segunda-feira, 10 de outubro de 2016

POLÍTICA PARNAIBANA A PARTIR DE 1950 (Parte II)

Dr. Lauro Andrade Correia

POLÍTICA PARNAIBANA A PARTIR DE 1950 (Parte II)

Alcenor Candeira Filho

II.              A N O S 5 0 E 6 0

•             PRESIDENTES DA REPÚBLICA NO PERÍODO:

- 31-01-1951: posse de Getúlio Vargas
- 24-08-1954: posse de Café Filho
- 31-01-1956: posse de Juscelino Kubitschek
- 31.01.1961: posse de Jânio Quadros
- 01-09-1961: posse de João Goulart
- 15-04-1964: posse de Humberto Castelo Branco
- 10-03-1967: posse de Artur da Costa e Silva
- 30-10-1969: posse de Emílio Garrastazu Médici


A)           PREFEITO JOÃO ORLANDO DE MORAES CORREIA

          Como mencionei no artigo “Retorno ao Norte do Piauí”,guardo vaga lembrança das eleições gerais de 1950,  quando  foram eleitos pelo PTB Getúlio Vargas (Presidente), pelo PSD  Pedro de Almendra Freitas (Governador)  e pelo PTB João Orlando de Moraes Correia (Prefeito).
          Além da hospedagem de Getúlio Vargas na casa de João Orlando em agosto de 1950, lembro-me de um episódio que pode ter contribuído para a derrota do candidato a prefeito pela UDN,  deputado Acrísio de Paiva Furtado, que havia ocupado por pouco tempo o cargo de prefeito municipal em 1947.
          Consta que o poderoso industrial José de Moraes Correia, irmão de João Orlando, apoiava a candidatura de Acrísio, que estava muito bem na aceitação popular.
           Com o propósito de reverter a situação, petebistas combinaram com João Orlando uma simulação de tentativa de seu assassinato.  Um tiro de arma de fogo foi disparado da residência do vereador Alcenor Rodrigues Candeira em direção da vizinha casa de João Orlando, que teria desempenhado bem o papel de ator: caiu no chão gemendo bastante. A cidade era pequena e a notícia se espalhou rapidamente. O coronel Zeca Correia imediatamente retirou o apoio a Acrísio Furtado para ficar solidário com o irmão.
          Para alguns a adesão de Zeca Correia não foi novidade:afinal de contas, como corre solto entre maliciosos e gozadores, a família Moraes Correia é semelhante a pintos de granja que se bicam o tempo todo  mas terminam sempre se acomodando na paz familiar.
          A propósito do tiro que teria partido do quintal de minha casa, ouvi um dia minha mãe desabafar: “Em política tenho visto de tudo. De todos os lados. Dizem que feio mesmo é perder eleição”.  E me aconselhava a nunca entrar nesse jogo. Não tenho sido filho obediente, mas jamais me esqueci do conselho.

          Principais realizações:
          - aprimoramento dos serviços de limpeza pública
          - construção do centro comercial
          - construção de escolas
          - pavimentação poliédrica de ruas e avenidas

          Fui amigo do dr. João Orlando. Admirava-o menos como político do que como professor e médico. Dele guardo a imagem de um homem simples, bom, desprovido de ambições materiais e que, pela deficiência auditiva, ouvia rotineiramente, com som bem alto, músicas de Luís Gonzaga.
          João Orlando governou o município no período de 1951 a 1954.


B)           PREFEITO ALBERTO TAVARES SILVA

          A campanha municipal de 1954 foi acirrada e polarizada:Alberto Tavares Silva  (UDN)  contra  José Alexandre Caldas Rodrigues (PTB).
História ou estória marcante da disputa política de 1954  revela que na véspera do  pleito a Justiça mudou o local de votação das seções eleitorais deixando boa parte dos eleitores do PTB desorientados. Muitos teriam deixado de votar.
          Os udenistas, acusados de participação na trama em benefício próprio, revidavam:o pessoal do PTB  foi que articulou com a Justiça e o Ministério Público a mudança das seções eleitorais da Ilha Grande de Santa Isabel,  reduto da família Silva, que ali teria sido prejudicada.
          Se houve realmente mudança de urnas de última hora, qual a versão verdadeira  -  a dos petebistas ou a dos udenistas?  Talvez só o vento responda.
          Conhecido como grande engenheiro e bom administrador, Alberto Silva realizou importantes obras como prefeito nos dois mandatos que exerceu (1948-1950 e  1955-1958),  destacando-se:
          - combate a enchentes
          - abertura e pavimentação de ruas e avenidas
          - construção de escolas
          - construção de postos de saúde

          As mais expressivas realizações de Alberto Silva aconteceram quando exerceu por duas vezes o mandato de Governador do Estado,assunto que será tratado em outra parte deste trabalho.


C)             PREFEITO JOSÉ ALEXANDRE CALDAS RODRIGUES

        Em 1958 o prefeito Alberto Silva e seu irmão João Silva Filho  lançaram pela UDN  a candidatura do Monsenhor Roberto Lopes Ribeiro como candidato a prefeito de Parnaíba, concorrendo com o empresário José Alexandre Caldas Rodrigues (PTB),  que tinha o apoio de seu irmão Francisco das Chagas Caldas Rodrigues, candidato a governador do Estado,  e do coronel Epaminondas Castelo Branco (PSD).
          O padre Roberto, como gostava de ser chamado, era forte candidato em razão das obras que realizou na cidade, destacando-se a construção  da igreja     de São Sebastião  e a Igreja de São José, além da construção do Ginásio Clovis Salgado.
          Sacerdote dinâmico, o padre Roberto foi professor e um dos fundadores do Ginásio Parnaibano, hoje Colégio Estadual Lima Rebelo.
          Diferentemente do que se poderia imaginar, a cúpula da Igreja Católica em Parnaíba apoiou, embora discretamente, José Alexandre por influência do deputado Chagas  Rodrigues, muito estimado pelo clero parnaibano.
          Para agradecer o recebimento do livro O CRIME DA PRAÇA DA GRAÇAo escritor Assis Fortes, ex-seminarista e amigo pessoal do primeiro bispo de Parnaíba, Dom Felipe Conduru Pacheco  (1946-1959), me enviou uma carta, em 18-06-2008, com revelações importantes:

       “Dom Felipe tinha, como eu tenho ainda hoje, um certo amor de predileção pelo nosso eterno governador Chagas Rodrigues, o melhor governante que o Piauí já teve. Não poderia Dom Conduru fazer campanha para o Monsenhor Roberto Lopes e por tal motivo sofreu amargamente por optar, embora discretamente, pela candidatura de José Alexandre, irmão de Chagas, o grande benfeitor da Diocese, quando era deputado federal. Sei dessas coisas porque, além de merecer confidências de Dom Felipe, trabalhei nas campanhas do PTB, em prol  de Chagas Rodrigues”.

          O acontecimento de maior repercussão durante o primeiro ano da gestão de José Alexandre foi o assassinato de Alcenor Rodrigues Candeira, em 11 de outubro de 1959.
          José Alexandre administrou a cidade no período de 1959 a 1962, deixando como principais realizações:
 - luta pela estadualização do Ginásio Parnaibano
          - luta pela estadualização da Escola Normal Francisco Correia
          - luta pela implantação de ensino superior em Parnaíba
          - abertura de estradas vicinais
          - calçamento de ruas e avenidas
          - ampliação da rede municipal de ensino.
           Por sua firme e corajosa posição política contra o regime militarfoi-lhe cassado o mandato de deputado estadual em 1964 e punido com a redução dos direitos políticos.


D)             PREFEITO JOSÉ QUIRINO MEMÓRIA

   Com a renúncia de José Alexandre para candidatar-se a deputado estadual em 1962, assumiu a chefia do Executivo o Presidente da Câmara Municipal José Quirino Memória, filiado ao PTB.
          O vice-prefeito era o dr. Mariano Lucas de Sousa, pertencente ao PSD,    liderado pelo coronel Epaminondas Castelo Branco. Por que o dr. Mariano não assumiu a função  de prefeito?  Até hoje não entendo o gesto do grande e querido médico. Teria sido por pressão de líderes do PTB que não  queriam que o PSD ocupasse o elevado cargo?
          José Quirino executou várias obras no curto espaço de tempo em que administrou Parnaíba, tendo, segundo a professora Aldenora Mendes Moreira, em livro citado na bibliografia, “realizado uma administração caracterizada por realizações marcantes onde deixou o traço indelével de seu  trabalho e de sua honestidade”.


E)               PREFEITO LAURO ANDRADE CORREIA

         Nas eleições municipais de 1962 três candidatos disputaramo cargo de prefeito municipal: Cândido Oliveira (UDN), José Oscar Freitas (PSD) e Lauro Andrade
Correia (PTB), que foi o vencedor.
          Logo que assumiu o cargo, Lauro Correia enfrentou uma grande batalha pela preservação da integridade territorial do município. A Assembleia Legislativa do Estado do Piauíhavia aprovado e o Governador Petrônio Portella sancionado  as leis que criaram os municípios dos Morros da Mariana e de Bom Princípio, dilacerando o domínio territorial de Parnaíba.  O objetivo principal do desmembramento era beneficiar os candidatos derrotados , que deveriam ser contemplados com os cargos de prefeito desses povoados.
          O prefeito Lauro Correia, derrotado politicamente nesse episódio, foi vitorioso no Supremo Tribunal Federal, que julgou inconstitucionais as referidas leis.
          Outra ocorrência relevante durante asua gestão foi o
envolvimento de políticos do PTB (José Alexandre Caldas Rodrigues, Lauro Andrade Correia, José Nelson de Carvalho Pires, Ary Castelo Branco Uchoa, João Batista Ferreira da Silva, Benedito Ferraz e outros) no episódio da surra dada em 1965 pelo Coronel do Exército Pedro Borges e outros teresinenses no Capitão dos Portos do Estado do Piauí,
Capitão de Corveta Manuel Jansen Ferreira Neto. Tempos de ditadura militar instalada no país com o golpe de 31 de março de 1964, período em que o direito da força sobrepunha-se à força do direito, com prisões políticas e cassações de mandatos eletivos. Uma das vítimas foi Lauro Correia que sofreu ameaças de prisão.
          Lauro Correia foi prefeito de Parnaíba no quadriênio
1963 a 1966, realizando a primeira administração planejada em território piauiense, através dos Planos Quinquenal, Diretor e Urbanístico, bem como dos Códigos de Posturas,
de Obras e Tributário.
          Outras realizações:
          - Oficialização do Hino da Parnaíba e de outros Símbolos Municipais: Bandeira, Armas e Selos
          - aquisição de sede própria para a Prefeitura na avenida Presidente Vargas
          - campanha pela construção da Barragem de Boa Esperança
          - implantação do serviço de abastecimento d´água tratada e canalizada
           -Construção do Centro Cívico.
          Lauro Correia foi presidente da Federação das Indústrias do Estadodo Piauí, um dos fundadores da Faculdade de Administração de Parnaíba em 1969  e diretor do Campus Ministro Reis Velloso  da Universidade Federal do Piauí, da qual é professor emérito.


F)              PREFEITO JOÃO TAVARES SILVA FILHO

Ingressou na política na década de 1950, elegendo-se vereador e vice-prefeito.
          Médico humanitário, simples, estimado pela população,- João Silva foi um dos grandes prefeitos de Parnaíba,  com dois mandatos.
          No primeiro governo executou uma das obras mais importantes da história administrativa da cidade: a construção de muretas de proteção contra enchentes nos dois lados do rio Igaraçu: bairros Coroa (Nossa Senhora do Carmo), Tucuns (São José)e  Ilha Grande de Santa Isabel. Com essa iniciativa foi solucionado definitivamente o problema de alagamentos na cidade.
     Com o apoio do irmão Alberto Silva, então presidente   da CENORTE, em Fortaleza, conseguiu trazer para a cidade a energia elétrica de Paulo Afonso, depois substituída pela energia de Boa Esperança, bem como o sinal de televisão.
          No segundo governo destacam-se as seguintes obras:
          -Abertura e pavimentação de novas ruas e avenidas
          -Construção do calçadão central e jardins ao longo de boa parte da avenida São Sebastião
          - Construção de escolas, creches e postos de saúde.
          Um dos episódios típicos da politicagem aconteceu na eleição para prefeito no ano de 1982, disputada por João Silva contra Mão Santa, que já havia sido derrotado na eleição anterior por Batista Silva, que governou o município de 1977 a 1982. Refiro-me a um comício promovido nos Morros da Mariana por João Silva. A turma do Mão Santa espalhou  na estrada para o antigo povoado pedaços de madeira com pregos expostos para furarem pneus de veículos de opositores. O episódio inspirou a musiquinha “Ai preguinho”, tocada em rádios e em comícios, infernizando a vida de Mão Santa, derrotado pela segunda vez.
          João Silva governou o município durante dez anos, com dois mandatos : 1967-1970 e 1983-1988.

          Nas suas gestões  merece ainda destaque o papel desempenhado por Almira  Moraes e Silva  como primeira dama e titular da Secretaria de Assistência Social do Município na organização do trabalho dos artesãos parnaibanos.

(Continua na próxima semana)

Nenhum comentário:

Postar um comentário