Odontólogo, professor, contista, poeta, romancista, jornalista, João Pinheiro nasceu na cidade de Barras, a 16 de maio de 1877. Foram seus pais o tenente-coronel João José Pinheiro e sua primeira esposa Maria Castelo Branco.
Na cidade natal cursou as primeiras letras, mudando-se depois para a próspera cidade de Parnaíba, a fim de continuar os estudos e trabalhar no comércio. No início da década de 1890, muda-se para Teresina, Capital do Estado, onde cursa os estudos preparatórios. Em 1895, transfere-se para Salvador, na Bahia, matriculando-se na Faculdade de Odontologia e concluindo o curso no final do ano de 1898. Nesse período, além dos estudos técnicos da profissão que abraçara, aprimora seus conhecimentos estudando tudo que havia de mais moderno em romance, conto, poesia e crítica literária. Torna-se um homem culto.
De regresso a Teresina, retoma esses estudos literários, adquirindo novos livros e formando seleta biblioteca de obras literárias. Em 1907, testemunhou o futuro acadêmico Matias Olímpio de Melo, que João Pinheiro possuía a maior biblioteca literária de Teresina, não aparecendo livro novo que ele não desejasse conhecer, que não procurasse ler. Esses livros eram adquiridos com enorme sacrifício, custeados principalmente com sua remuneração de lente de Português no Liceu Piauiense. Todavia, pobre de recursos materiais, ao casar-se teve de desfazer-se de sua estimada biblioteca. Essa informação foi repassada por Higino Cunha, em 1913: “Mas um dia entendeu de constituir, por sua vez, a sua família própria, o seu ninho de amor. E, como quem casa, quer casa, lá se foi a livraria de águas abaixo, ficando somente em seu poder, como relíquias d’antanho, as obras de Eça de Queiroz. É fácil imaginar o dilaceramento daquela alma, despedindo-se dos seus companheiros adorados, adquiridos com longo e ímprobo labor” (Diário do Piauí, 23.05.1913. In: Literatura Piauiense. Maria do Socorro R. Magalhães).
De fato, ao concluir os estudos superiores, João Pinheiro abriu consultório odontológico em Teresina, um dos primeiros da cidade, exercendo a profissão por toda a vida com distinção e competência. Também, abraçou o magistério como professor de Português no Liceu Piauiense e na Escola Normal do Piauí. Segundo relato de familiares, lecionava no turno da manhã e atendia no consultório à tarde, reservando as primeiras horas da noite para leituras e confecção das próteses dentárias que lhe eram encomendadas. Dirigiu o Liceu Piauiense por largos anos e foi diretor da Instrução Pública do Estado do Piauí.
Desde a mocidade dedicou-se ao jornalismo, dirigindo o Almanaque Piauiense(1903 – 1905), e as revistas Litericultura e Alvorada. Foi redator dos jornais A Luz, A Semana, A Pátria, Correio de Teresina, O Reator, A Revista, A Imprensa, assim como das revistas da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense e o Almanaque da Parnaíba.
Na literatura, João Pinheiro estreou em 1895, aos 18 anos de idade, ainda estudante preparatoriano, com o lançamento do livro de poemas Falenas e Sílfides, de parceria com o colega José Luís Batista. Mal recebida pela crítica, essa obra foi considerada fraca, sem mérito literário. Porém, teve o seu talento reconhecido em 1906, com a publicação pela Casa Leuzinger, do Rio de Janeiro, do livro Solar dos Sonhos, contendo 25 poemas e sonetos, todos já publicados nos jornais de Teresina. Firma, então, seu nome como poeta. No entanto, o seu grande talento revelar-se-ia na ficção, com a publicação de À Toa... (aspectos piauienses), focalizando os costumes, tradições, enfim, a paisagem física e humana do Piauí. Em seguida, publica Fogo de Palha(1925), outra coletânia de contos de cunho regionalista; Chiquita(s/d), romance de costumes; e Literatura Piauiense – escorço histórico(1937), primeira compilação de autores e crítica literária do Piauí. Essa última obra resgata a memória de muitos intelectuais piauienses então esquecidos, sem a qual hoje talvez não os conhecêssemos. Deixou inéditas Páginas de Antanho e Papa-Fogo.
Em 1917, participou da fundação da Academia Piauiense de Letras, tomando assento na Cadeira n.º 02. Foi eleito Secretário Geral da nova Instituição. Em 1918, ajudou a fundar o Instituto Histórico e Geográfico Piauiense. Foi sócio-correspondente da Academia de Letras do Rio Grande do Norte.
Foi casado com Dona Genoveva Saraiva Ribeiro, de quem houve algumas filhas varoas, entre essas Ari Pinheiro, mãe do poeta Fred Pinheiro. Faleceu repentinamente, em 1946, na cidade do Rio de Janeiro, onde se encontrava em visita a familiares.
Falando sobre a personalidade do tio, depõe o também acadêmico Celso Pinheiro Filho, que João Pinheiro “gostava de andar sempre ‘rigorosamente vestido com terno de casimira inglesa, colarinho duro e colete’. Na hora da refeição vestia palitó, mesmo que estivesse sozinho. Tinha por hobby colecionar selos e desenvolvia preferência pelos estudos históricos, não se aprofundando no gênero por absoluta falta de tempo” (MORAES, Herculano. O Universo Multifacetado de João Pinheiro. In: Academia Piauiense de Letras – Os fundadores, 1997).
Sobre a obra literária, disse Matias Olímpio: “É um escritor regionalista, e este deve ser o seu maior título(...). É, sem dúvida, um exímio contador de sugestivas histórias, conteur, dos melhores que possui o Brasil. O autor, neste livro (À Toa), se revela um exímio prosador. O seu estilo é doce, fácil, tomando tonalidades empolgantes. Há na sua obra muita observação e é, sobretudo, interessante para nós, porque todos os contos são calcados em lendas piauienses que a tradição conserva, ou sobre fatos que efetivamente se deram e dos quais muitos de nós fomos contemporâneos”.
Em suma, João Pinheiro deu uma nova dimensão à história curta, ao conto, resgatando tradições, lendas e costumes, de forma que deixou seu nome indelevelmente gravado na literatura piauiense. Em sua homenagem, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Piauí, instituiu, há mais de duas décadas o “Concurso de Contos João Pinheiro”, premiando jovens escritores e reconhecendo o mérito do homenageado, ao qual nos associamos.
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