sexta-feira, 11 de maio de 2018

A BALADA DE NARAYAMA

Fonte: Google


A BALADA DE NARAYAMA

Valério Chaves
Des. inativo do TJPI



                Na vida do servidor público brasileiro que completa 75 anos de idade talvez aconteça a mesma forma como na lenda mostrada no filme “A Balada de Narayama”, do diretor japonês Shohei Imamura (Palma de Ouro 1983).  

                A história do filme é baseada numa lenda sinistra chamada Ubasuteyama, que retrata a ideia do Monte Deus Narayama, considerado pelos japoneses como curador dos envelhecidos.

                Trata-se de uma realidade dramática vivenciada no século XIX na época do Japão feudal e extremamente pobre, onde uma comunidade de aldeões de agricultores travava uma luta diária pela sobrevivência, sendo preciso dosar a disponibilidade de comida com a quantidade de pessoas a serem alimentadas.

                 Sem médicos e sem remédios, a única alternativa encontrada para a sobrevivência era a morte de quem completasse 70 anos de idade. O homem ou mulher que atingisse essa idade era carregado pelo filho em suas costas até o topo da montanha sagrada de Narayama para morrer junto de outros frágeis idosos adormecidos na neve congelante.

                Em seu ensaio sobre simbolismo (1979) o escritor romeno e cientista das religiões Mircea Eliade (1907-1986), relata que o simbolismo da montanha representava tudo o que estava além do homem na vida que precede a sua morte. É por este motivo - diz ele - que muitas montanhas são tidas como sagradas, pois se elevam verticalmente em direção aos céus e é nelas que o homem pode subir a fim de diminuir sua distância com o divino.

                Paradoxalmente, no Brasil, a partir da vigência da Lei Complementar nº 152/15, que alterou a redação do inciso II, § 1º, do art. 40 e o caput do art. 100 da Constituição Federal, servidores públicos que completam 75 anos de idade, por uma imposição constitucional e rendidos em holocausto ao tempo de vida, são sacrificados no cepo implacável da aposentadoria compulsória enquanto aguardam a morte pacífica.

                A boa nova é que do idoso de Narayama aos dias atuais, a chamada "Terceira Idade" (aqueles com 60 anos ou mais) vem se consolidando como uma nova força alternativa de trabalho para empresários e empreendedores, usufruindo do que têm de melhor e mais saudável, sem trazer desonra ou precisar de um familiar por perto para carregá-lo nas costas rumo ao sacrifício final no alto da montanha existencial.    

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