José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Neste
início de ano eleitoral, a imprensa vem destacando o quiproquó dos
bastidores dos partidos políticos. Um sai não sai. Isto por aquilo.
Candidata-se ou não. Ela ou eu. Cômica confusão de interesses e
ambições de tira e estende tapete, verborreia, ética demagógica,
acomodação de parentes. Se duvidar, companheira de programa terá
vez. Os que ridicularizavam, no passado, as oligarquias e coronelismo
hoje se nutrem das mesmas panelinhas e mazelas.
No
dia 31 de janeiro, a convite do comando da Polícia Militar do Piauí,
ministrei palestra para cerca de 150 fardados, entre oficiais,
coronéis, soldados e comandantes. O tema despertou-os para a
dignidade de exercer a missão de servir a sociedade: “Idealismo e
Vocação”. E dignidade é coisa séria.
Dignidade
é um patrimônio moral que não tem preço, mas valor. Não vende,
não se corrompe, não se troca. Portanto ideais e conquistas merecem
reconhecimento e louvor.
Ideal
vem de ideia, metas e objetivos. Ideal da carreira médica, jurídica,
militar, empresarial. Da conquista da casa própria, carro novo,
mandato político, casamento, família constituída. Refiro-me a
ideais nobres, não os das gestões corruptas, governos desastrados,
políticos e profissionais oportunistas.
Nobres
ideais exigem a prática de virtudes e não convivem com ambições
viciadas e imorais, dinheiro público roubado, heranças e dádivas
ilícitas. Sem virtudes do espírito, pode-se ganhar o mundo, mas se
perde a alma. O mundo utilitarista desdenha do exercício da
espiritualidade, por isso paga caro com vicissitudes da vida.
Provam-se os sobreditos com exemplos de pessoas, aparentemente
felizes, entretanto viciadas e doentes. Parlamentar confessava-me:
“Zé, sobrevivo com dezena de comprimidos!” Arre!
Idealismo
exige paixão, não se deixa levar pelos encantos dos pais, salário
ou status social. Falta algo mais: a vocação. Idealistas são
maioria. Poucos os vocacionados. A vocação é uma espécie de
chamado superior, divino, a convocação para nobre missão.
Espiritualistas se guiam pela sabedoria do alto. Gente simples,
generosa, espírito público, às vezes, subestimada pelo pouco
talento, termina arrebentando na missão para a qual foi convocada.
Profeta Moisés, culto, mas gago e pusilânime, custou aceitar a
tarefa para libertar seu povo da escravidão de Faraó. Rei Davi,
último dos irmãos, pastor de ovelhas, ungido rei, constituiu o
estado de Israel, vencendo batalhas. 12 apóstolos, vindos da
barbárie social, batizados no espírito de Deus, continuaram a
missão de Cristo. Papa João XXIII, origem camponesa, cultura
mediana, sacudiu a Igreja instituindo o Concílio Vaticano II.
Francisco de Assis, rico e boêmio, despiu-se do aparato e abalou o
mundo com o franciscanismo. Papa Francisco, que apaixona todos os
vértices religiosos com fácil retórica e simplicidade de vida.
O
Brasil clama por líderes do bem, vocacionados pelas causas sociais.
Há idealistas pensando mais em si do que além de si. Neste momento
de interesses por candidatura da esposa ou membros da família, uma
mãozinha na consciência até que faz bem. Porque, “do jeito que
está, pior não fica”. O ingênuo humorista tinha razão.
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