quarta-feira, 16 de outubro de 2019

VOLTANDO AOS CLÁSSICOS



VOLTANDO AOS CLÁSSICOS

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com

  

                Um cidadão que, como ministro da área econômica, permitiu que o governo a quem servia deixasse o poder com uma inflação acima dos oitenta por cento, mensais, não pode se dar ao luxo, ou, melhor dizendo, ao desplante de criticar   governantes ou aqueles que lhes sucederam, notadamente, se a economia, no geral, melhorou.

                Um indivíduo que, enquanto auxiliar do gestor federal de plantão, em uma época em que, para ele, já se fazia necessária a privatização de nossas empresas estatais – como não, se a figura, invariavelmente, quando escreve ou discursa, diz que o estado brasileiro jamais precisou delas? –, não o propôs, nem aconselhou seu superior a fazê-lo, que moral teria para se arvorar predador, alienador das estatais de que dispõe o país, sem que, antes, um profundo, abrangente, sério e transparente estudo concluísse pela necessidade de negociá-las? Privatizar por privatizar só os muito irresponsáveis, os demagogos, ou os toleirões seriam favoráveis a tal decisão.

                A respeito, ainda, de privatização, o mesmo senhor, certamente, para corroborar sua ideia fixa e recorrente de sugerir aos hodiernos inquilinos dos palácios governamentais e parlamentares que providenciem a imediata alienação, basicamente, de todas as estatais nacionais -  do Banco do Brasil, passando pelos Correios, produtoras de energia e combustíveis, enfim, atuantes em diversas atividades industriais e de serviços -, cita nações onde similares já teriam passado para empreendedores privados – só não diz que muitas foram devolvidas aos estados alienantes, que as receberam para evitar que fossem extintas de vez -, mas, irônica e, hipocritamente, esquece-se de arrolar países ou estados nos quais estatais funcionam e são referência econômica e em produtividade. Casos que poderiam exemplificar essa assertiva, negada pelo falante ex-ministro, ocorrem em Singapura, na Noruega, Hungria, Alemanha, França e, claro, nos Estados Unidos da América. Sim, também os ianques possuem grandes empresas estatais no seu organograma de administração pública, como estas: AMTRAK, estatal deficitária, criada para operar no transporte de passageiros por trem, que ninguém queria administrar em razão do alto custo e pouca, ou nenhuma, lucratividade. Até hoje é subsidiada pelos americanos; Export-Import Bank of the United States, criada para subsidiar exportações, inclusive com linhas especiais de crédito para pequenas empresas. Quem critica o BNDES por tentar linhas de financiamento para exportações, precisaria saber que os Estados Unidos têm um banco para isso; Farm Credit System, que não é apenas um banco de incentivo à agricultura ianque, mas um sistema integrado de crédito que destina bilhões de dólares a agricultores. Quer a boquirrota figura a quem vimos nos referindo, que o Banco do Brasil seja privatizado integralmente, inclusive a carteira agrícola; Tennessee Valley Authority, uma das maiores geradoras e distribuidoras de energia elétrica americana, tomada individualmente; se somadas as produções de U.S. Army Corps of Engineers e U.S. Bureau of Reclamation, o governo/estado seria o maior produtor de energia elétrica.

                Ou o ex-ministro estaria desatualizado no que diz respeito à ciência econômica, ao tentar vender, sabe-se lá a quem, a ideia de que toda estatal precisa ser privatizada, ou sendo, deliberadamente, hipócrita e demagogo, ao esquecer ou se omitir de colocar, entre as nações, países com muitas e grandiosas estatais, como os supracitados Hungria, França, Noruega; ou com poucas, mas enormes e poderosas, como as encontradas nos Estados Unidos da América. Aliás, o Brasil, verdadeiramente, nem é o país com o maior número de empresas estatais.

                A propósito, após tomarmos conhecimento da recorrente e reiterada recalcitrância de ex-ministro – certamente, não detentor de credibilidade técnica e moral para tanto, uma vez que, enquanto auxiliar governamental, sua principal colaboração econômica foi contribuir para que o país amargasse a maior inflação de nossa história -  em tentar nos fazer crer que parte da salvação da economia brasileira passaria pela privatização de todas as nossas estatais. Depois de muito lermos colunistas que, imaginávamos, discordarem da mesmice dos meios de informação para os quais contribuem – invariavelmente, atazanando os governantes de plantão -, quando concordavam com a justiça praticada pelo Judiciário brasileiro em decorrência de crimes apurados, por exemplo, pela Operação Lava Jato, e não que apenas estavam escamoteando suas ideias e posições ideológicas, na verdade, as mesmas de uns maria vai com as outras que viam e ainda veem como vítimas de injustiças, muitos daqueles que, um dia, tais cronistas viram como criminosos devidamente apanhados  pelas malhas da lei e, portanto, objeto, sim, da devida e necessária aplicação de punições legais; em vista disso, estamos decidindo diminuir ou pôr termo à leitura de assuntos em relação aos quais seus autores ou discursistas não nos oferecerem a possibilidade de obtenção de quaisquer ganhos intelectuais ou culturais. Vamos voltar aos clássicos. Aguardem-nos: Tolstói, Machado de Assis, Carlos Drummond, O. G. Rego, Eça de Queirós, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, e tantas outras feras.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário