Elmar Carvalho
7 de fevereiro
NOMES PRÓPRIOS IMPRÓPRIOS
Fui informado pela chefia do Cartório Eleitoral de que fora criada uma duplicidade de filiação por causa de um caso curioso. Duplicidade é quando um eleitor é filiado a dois partidos, o que não é permitido por lei. Em alguns casos, trata-se de pessoas diferentes, mas homônimas, mas logo se descobre a verdade através da filiação ou da data de nascimento. Porém, no caso que me foi informado, os pais tinham o mesmo nome e os dois filiados tinham nascido no mesmo dia. Os sobrenomes eram os mesmos e os prenomes eram praticamente iguais. Eram Luiz e Luís. A mãe, no auge da empolgação materna e no afã de homenagear o santo que lhe teria feito uma espécie de milagre, batizou os gêmeos com o mesmo nome, homófonos e homógrafos, com a única diferença da troca de um z por um s. É claro que o problema será resolvido, mas foi criada uma situação embaraçosa, que poderá acarretar algum constrangimento aos envolvidos. Contudo, tenho ouvido falar de situações mais graves, cujos nomes servem de zombaria e escárnio aos seus possuidores. Nomes como Flávio Cavalcante Rei da Televisão, Osama Bin Laden, Lady Diana devem provocar risos, ou até mesmo chacotas. Muitas vezes os pais sequer sabem pronunciar corretamente o nome do filho, quanto mais escrevê-lo. Antes de pensarem na satisfação que o exotismo e bizarrice desses nomes lhes causam, deveriam pensar nos problemas e traumas que eles poderão provocar em seu filho. Numa das cidades em que trabalhei, ouvia falar em certo Jamim. Pensei que se tratasse, evidentemente, de Jaminho, cujo pai se chamasse James. Somente por ocasião de uma audiência, em que esse Jamim era parte, foi que descobri que ele de fato se chamava James Dean, sendo ele naturalmente uma homenagem ao ator norte-americano. Acredito que o bisonho pai do menino Osama sequer soubesse ao certo quem era o verdadeiro Osama e a razão de sua triste e trágica celebridade. Soube que em certa cidade do Piauí, uma mãe, por causa de uma promessa ao santo de sua devoção, deu o nome Raimunda Cândida da Conceição a cinco filhas. Criou uma verdadeira dinastia de Raimundas: a primeira, a segunda, a terceira... Não satisfeita com tantas Raimundas, batizou quatro filhos com o nome de Raimundo. Drummond, obviamente para rimar com mundo, disse que se se chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Haja tantas Raimundas e Raimundos! Não sei por que razão, mas as pessoas de nome Raimundo parecem não gostar muito desse nome, e geralmente são chamadas de Rai ou Ray, Mundico, Mundoca, Mundinho ou simplesmente R. E as Raimundas, por causa da rima com certa parte protuberante e posterior do corpo, também são um tanto ariscas com esse nome próprio (ou impróprio?). Todavia, há os que assimilam bem os seus nomes esquisitos e até os ostentam com glória e orgulho, como o João Bosta da anedota, que foi consultar o juiz a respeito de mudar o seu nome. O magistrado disse que a mudança, em seu caso, não só era permitida como até recomendável, e lhe perguntou sobre que nome gostaria de ter, ao que o consulente respondeu que gostaria de se chamar Pedro Bosta. Sua implicância, portanto, não era com o Bosta, mas com o João, talvez por causa da estória do João Besta. Contudo, deixo a advertência aos pais: cuidado com o nome que irão dar a seus filhos. Lembrem-se de que quem irá usá-lo é o rebento, e é este que sofrerá as consequências de seu exotismo e excentricidade, através de risos, mofas, escárnios e zombarias. Consequentemente, é o filho que poderá amargar constrangimentos e mesmo traumas por causa de um nome próprio impróprio.
Prezado bardo,
ResponderExcluirAchei essa estória hilária. Acredite, eu gargalhei ao ler o caso do João Bosta, para mim era inédito!
Talvez seja descabida para o momento, mas quero aproveitar a oportunidade para lhe fazer uma pergunta:
Qual é o diferencial de um cancioneiro em relação ao outro em "Rosa dos Ventos Gerais"? Desculpe a minha igorância ou falta de entendimento para tanto, mas não consegui notar o que diferencia um poema do Cancioneiro do Fogo de um poema do Cancioneiro do Ar, por exemplo.
Respeitosamente,
Nelson Rios
Leitor
Caro Nelson,
ResponderExcluirOs poemas, de diferentes temáticas, eu os fui escrevendo ao longo de minha vida, tanto que uns são ainda de minha adolescência, outros da juventude, enquanto alguns são de minha maturidade. A divisão, tal como foi feita, é mais de ordem temática e/ou formal. Assim, o Cancioneiro do Ar aglutina os poemas líricos, elegíacos e que versam assuntos mais abstratos; o Cancioneiro do Fogo colige os poemas sociais, de denúncia, em que as mazelas políticas são expostas; o Cancioneiro do da Terra e da Água é composto pelos poemas que cantam e louvam as paragens e paisagens do Piauí; por fim, o Cancioneiro dos Ventos Gerais compila os meus chamados poemas épicos modernos, que são bem maiores que os demais, e geralmente são subordinados a um tema comum, que lhes dá a devida unidade, como é o caso, apenas para exemplificar, de A Zona Planetária, Dalilíada e PoeMitos da Parnaíba, bem como os poemas cujos temas não se enquadram nos Cancioneiros anteriores. Mas vc pode tirar sua própria conclusão interpretativa, e se for diferente da minha tanto melhor, pois para mim quanto mais um poema suscite diferentes interpretações mais o considero rico de conteúdo e de significados.
Obrigado pela aula. A partir de agora a minha leitura terá um norte.
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