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A
BALADA DE NARAYAMA
Des. inativo do TJPI
Na
vida do servidor público brasileiro que completa 75 anos de idade talvez
aconteça a mesma forma como na lenda mostrada no filme “A Balada de Narayama”,
do diretor japonês Shohei Imamura (Palma de Ouro 1983).
A
história do filme é baseada numa lenda sinistra chamada Ubasuteyama, que
retrata a ideia do Monte Deus Narayama, considerado pelos japoneses como
curador dos envelhecidos.
Trata-se
de uma realidade dramática vivenciada no século XIX na época do Japão feudal e
extremamente pobre, onde uma comunidade de aldeões de agricultores travava uma
luta diária pela sobrevivência, sendo preciso dosar a disponibilidade de comida
com a quantidade de pessoas a serem alimentadas.
Sem médicos e sem remédios, a única
alternativa encontrada para a sobrevivência era a morte de quem completasse 70
anos de idade. O homem ou mulher que atingisse essa idade era carregado pelo
filho em suas costas até o topo da montanha sagrada de Narayama para morrer
junto de outros frágeis idosos adormecidos na neve congelante.
Em
seu ensaio sobre simbolismo (1979) o escritor romeno e cientista das religiões
Mircea Eliade (1907-1986), relata que o simbolismo da montanha representava
tudo o que estava além do homem na vida que precede a sua morte. É por este
motivo - diz ele - que muitas montanhas são tidas como sagradas, pois se elevam
verticalmente em direção aos céus e é nelas que o homem pode subir a fim de
diminuir sua distância com o divino.
Paradoxalmente,
no Brasil, a partir da vigência da Lei Complementar nº 152/15, que alterou a
redação do inciso II, § 1º, do art. 40 e o caput do art. 100 da Constituição
Federal, servidores públicos que completam 75 anos de idade, por uma imposição
constitucional e rendidos em holocausto ao tempo de vida, são sacrificados no
cepo implacável da aposentadoria compulsória enquanto aguardam a morte
pacífica.
A
boa nova é que do idoso de Narayama aos dias atuais, a chamada "Terceira
Idade" (aqueles com 60 anos ou mais) vem se consolidando como uma nova
força alternativa de trabalho para empresários e empreendedores, usufruindo do
que têm de melhor e mais saudável, sem trazer desonra ou precisar de um
familiar por perto para carregá-lo nas costas rumo ao sacrifício final no alto
da montanha existencial.
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