Elmar Carvalho
A casa vive em mim
com os seus grandes medos
e grandes sobressaltos
com os seus porões
e os seus alçapões cheios de ratos
e gradeados por grandes teias de aranha.
A casa vive em mim
com seus insetos nojentos
e com suas aranhas
desenhando circunlóquios
através das circunferências das teias
repletas de arabescos e rococós.
A casa vive em mim.
Vive em mim
com seus gemidos
de fantasmas que
arrastam correntes
por entre ais doloridos.
Vive em mim
com suas lamentações de suicidas
que gemem e gemem.
Vive em mim
com os ruídos de passos misteriosos
com suas portas e
janelas que se abrem
e fecham por mãos invisíveis.
Vive em mim
com os ruídos cadenciados
de botas que passam
passam no limiar
do grande mistério
entre o ser e o
não ser.
A casa é um navio fantasma
que navega no tempo e na memória
com seus pios de corujas
e seus arrepios de
esvoaçantes morcegos e
esgarçantes rasga-mortalhas.
Ai, casa dolorosa
de infinitas recordações
do não acontecido e
do não vivido.
Casa que não existiu
mas que permanece de pé
em minha lembrança
com seus escombros
com tuas teias de aranhas
com seus lodos desbotados
e com suas heras que se fecham
como dedos, tentáculos ou raízes
para que ela permaneça para sempre
com seus sustos, com suas angústias
e seus medos.
A casa sempre persistirá
nas músicas passionais de algum boteco
criando ressonâncias que repercutem
insistentemente como eco.
Esta casa fica em Parnaiba? por lá tem uma muita parecida que me encanta quando passo por lá, é meio sinistra, mas é bonita demais.Meu filho quando era pequeno dizia que era a casa da bruxa malvada.
ResponderExcluirA casa da fotografia, não sei, uma vez que foi fisgada nos mares internéticos. A do poema, ficava na Areolina de Abreu, ao lado da agência da CEF, onde fui membro de uma república, na qual falecera um suicida. Na porta de meu quarto, alguém pintara um poema elegíaco do poeta e amigo Hardi Filho. Lógico que a casa do poema também existia em minha imaginação. Esta foi a gênese dos versos.
ResponderExcluirFoi uma observação apressada, a casa que me refiro fica na avenida que trafegamos quando estamos retornando de Luis Correia, parece mais um castelo e tem ares de mal assombrada.Não li o poema antes de fazer o comentário, agora feita a leitura posso entender melhor.
ResponderExcluirOlá poeta,
ResponderExcluirSou só um vizinho desconhecido, observando de longe sua casa, e me reconhecendo nela... ou em sua descrição...
Parabéns pelo belo poema.
Tadeu - Minas Gerais
Na verdade, todos nós, de certa forma, trazemos em nosso espírito e em nosso inconsciente uma casa que nos marcou, e da qual jamais esqueceremos...
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