O INOVAÇÃO E A
PRAÇA DA GRAÇA
Elmar Carvalho
Recebi ontem,
através de e-mail enviado pelo amigo e chargista Fernando Castro, várias
fotografias dos escombros da Praça da Graça, destruída por ordem desastrada do
prefeito João Batista Ferreira da Silva, no final dos anos 70, na intenção de
construir uma nova praça. Da noite para o dia, transformou o coreto, os
jardins, a pérgula, os passeios, com seus belos traçados, em ruínas.
Como eu morava
na referida praça, no apartamento dos Correios e Telégrafos, em virtude de meu
pai ser o chefe da agência da ECT, todos os dias eu enxergava os tapumes que
escondiam os destroços. Os dias e os meses foram passando, e nada de a obra de
reconstrução ser iniciada. Por esse motivo, o jornal Inovação, fundado por
Reginaldo Costa e Franzé Ribeiro, que já vinha “batendo” nos equívocos e
mazelas da administração municipal, começou a denunciar acirradamente mais esse
erro do alcaide Batista Silva e a cobrar
o início das obras, em todas as edições.
Na época, como
todos sabem, não havia internet e Parnaíba contava apenas com a rádio
Educadora, a pioneira na radiodifusão estadual, com o jornal tipográfico Folha
do Litoral e com o Norte do Piauí, salvo involuntária falha de minha memória.
Os dois primeiros veículos de comunicação pertenciam ao grupo dos Silva e o
terceiro, a Mário Meireles. O Inovação, embora na época fosse mimeografado e
feito no formato apostila, vendia mais do que esses dois hebdomadários.
Era comentado,
passado de mão em mão e enviado para fora. Era feito na base de duros
sacrifícios e dificuldades, uma vez que os “inovadores” não tinham recursos
financeiros. Não entrarei em detalhes, posto que seria uma longa história, e
uma vez que já escrevi um trabalho sobre esse assunto, intitulado “Jornal
Inovação – um Depoimento”, que se encontra na internet, bastando que se recorra
aos sites de procura ou pesquisa.
Certa noite,
quando eu saí do apartamento para a rua, vi os tapumes serem derrubados por
várias pessoas. Após, foram empilhados e incendiados. Imediatamente, montei em
minha motocicleta e fui chamar o Reginaldo Costa e o Bernardo Silva, que
moravam na rua Vera Cruz. Eles haviam acabado de chegar de Teresina, onde
mantiveram contato com o advogado Celso Barros Coelho, para se defenderem de um
processo criminal que o prefeito havia ajuizado contra eles, o qual terminou
sendo arquivado pelo juiz e contista Magalhães da Costa, que depois chegou a
desembargador e passou a pertencer à Academia Piauiense de Letras.
Recentemente,
os membros do Inovação foram chamados por certo jornalista de “mumificados”, os
quais teriam como feito mais relevante o fato de terem derrubado os tapumes e
lhes terem ateado fogo. A afirmativa mereceu resposta do jornalista B. Silva,
que disse nunca nenhum dos membros do Inovação ter reivindicado tal “heroísmo”.
Também foi repudiada por Reginaldo Costa e Wilton Porto.
Com efeito, não
fomos os “inovadores” que tocamos fogo nas tábuas que formavam o que o jornal
chamava de “muro da vergonha”. Entretanto, podemos afirmar categoricamente que
foi a campanha vigorosa e isolada desse pasquim, que foi contra a destruição da
praça e que clamava pela sua reconstrução no modelo antigo, que achávamos muito
mais belo, além de que fazia parte da memória afetiva, sentimental e histórica
da velha urbe, que provocou aquele verdadeiro levante da juventude parnaibana.
No dia seguinte
(31.08.1979), houve uma mistura de passeata cívica e carnaval, com carros
desfilando em redor da praça, com foguetes, bombas e buzinaços estilhaçando o
silêncio da manhã radiosa. O fato mereceu uma edição especial e histórica do
jornal. Podemos afirmar que foi graças ao bom combate do Inovação que a
reconstrução do logradouro tomou ritmo acelerado.
No entanto, o
jornalista cometeu outro grave erro, porquanto as “múmias” estão mais vivas do
que nunca, porque continuam escrevendo, publicando livros, colaborando com
jornais, revistas, sites e blogs, exercendo seus cargos, encargos e funções;
inclusive, vários “mumificados” pertencem às principais instituições culturais
de Parnaíba e do Piauí. O nobre jornalista é que parece haver perdido o faro e
o bonde da história.
27 de abril de 2010
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