo

MÚSICA E LAZER NO CAFUNDÓ

Elmar Carvalho

No domingo, de manhã cedo, o Zé Francisco Marques me telefonou, convidando-me a ir ao sítio Cafundó, do nosso amigo comum José Luís Carvalho do Vale. Lá também estariam o Assis Capucho, sua namorada Fernanda, e a Francilene, esposa do nosso anfitrião. Assis Capucho, de nome completo no registro civil Francisco de Assis Carvalho do Vale, é neurologista respeitado, professor da Universidade Federal de São Carlos, conferencista de prestígio, já tendo proferido palestras em várias paragens do Brasil. É irmão do saudoso médico Júlio Capucho, que conheci em minha adolescência.

Disse ao Zé Francisco que não desejava ir, pois havia tirado o dia para ficar quieto em meu tugúrio. Logo depois, meu celular tocou novamente. Desta feita era o Assis que reforçou o convite “franciscano”. Com as forças minadas, não pude deixar de deferir tão tentador convite. Aliás, como disse o poeta, para rimar com saudade, resistir quem há-de?

Um aviso prévio aos incautos navegantes se faz necessário; apesar do nome, o sítio Cafundó não fica “no calcanhar do Judas” ou “onde Judas teria perdido as botas”, em local inóspito e inacessível, como alguém equivocadamente poderia deduzir, mas em local bonito, aprazível, de fácil acesso e perto de Teresina.


No telefonema, eu e o Assis fizemos referências brincalhonas ao Zé Francisco. Eu disse que ele é uma figura egressa da mitologia greco-romana, tendo o Assis, num retumbante e hiperbólico pleonasmo, o rebatizado de Dioniso Baco, por ele ser um degustador de uvas e um apreciador de vinho, sendo ainda certo que é um consumado enólogo e enófilo, unindo, assim, teoria e prática. Acrescentei que o seu nome completo passaria a ser Dioniso Baco da Silva Orfeu.

O acréscimo do codinome Orfeu não precisa de explicação, e deve-se ao fato de que o nosso amigo é exímio instrumentista, dominando com muita perícia um violão e um teclado, que vale por uma orquestra. Quanto ao sobrenome Silva, é que lhe quis dar um misto de nobreza e popularidade ao mesmo tempo, porquanto com esse apelido há homens simples e nobres.

Além do mais, Zé Francisco tem uma bela e forte voz, com uma poderosa memória que lhe permite ter um vasto e eclético repertório, que abarca a bossa nova, a jovem guarda, a MPB e os clássicos do brega, que na verdade são imortais músicas românticas. Para completar a parte musical, o Assis Capucho é um talentoso saxofonista, que em certos momentos ascendeu de coadjuvante a estrela principal, quando executou alguns boleros e outras melodias.

Se tudo isso ainda não fosse o bastante, o Zé Luís, o senhor do sítio Cafundó, é um exímio percussionista, e deu um brilho pirotécnico a esse trio musical. Em alguns momentos ele atuou como se fora um regente, ao inovar em certos arranjos e improvisações, o que me fez lembrar os improvisos do jazz. Também me pareceu um maestro porque soube incentivar o seu irmão a ser mais ousado no saxofone, tendo conseguido que ele fizesse algumas execuções solo, de rara beleza e perícia.

Não tendo Deus me dado o dom da arte do divino Orfeu, não sabendo executar nenhum instrumento e nem cantar, contudo sei apreciar uma boa música, qualquer que seja o seu gênero ou estilo. Contive-me, portanto, em escutar com atenção e em aplaudir com entusiasmo os meus três melódicos amigos. No máximo, tive pálida participação na parte vocal, quando cantarolei, embora de forma canhestra e incipiente, algumas canções, cujas belas letras conhecia.

A manhã domingueira também foi perfeita nos quesitos da libação e dos comestíveis. O nosso anfitrião Zé Luís é um tanto metódico e perfeccionista, de modo que a cerveja por vezes ostentava um elegante “véu de noiva” ou um deslumbrante “pescoço de águia americana”, mas sem nunca congelar. A carne do insuperável churrasco sempre se apresentou tenra e suculenta, pois ele domina o ponto exato do tempo, da distância e do fogo, o que faz a diferença entre um mestre e um simples borra-botas ou melamão. Cabe ainda informar que as carnes caprinas e galináceas tinham a grife Cafundó (ou made in Cafundó, se o leitor americanizado assim preferir).


Em dado momento o Zé Luís me perguntou se o churrasco estava bom ou se poderia ser melhorado. Fui enfático, conciso e radical em minha resposta: “Não tente melhorar; se melhorar, estraga”. É ele um perfeito anfitrião, atencioso e educado, mas sem artificialidades postiças. Essas qualidades e atributos são de sua índole. Como na música do lendário Bat Materson, ele é “sempre elegante e cordial”. Por essas razões, dei-lhe o título nobiliárquico de Barão de Bitorocara.    

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

CARTA-LOUVAÇÃO A NOTURNO DE OEIRAS E OUTRAS EVOCAÇÕES (*)



CARTA-LOUVAÇÃO A NOTURNO DE OEIRAS E OUTRAS EVOCAÇÕES (*)

Prezado poeta ELMAR CARVALHO,

        Acabei de ler o seu livro, “Noturno de Oeiras e outras evocações”, que você, a pedido de minha querida irmã Anatália, gentilmente me enviou.

Li-o de uma tacada, como se diz, pois não faz mais de uma semana que o recebi.

Li mais rápido que de costume, não para me desincumbir do compromisso de dar alguma satisfação ao autor, mas o li assim, vorazmente, porque o livro, por seus vários méritos, me aguçou o interesse.

            Logo no início da leitura, lembrei-me do ensinamento da escritora americana, Susan Sontag, em seu Questão de Ênfase. Ensaios: não há livro digno de ser lido se não for digno de ser lido várias vezes.  Não tive nenhuma dúvida de que ”Noturno...” devia ser lido, merecia ser lido, não uma, mas várias vezes. E é o que está sendo feito, poeta.

            Além das virtudes próprias do livro, que são tantas, ele me dá, de lambujem, mais uma satisfação e um encantamento: rememorar Oeiras, retornar a Oeiras, reviver Oeiras.

            O livro é Oeiras encadernada, viva, palpitante. Ele me levou a Oeiras, de onde saí ainda bem jovem em busca do conhecimento que ela não poderia mais me dar. Mas não sei, não sei...

            Fico pensando, poeta, se Oeiras, hoje uma insofrida saudade, não teria me ensinado o pouco que hoje sei (ou penso saber) da vida e do mundo.  Oeiras teria sido a minha universidade não oficial, pois ela, abrigando tantos professores titulares de vida, de experiência e plenos de generosidade, poderia, sem dúvida, ter ensinado muito e muito mais ao menino que fui e ao homem que seria.

            Se, como dizem, o menino é o pai do homem, este menino de Oeiras, se por lá tivesse ficado, hoje teria muito mais para dar e transmitir a este  adulto que agora lhe escreve. Mas, infelizmente, vi-me obrigado a cabular as aulas oficiadas pela mestra Oeiras, mas a ela sempre volto, pouco fisicamente, mas a todo tempo em que o tempo da memória e do afeto me permite.

            Seu livro trouxe Oeiras a Belo Horizonte, trouxe-a a mim, com sua rotina modorrenta, suas tradições, seus odores, os meus amigos de infância, a escola e seus Mestres, suas lendas e ajudou-me a me recompor, a fazer uma remontagem emocional da nossa Oeiras.  E logo me vejo em Oeiras, menino, quem sabe de calças curtas, na Vila do Mocha, assustado com os fantasmas que perambulavam ( e ainda perambulam) pelo Sobrado Velho (sobrado dos Ferraz?), pelos becos  e  pelos Cemitérios, velhos os dois.

            Você, poeta, com sua arte e inteligência, recriou-me Oeiras, inteirinha.  Tão animado fiquei que, por conta própria, tomei a liberdade de inserir, na sua moldura oeirense, os doidos de minha infância, os doidos de Oeiras: Antônio Bocão (seu Tonho), Ana Ruça, Dorête, Zé Doidim, Claro, e Sabino. Os alfenins de que você fala, levou-me a Sancha, vizinha nossa, que sabia fazê-los como ninguém, brancos, gostosos, macios, exatamente como você aponta no Noturno de Oeiras.

            “Noturno de Oeiras”... Como comentá-lo? Tudo já foi dito sobre o poema e eu estaria tão só chovendo no molhado. Mas não resisto em comentar o verso “onde músicos falecidos acordam sons delicados”. Acordar (tecer acordes) e acordar (sair do sono). Magistral essa ambiguidade poética. Porque os músicos de Oeiras eram famosos por sua sensibilidade e destreza em compor e tecer pautas de rara beleza.

            Mas esses músicos também, com o pretexto de seus versos, acordaram em minha memória e lá estou eu assistindo-os, embevecido, no coreto da antiga Praça da Bandeira, a praça mais bonita de quantas pude ver. Lá estão eles: Osíris (no trombone de vara), Levi (no pistom), seu Lico (no tambor), Tabaqueiro (nos pratos), Doca (na tuba). Esses e tantos outros, afora a atividade individual, reuniam-se na noite de toda quinta-feira para um espetáculo de musicalidade e talento com uma das bandas (eram duas) de que Oeiras dispunha.     
 
Possidônio Queiroz é um capítulo à parte.  Dono de raro talento para a música (tocava flauta) e as letras, possuía um conhecimento enciclopédico e uma capacidade invulgar de ser gentil e obsequioso. De todos os oeirenses, do mais letrado ao mais simples, exalava admiração e respeito pelo homem e pelo artista Possidônio.

            Pois bem, o seu “Noturno...” é arte de fina e rebuscada engenharia literária e poética, é um régio presente às letras piauienses e à história e à memória de Oeiras.  O progresso, poeta, tem o defeito de compartimentar a história, confinando-a nos limites de uma nesga de tempo vivida por determinada geração. Digo de outra forma: em termos de memória, as gerações só têm compromissos com o seu tempo.  É necessário, de uma forma ou de outra, resgatar o tempo passado, tecer um liame vivo entre o ontem e o hoje, ensinar aos homens de agora a importância do exemplo e dos valores das gerações passadas.      

            Seu livro, poeta, é essa linha luminosa trafegando entre Oeiras atual, moderna (ou modernizada) e Oeiras dos sobradões, dos seixos nas ruas, dos Passos, da Casa da Pólvora, da Cadeia Velha, da Casa do Visconde, do Pé de Deus e do Diabo, das Igrejas, do relógio da Matriz (“com o mostrador roído pela pátina”), do Grupo Escolar Costa Alvarenga e do Ginásio Municipal Oeirense (nos quais estudei), das quintas (ainda se dizia “quintas”!) do Cel. Orlando (meu avô), de “seu” Tibério Siqueira e Morena (grandes amigos), do meu tio João Ribeiro (Santa Rita), dos umbus do Condado e de dona Clarice, do Poço dos Cavalos (onde quase me afoguei), do Morro do Leme, dos Urubus, da Sociedade...

            Tempo em que os comerciantes fechavam suas lojas às 11h e só retornavam ao trabalho às 14, depois de uma tranqüila e reconfortante sesta. Naquele tempo todos sesteavam, só o velho relógio da Matriz insistia em manter-se acordado, repetindo suas “badaladas punhaladas” de susto e compromisso.

            Tempo de homens e mulheres imperecíveis, cartilhas vivas nas quais, menino, aprendi um pouco (ou muito) do bê-a-bá da vida. É preciso, poeta, que as gerações atuais não se esqueçam das que se foram e o seu livro é um chamado a esse não-esquecimento, a essa reverência ao passado tão rico de homens e mulheres e das lições escritas e repetidas por eles.

            É preciso que não nos esqueçamos de Joel Campos, Bembém, Xé, Edul, João Burane, Zé Sá, Raimundinho Sá, Pedro Ferrer, Pedro Sá, Luiz Rego e Odete, Gerson Campos e sua saudável irreverência, Orlando Carvalho e Anatália (meus avós maternos), Yaiá (minha avó paterna), Paulo de Tarso e Iolanda (meus pais), Mário Freitas e dona Conceição, Mãe Tonha, dona Sinhá e Iara (dos queimados), Antônio Gentil (da “casa das doze janelas doze donzelas”), de Galeno e Julieta, dos Tabaqueiros, de “seu” Natu e dona Darinha, de Zé Lopes, do Cônego Cardoso, do Mons. Leopoldo, de Tiborão e dona Cocota, minha mestra, vivíssima, graças a Deus.

            Pedro Ferrer Mendes de Freitas, Pedro Ferrer do seu livro, jornalista e escritor dos bons, Ferrezinho para a família, Farroz para a molecada da nossa infância e meninice. Neto de um outro Pedro Ferrer, um dos homens mais elegantes, finos e gentis de minha época, um dos grandes amigos de minha família e, em especial,  do meu pai.

            Mas já escrevi muito, poeta, muito além do que devia. É que seu livro e seu acendrado amor por Oeiras transformaram você num amigo de longa data, aquele que nos dá total liberdade pra conversar, sem limites de tempo.

            Muito obrigado pelo livro, vou relê-lo várias vezes, sempre em busca do prazer, do enriquecimento e conforto que sua leitura me dá.

            Abraços afetuosos do amigo e admirador,

            Elisabeto Ribeiro Gonçalves

(*) Tomei a liberdade de colocar esse título no texto da magnífica carta que o Dr. Elisabeto Ribeiro Gonçalves me enviou, através de e-mail, que muito me desvaneceu e honrou.         

FELIZ ANO NOVO


Com esta charge do Mestre Gervásio Castro, em que ele não chutou o balde, mas fez o seu autorretrato (selfie), o blog se despede de 2014, ao tempo em que deseja aos seus leitores um Feliz e Próspero Ano Novo, com tudo de ótimo ou mais.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Seleta Piauiense - Rubervam Du Nascimento


36

Rubervam Du Nascimento (1954)

Antonia Flor, 80
na mira de fazendeiros
com seus fuzis de silêncio
montou seu cavalo de sonhos
pra enfrentar a noite
nunca mais voltou
a última vez que foi vista
repartia lotes de nuvens
com os perseguidos do céu

(Fonte: portal Jornal de Poesia)

sábado, 27 de dezembro de 2014

Fragmentos do cotidiano de um escritor

Na Livraria Entrelivros, vendo-se: Dílson Lages, Homero Castelo Branco, Elmar Carvalho, Reinaldo Torres e Antenor Rego Filho

Fragmentos do cotidiano de um escritor
  
Cunha e Silva Filho

1. Nunca  duvidei de que, na vida intelectual,   exista uma  distância  enorme entre a pessoa  do escritor e a obra que produz, embora  tenha a certeza de que,  pelo menos para mim,   torna-se  quase  impossível  poder admirar integralmente  um autor  quando,  por experiência direta ou indireta,  percebo que este não  constitui uma  unidade   harmoniosa  entre o caráter  e  sua obra, quer de escritores menores, quer de médios ou  grandes  escritores. Julgo até que  este  ponto de vista meu  não se cinge somente aos  dias   que atravessamos  mas  há muito tempo tem sido uma realidade na  vida literária  brasileira. Que o digam Humberto  de Campos,  Monteiro Lobato,  Brito Broca,  Afrânio Coutinho e Álvaro Lins,  servindo estes  nomes apenas de meros   exemplos  para ilustrar    este tópico  de vida literária.

2.  Ontem, fiz mais um ano de idade. Um pequeno almoço, para  convidados  bem escolhidos,  me leva  a esta reflexão: chega um tempo em que  as velinhas não mais  nos interessam, nem discurso  nem  respostas a discurso. O que  fica mesmo  são  as alegrias   de convidados  separados  por mesas,  falando  de tudo :política,    vida a alheia,   literatura, projetos de vida  concluídos, enfim, em cada  mesa composta de  convidados tudo  é festa Constato  também  que a comida, a bebida, a sobremesa,  com álcool ou sem ele,   completam  integralmente   o  ritmo  da comemoração. O melhor,  contudo,  para mim,  numa simples festinha entre  amigos,  é  o meu   hábito de   conversar com todos  os convidados, mas, ao fazer isso, há uma  falta de habilidade minha imperdoável:    verifico  que  converso mais com  alguns do que com  outros. Por que será  que  a festa é assim?   Outra falha  minha: sou  sempre o que menos  come porque – é explicável -   fico   o tempo todo  dando atenção  aos  convidados. E o pior  é que foi sempre assim  quando    o assunto  é a comemoração  do  meu  aniversário.

3. Estou  deveras  preocupado:  há uma pilha  crescente de livros que  tenho  o dever  de ler e, se possível,  comentar, seja  em  resenha, seja num artigo-ensaio  mais  denso.
4. O meu  hobby é o seguinte:  colecionar  livros  didáticos de matérias  do meu tempo  de ginasiano e de  aluno do curso   científico em Teresina, Piauí, que mais me interessam. Enquanto não  completo a coleção de um autor,  não sossego. Este hobby me traz alguns percalços e o  espaço  físico  do meu apartamento  é o nó górdio da questão.Como não sou um Mindlin,  fica mais    problemática   a solução  dessa questão.

4. Fico chateado quando deixo de comprar  jornais (são dois apenas,  leitores)  que sempre  leio  cada semana. Mas, pensando bem,  se não  li aquele  exemplar que deveria comprar,  isso  não é o fim do mundo,  uma vez que não costumo  ler  um jornal  inteiro no mesmo dia.

5. Por que,  numa  Academia (traduza-se:  de Letras)  que não vou    aqui nomear ( não vou dar  esse gosto  aos intrigantes e fofoqueiros ) há , segundo  um  informante,   quatro  grupos  divergentes ?  Descubro, além disso,  que não é só numa Academia  que existem redes de intrigas,  grupos   que querem ver os outros pelas  costas. O mal é geral e se alastra insidiosamente  em outros setores,  públicos  ou  privados.
6. Fato curioso:  Mário Quintana tentou  entrar para a  Academia Brasileira de Letras  por mais de um  vez, ao passo que Ferreira Gullar, que não era chegado  a essa  possibilidade,   para o Petit Trianon,  foi  convidado, tendo   uma vitória quase  cem  por cento  na contagem  de votos. Só um  não  votou nele. Quem seria?

6. Renan Calheiros,  a quem  todo  mundo  conhece de priscas eras   colloridas,  desrespeitou  um pequeno   grupo   que  estava nas  galerias  do Senado protestando  contra a aprovação  um projeto  de lei relativo  à gastança   sem limites   da dinheirama     do Erário Público. O referido político,  sem  educação parlamentar à altura do cargo,  chamou   o  pequeno grupo de  indignados  das galerias de “assalariados” sem  nenhuma importância  diante das decisões  do  Congresso  Nacional. Reduziu, assim,   por metonímia,    a pó o eleitorado brasileiro. Esse é o pensamento elitista, cínico  e ao mesmo tempo  tacanha  de    politicagem  coronelista  deste país. Uma vergonha  a mais  para  a imagem já  moralmente destroçada    de nossos  políticos.

7.Com a  globalização  e  a crescente  inter-comunicação   dos povos,   subiu enormemente  a produção  editorial  de livros para aprendizagem de idiomas, sobretudo do inglês.



8. O Piauí, no que tange  ao mundo   editorial,   está dando   mostras de crescente vitalidade,  produzindo localmente,  seus livros,   com o surgimento  de   muitos   escritores  de vários genros literários ou  não, de  novas  livrarias  bem equipadas,  com   sucessivas  noites de autógrafos. O escritor, professor  e editor  Dílson Lages Monteiro, com outros  companheiros,   estão  concorrendo significativamente para que  o Piauí  se faça  conhecido  pelo país afora. Dílson Lages é um  operoso e jovem intelectual que   faz questão  de  estar  levando a produção dele e de outros  autores piauienses  ao conhecimento de leitores de outros lugares  do país, através de participação de   Feiras  de Livros,  de entrevistas   com   autores  piauienses. É um escritor  antenado,  sem  quaisquer ranços de  provincianismo  ao lidar  com   a produção  sua  e de  outros   escritores   do seu estado. Além disso,  Dílson Lages, como diretor  de um  já  respeitado  site  de literatura,  o Entretextos,  abriu, assim,  no Piauí, mais uma canal  de divulgação   de autores  piauienses. Seu trabalho,  fruto de sua vocação  para a vida  cultural,  merece  o respeito dos piauienses e o seu   mencionado site  constitui um  amplo espaço virtual, um verdadeiro fórum aberto a discussões de questões   e  a reflexões  multifacetadas sobre literatura e outros   temas culturais gerais graças  à qualidade  de  seus colaboradores. O objetivo primacial do Entretextos,   pelo menos para este colunista,  visa  a disseminar o conhecimento e a propiciar mais  visibilidade da produção   literária brasileira de forma democrática ..

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Nada sei


Nada sei

Neide Moscoso

eu
nem sei
jejuar nem
pedir perdão
vivo em devaneios
nem sei
dos sonhos dos sábios
nem rezo
com velas acesas
da minha alma
nada sei    

POEMA DE NATAL


POEMA DE NATAL

Carlos Henriques Araújo

Então é Natal

É festa, reunião,
Um sentimento igual.
Envolta da mesa, só alegria,
Pessoas felizes se divertindo.
Não se fala em tristeza.

Então é Natal

É hora de beijos e abraços,
De distribuição de presentes,
Para aqueles que estão presentes,
É hora de lembrarmos e sentir saudades
Daqueles que se foram ou estão ausentes.

Então é Natal

É hora de meditar e fazer uma reflexão
Em tudo que fizemos no ano que se finda,
Para o nascimento de um novo ser em nós
Melhor do que aquele que fomos ainda,
Com mais tolerância, paciência, bondade e doação.     

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A MORTE DO VELHO MOCHA



A MORTE DO VELHO MOCHA

Elmar Carvalho

Quase toda semana, quando faço minha caminhada diária na Raul Lopes, encontro o bom amigo Dr. Paulo de Tarso Ribeiro Gonçalves Filho, que por várias vezes me tem instigado, quase diria fustigado, a escrever uma crônica sobre o histórico Riacho Mocha. A última foi ontem, quando parei para cumprimentá-lo, no momento em que ele sorvia um coco gelado, após haver feito o seu exercício físico. Cumpro, agora, a minha palavra.

Vários poetas e escritores oeirenses já escreveram sobre o velho curso d’água. Entre esses, posso citar Antonio Reinaldo Soares Filho, Rogério Newton, Dagoberto Carvalho Jr., O. G. Rêgo de Carvalho, João Carvalho, o próprio Paulo de Tarso Filho e este cronista. E, sem dúvida, Possidônio Queiroz, Ferrer Freitas, Carlos Rubem, Gutemberg Rocha e José Expedito Rêgo, embora eu não tenha feito pesquisa para produzir este texto. O poeta Rogério Newton também realizou um belo documentário (audiovisual) em defesa do Mocha, que Paulo de Tarso considera o maior patrimônio natural de Oeiras.

No livro “Dr. Tarso – sua história, estórias e legados”, em que conta a vida de seu pai, sobretudo um médico do adusto sertão piauiense, cuja saga remonta à segunda metade da década de 1920, e que se estendeu por mais de meio século, Tarso Filho lamenta a decadência do velho riacho, em que ele e seu pai nadaram tantas vezes. Rememora-lhe os poços e os seus poéticos, telúricos ou pitorescos nomes.

Esses poços minguaram ou desapareceram completamente. Em 2013, em companhia do amigo Pedro Amador, tentou, qual novo Proust, encontrar o poço encantado de sua meninice. Em busca dele, enfrentou ervas daninhas, juremas e afiadas unhas de gato, urtigas e cansanção, para constatar que o ditoso balneário havia se transformado numa minúscula e rasa cacimba. E Paulo de Tarso chorou, como se fora Jeremias, sobre a sua Jerusalém de tantos sonhos...

Na página 45 da referida obra lemos o seguinte: “A natação era praticada no Riacho Mocha, nos poços formados ao longo de seu leito. Na época de meu pai, e ainda no meu tempo de menino, com os irmão Beto e Luís e os amigos de infância Dirceu Freitas, João Carlos Siqueira, Toinho de Ferrer, Mundinho Cassiano, Afonso Rêgo, Guilherme de dona Joia, Raimundo de Batatinha (Corró), Pedro Amador, Luiz Evangelista de Sousa (...) e tantos outros, vivíamos despreocupados de tudo, pois passado e futuro ainda não existiam para nós – apenas o presente que fez daquele tempo o melhor de nossas vidas.”

Logo a seguir nomina esses gostosos pontos de banho e diversão: “Aprendemos a nadar nos poços da Bica, dos Cavalos, da Laranjeira, do Silva – este à esquerda da ponte Zacarias de Góis –, do Lavradim de seu Raimundo Portela e do Barateiro, que ficava na Santa Rita, do tio João Ribeiro de Carvalho; hoje, propriedade do B. Sá.”

Igualmente Antonio Reinaldo Soares Filho (Soarinho), em excelente crônica, repassada de emoção e saudade, recorda o nome dos poços encantados de sua infância e dos garotos que frequentavam esses balneários naturais. Esses locais, sobretudo no semi-árido, eram pontos de convivências, sociabilidades e lazer, e muitas amizades certamente ali nasceram.

O documentário do Rogério Newton é uma quase elegia de lamentação pelo estado deplorável em que se encontra o velho Mocha. Muitos depoimentos atribuem como a principal causa de sua quase morte à construção do açude Soisão. Alguns entendidos e ambientalistas também endossam essa opinião. É que essa obra e os trabalhos para sua concretização terminaram por sufocar os olhos- d’água, que eram na verdade as nascentes desse córrego.

Perguntei a um respeitado técnico se o Soisão não poderia ser utilizado para a perenização do Mocha, tendo ele me respondido, sem titubeios e sem meias palavras, que seriam necessários 100 (cem) açudes desse porte para que isso fosse possível. Além desse reservatório, é fora de dúvida que os desmatamentos e queimadas, construção de esgotos, galerias, aterramentos, etc. também contribuíram para a degradação desse curso d’água, que outrora foi perene, como me asseverou o Dr. Paulo de Tarso, médico como seu pai e digno professor do IFPI. Aliás, quando eu conversava com ele, passou o Eneas, que foi seu aluno no Instituto Federal e frequentou o seu consultório, na qualidade de representante de laboratórios farmacêuticos. 

Foto extraída do site Mural da Vila
  
Sobre os riachos Mocha e Pouca Vergonha já me referi em alguns de meus textos, sobretudo nos discursos com que tomei posse de meus cargos de sócio correspondente do Instituto Histórico de Oeiras (em cuja ocasião também fui agraciado com a Medalha do Mérito Visconde da Parnaíba) e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro.

Quando recebi a segunda honraria disse: “Abençoada pela Senhora da Vitória, com o seu cetro fulgurante, do alto do Leme, acariciada pelas águas históricas do Mocha e pelas águas mitológicas do Pouca Vergonha, que hoje só tem vergonha da pouca água que tem, adormece e trabalha a velha urbe, emoldurada pelas colinas, que lhe realçam a beleza do perfil.” Hoje, diria que o Pouca Vergonha só tem vergonha da água que não tem, e por cuja mazela nenhuma culpa lhe cabe.

O velho bardo Manuel Bandeira, certamente temendo as vicissitudes do “progresso”, protestou em versos: “Vão demolir esta casa / mas meu quarto vai ficar / (...) intacto, suspenso no ar!”. O poeta Raimundo Correia foi mais pessimista em seu poema Saudade; após falar em trons festivais, arcos de flores, fachos purpurinos, bandeiras desfraldadas e outros triunfos do passado, melancolicamente disse que “tudo passou”.

Embora ferido de morte, embora moribundo, embora nos momentos finais de sua agonia, na verdade uma morte anunciada, que já se arrasta por muitos anos, espero que nem tudo tenha passado para o velho Mocha, e que a sua saúde e vitalidade ainda lhe possam ser restituídas pelo Poder Público, em suas três esferas de governo – municipal, estadual e federal.


Não deixem, não deixemos que o Mocha morra, que o Mocha naufrague na morte de suas águas.    

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O SONHO NÃO ACABOU


O SONHO NÃO ACABOU

Antonio Gallas

Não se trata do filme brasileiro de 1982 dirigido por Sergio Resende e que marcou a estreia de vários atores no cinema nacional, entre eles Miguel Falabella, Lucélia Santos e Lauro Corona; muito menos sobre o que disseram os quatro cabeludos de Liverpool que com suas canções embalaram os jovens e também os adultos dos anos 60 e 70.   Mas sim o sonho de milhares crianças do mundo inteiro que acreditando na magia do Natal fazem seus pedidos ao Papai Noel na esperança de na noite mágica de 24 de dezembro o bom velhinho desça pela chaminé, entre pela fresta de uma telha quebrada ou pela abertura de uma palha de carnaúba mal colocada na cumeeira da casa e lhes traga aquele brinquedo tão almejado, aquele presente tão sonhado.

São  milhares de cartinhas endereçadas ao bom velhinho do Polo Norte, o SantaClaus, São Nicolau, ou ainda como nós o chamamos, Papai Noel. “Os pedidos vão desde uma simples bola de futebol, um patim, skate, uma boneca, um sofisticado game eletrônico ou um modelo movido a controle remoto ou a ondas de rádio, que muitas vezes deixam nós, os adultos, com “água na boca” e com vontade de voltar a ser criança novamente. Sim porque na nossa época os  mais sofisticados eram aqueles carrinhos de  fricção, ou os movidos   a corda de relógios. Somente mais tarde surgiram os brinquedos  movidos à pilha ou  a  bateria.

Mas, deixemos de lado a nossa época e vamos nos reportar sobre o período atual, a já chamada era digital ou virtual. Apesar da sofisticação tecnológica, onde qualquer criança com idade a partir de cinco anos sabe lidar com todas essas geringonças da tecnologia moderna, ou seja, usar um celular, um tablet, enviar uma mensagem via whats App, ligar uma TV a cabo etc., a magia, o encanto do Natal para muitas delas não acabou...

Fiquei surpreso quando fui abrir minha caixa de correspondências e encontrei um envelope feito de uma folha de papel chamex com o seguinte endereçamento: “Para o Papai Noel”; No verso do envelope um adesivo com um coraçãozinho e a inscrição: Zaira Maria.

Zaira é minha neta de 5 anos e quando mostrei-lhe a carta ela disse: -“vô deixa lá que é para o carteiro levar para o Papai Noel”. E disse-me mais ainda: “se o senhor ler o senhor vai se emocionar”. Depois de muita insistência ela abriu o envelope e então pude ler o conteúdo da carta. Com seu próprio punho escreveu o seguinte: “QUERIDO PAPAI NOEL! QUERO A RAPUNZEL”!  Desenhou um coração e escreveu ZAIRA MARIA.

Tenho ainda outra neta da mesma idade de nome Maria Julia que reside em Teresina.  Assim como a Zaira e outras milhares de crianças a Maria Julia também deve ter endereçado seu pedido ao bom velhinho de barbas brancas e assim como tantas crianças, sonha com a certeza de que na noite de Natal seu desejo será realizado.

O Sonho Não Acabou!  Nem para as crianças nem para nós adultos.  Quem como eu e milhares de outros brasileiros não estamos sonhando com a Mega Sena da Virada?  Agora é só confiar no bom velhinho” lá de cima e aguardar!!!!

FELIZ NATAL A TODOS OS LEITORES DO BLOG!     

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

XCII – TIMONHA – O RIO, O ESTALEIRO e O PORTO


XCII – TIMONHA – O RIO, O ESTALEIRO e O PORTO

Lauro Correia
Prefeito Parnaíba – 1963/1966
Engenheiro Industrial – UFMG
Presidente FIEPI – 1974/1982

            Transcrevo na íntegra o teor de email, recebido dia 26 novembro, versando sobre implantação de Estaleiro na bacia do Rio Timonha.
             << Estaleiro: O Governador em exercício do Estado do Ceará se reuniu com empresários da Nordic Yards para implantação de estaleiro na bacia do Timonha, na divisa do Piauí com o Ceará.>>
            << Os soviéticos queriam vir para o Piauí, mas por falta de agenciadores e representantes do Governo do Piauí para esse tipo de negociação, o Ceará como sempre, partiu na frente e poderá trazer uma séria surpresa para a economia do Piauí. >>
            << O Governador em exercício José Albuquerque se reuniu na última terça-feira (25), no Palácio da Abolição, com representantes da empresa alemã Nordic Yards. Na pauta do encontro estava a implantação do estaleiro no município de Camocim, no litoral oeste do Ceará. A escolha  de Camocim para receber o estaleiro deveu-se à sua localização, que está mais próxima do Canal do Panamá que os atuais portos brasileiros. Isso representa economia de dinheiro e de tempo para embarcações e para o comércio marítimo internacional. >>
            << O empreendimento receberá investimento de R$ 1,2 bilhão e serão gerados 2,5 mil empregos diretos e cerca de 10 mil indiretos. O estaleiro terá quatro fases de implantação, sendo que no prazo de dois anos já entrará em funcionamento e em cinco anos a obra estará totalmente concluida. A empresa alemã obedece todos os critérios europeus de sustentabilidade e segurança, incluindo o aproveitamento de resíduos. O estaleiro de Camocim, além da construção de navios e de plataformas marítimas, fará reparos de embarcações. >>
            << Durante a audiência, José Albuquerque ressaltou a importância do empreendimento para o Ceará e, sobretudo para os municípios próximos ao Litoral Oeste. “É mais geração de emprego e renda para a população e isso representa mais qualidade de vida e oportunidades”, disse. Participaram também do encontro a prefeita de Camocim, Mônica Aguiar, o deputado estadual Sérgio Aguiar e o Assessor especial de Assuntos Internacionais. Hélio Leitão. >>
           

<< Nordic Yards
            A empresa foi fundada em 1946 e é considerada líder no setor marítimo de excelência. Com estruturas offshore de alta complexidade, navios de alta tecnologia e soluções de sistemas. A empresa tem expertise para construção de plataformas em alto-mar, mesmo em condições severas (tempestades e temperaturas negativas). A Nordic Yards é considerada uma das principais empresas em inovação da Alemanha e tem escritórios na Europa e Ásia.>>

COMENTÁRIOS

Mapa da Bacia do Timonha

A – INFORMAÇÃO

            A matéria que abordarei neste artigo XCII (92), no meu entender, é muito importante para os Estados do Ceará e Piauí, de modo especial ao Norte do Piauí, onde se localiza a nossa Parnaíba. Assim sendo, espero que a matéria seja conhecida pelo Exmo. Senhor Governador de Estado Moraes Souza Filho, pelo Exmo. Senhor Presidente da Assembléia Legislativa: Temístocles Sampaio, bem assim pelo digno Prefeito de Parnaíba Florentino Véras, a fim de que essas ilustres autoridades, nas esferas de suas atribuições constitucionais, acompanhem os entendimentos e as providências para concretização e bom encaminhamento de tão importante assunto, o qual será em área divisória dos dois Estados Piauí e Ceará.
B – ÁREA TERRITORIAL
            É oportuno lembrar que em 1820, a Assembléia Legislativa da Província do Ceará, através de Lei Provincial considerou Amarração, situada no litoral piauíense, como Vila da Província do Ceará. Os reclamos da Província do Piauí demoraram a ser atendidos, e só o foram, em 1880, por Sua Magestade Imperador Dom Pedro II.
            Ficou esclarecido, com toda segurança que o Rio Timonha seria a linha divisória entre as então Províncias do Piauí e Ceará, a partir de sua nascente na Serra da Ibiapabá até o Oceano. A linha divisória continuaria pelos cumes das Serras que limitam Piauí e Ceará. Ocorreu, porém, que vilas e posteriormente cidades cearenses foram instaladas nos cumes das serras, e nas encostas oriental e ocidental, a partir de Viçosa, Tianguá, Ubajara, São Benedito, Guaraciaba. Surgiram as áreas de litigios territoriais entre os dois Estados irmãos. Eu disse litigios territoriais pacificos e não litigios de qualquer outra ordem.
            Na área do Rio Timonha, cujo mapa acompanha este escrito (artigo XCII), verifica-se com facilidade que a cidade cearense de CHAVAL está localizada em território piauiense !
C – RIO TIMONHA
            Esse rio de pequeno curso, pequena vasão, é intermitente, tendo melhor volume d’agua de chuvas (dezembro a junho), é um rio importante por servir de linha divisória entre os Estados irmãos – Ceará e Piauí.
            O Rio Timonha, na lei de nosso país, é um RIO NACIONAL; ele, o Rio Parnaíba, o Rio São Francisco e vários outros.
            Em razão de ser rio nacional, o que for deliberado, construido ou modificado em relação ao Rio Timonha, o será conjunta e harmoniosamente com prévio e pleno conhecimento e aceitação pela União Federal e pelos Estados do Ceará e Piauí.


D – PORTO MARITIMO DO PIAUÍ
            No início da década de 1950, a 3ª Campanha Cívica pela construção do Porto Marítimo do Piauí foi iniciada com estudos, debates e reclamos pela escolha do local mais apropriado para a localização do nosso Porto em TUTÓIA – MA, LUIZ CORREIA – PI ou TIMONHA – PI. Foram examinadas as vantagens e inconvenientes relativamente a cada um desses locais.
            TUTOIA dista 150 km de canais e igarapés, de Parnaíba TIMONHA possuíndo um ancoradouro natural e profundo, mas fica também distante 70 km de Parnaíba, e da Hidrovia Rio Parnaíba, com 1.100 km navegaveis de Santa Filomena ao mar; LUIZ CORREIA apresentando um ancoradouro com 8 a 10 m de calado, distante 3.000 m da praia, mas com futura oportunidade de outro ancoradouro, com calado de 10 a 12 m.
            O Engenheiro Mariotte Pires de Lima Rebelo, autor do estudo da viabilidade técnica do Porto em Luiz Correia, afirmou que o ancoradouro natural de Timonha comportaria toda a esquadra naval do Brasil e todos os navios de nossa Marinha Mercante, ao mesmo tempo. Quanto à barra, é preciso remover rochas de granito na entrada. O competente Economista Pádua Ramos, discípulo do Ministro Reis Veloso, realizou o estudo da viabilidade econômica do nosso Porto.
            A escolha, para aquele momento, foi pela barra de Luiz Correia.
            O Deputado Chagas Rodrigues, pertencente ao PTB do eminente brasileiro Getúlio Vargas, solicitou e conseguiu promessa assumida pelo então candidato às eleições presidenciais, cujo cumprimento se efetivou a partir de 1953, quando foram iniciadas as obras do enrocamento de pedras,da cidade de Luiz Correia à praia de Atalaia, de cujo local o enrocamento partiu de mar a dentro, buscando o primeiro ancoradouro.
            São decorridos de 1953, com períodos de trabalho e interrupções, pela falta das verbas orçamentárias federais, até 2013, 60 (sessenta) anos do início das obras do Porto.
E – O ESTADO DO PIAUÍ E SEUS DOIS PORTOS.
            O Estado do Piauí, considerado por alguns como uma unidade federativa pobre, deverá num próximo futuro elevar seu produto interno bruto PIB as receitas públicas estaduais, cuidar mais e melhor da educação, saúde e cultura de seu povo, a partir das suas jazidas minerais de ferro e de niquel, bem assim do gás petrolífero, da sua produção de soja no sudoeste de nosso Estado, da sua Hidrovia Rio Parnaíba, com 1.100 km navegaveis.
            Com esta visão otimista de desenvolvimento do nosso Estado, é justo pensar em dois Portos Marítimos: Porto de Luiz Correia para exportação preferencialmente de soja, que será transportada do sudeste do Maranhão (Balsas) e sudoeste do Piauí;  Porto de Timonha para exportação de minério de niquel.
            As nossas jazidas de Ferro e Niquel poderão e deverão ser exportadas pelos Portos do Pecem (Ceará) e Suape (Pernambuco) e aproveitadas por  suas siderúrgicas.
            Prosseguem, também, com bons sinais, as pesquisas sobre nossas reservas de petróleo.
F – ALEMANHA E PARNAÍBA
            A indústria parnaibana foi revigorada em duas épocas distintas por um alemão e por indústria alemã.
            O cidadão alemão Werner Schlupann, associado aos competentes e dignos irmãos Bento Gurjão e Carlos Gurjão constituiram uma  empresa denominada CURTUME GURJÃO, moderno, bem aparelhado, que funcionou vários anos no Bairro São José, às margens do Rio Igaraçu.
            A internacional e poderosa empresa farmaceutica MERCK, com mais de 3 séculos de funcionamento na Alemanha, instalou uma unidade industrial na nossa cidade para extração de pilocarpina, medicamento usado no tratamento dos olhos, obtido das folhas do jaborandi, planta medicinal nativa e também plantada no Piauí e Maranhão.
            Essa fábrica, muito bem conservada, continua em produção com a denominação VEGEFLORA, substituida a denominação anterior VEGETEX.
            Esperamos e acompanhamos com interesse os entendimentos entre a também importante empresa alemã NORDIC YARDS com os governos dos Estados do Ceará e do Piauí, a fim de que tudo transcorra bem, objetivando a vinda e montagem do ESTALEIRO  na região divisória de nossos Estados do Piauí e Ceará, das praias bonitas e ensolaradas do Nordeste Brasileiro.

Parnaíba, 08.Dezembro.2014    

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

FUMAÇA DE SEGUNDA-MÃO


FUMAÇA DE SEGUNDA-MÃO

Jacob Fortes

Avesso à catequização de consciências teimosas, não irei me arrojar na tarefa de dissuadir os fumantes das suas práticas tabagistas. Quaisquer arguições que lhes vierem, fundamentadas, para que deixem de fazer o errado, lhes soariam apenas como cantilenas fastidiosas. Também não irei extenuar-me em preocupações com as suas saúdes; ofereço-lhes apenas o que posso oferecer: o meu exemplo de não fumante. Sabedores, muitíssimo, acerca dos malefícios provenientes dessa prática, deixemos-lhos sossegados, entregues penitentemente à malignidade deliciosa das baforadas dos seus cigarros.

O ato de fumar, banal para os fumantes, é terrivelmente nocivo à vizinhança porque envenena o ar que outras pessoas respiram. O fascínio pelo cigarro acomete os cigarristas de uma espécie de ablepsia que os impede de enxergar os efeitos da fumaça sobre os arredores; pessoas e objetos impregnados da fumaça malcheirosa da sua minipistola de pulverizar veneno. O fazem com a passividade semelhante aos que, igualmente insensíveis, sujam a água do rio mesmo sabendo que logo abaixo existe alguém sedento; uma criança ou um cordeiro: — “por que turvas a água que eu bebo?” A passividade que pulveriza veneno em si e nos vizinhos igualmente é capaz de sujar, no trecho a montante, a água do córrego que, no trecho a jusante, será bebida por outros filhos de Deus.

Se não é possível fazê-los abdicar desse ofício malevolente, abandonar o tabagismo, ao menos que os circunstantes, candidatos ao posto de fumantes passivos, recusem inalar a perniciosa fumaça de segunda-mão. A ordem é não inalar o fumacê; debelá-lo no nascedouro ou fugir. Ao primeiro clarão que aflorar à boca fumarenta, faça como as estrelas: que fogem ao romper da aurora.

Mais que “sem noção”, como são habitualmente rotulados, os fumantes são egoístas desleixados; insensíveis aos direitos de outrem. A opção consciente e devotada do fumante pelo seu vício, uma espécie de servidão consentida, retrata bem os oximoros: “lúcida loucura”, “doce veneno” e “mendigo farto”.

Se os fumantes não cuidam dos seus próprios corpos nada resta aos não fumantes fazer, senão velar pelas suas almas. Que Deus os haja!

No entanto, evidências apontam um futuro esperançoso. Os fumantes de hoje — dolorosamente contrastando com o esforço de qualidade de vida atual — estarão amanhã reduzidos a espécimes raros e exóticos da fauna humana.

Mas o escrevinhador que admoesta é o mesmo que espera em Deus, (porque não consta que tenha o diabo nenhum poder), que este modesto texto tenha a serventia de fazer ao menos um fumante abjurar do seu deleitável vício: tão confortante (porque afaga), quanto nefasto (porque condena). Ao renunciar ao vício haverá de pensar: “no texto impreciso de um escriba encontrei o meu melhor presente de Natal. Desvencilhei-me da fumaça espiralada que me enleava e me comprimia feito uma sucuri; resgatei minha respiração, minha consciência, meu convívio social pleno, minha carta de alforria.”.
Mais um a recusar a fumaça de segunda-mão!