Fonseca Neto
Posse de desembargador tem pompa e circunstância. Assisti a uma posse dessas no Tribunal de Justiça do Piauí, neste 2 de março – que também marca a fundação oficial e mariana da hoje Oeiras, em 1697, no coração dos sertões. Posse desembargatória de um filho do campo, vindo das ribeiras do Alpercatas/Itapecuru, de entre Mirador e Colinas, antiga Picos do Maranhão – Hilo de Almeida Sousa.
Na circunstância, os discursos de praxe: do presidente, as honras da casa ao chegante, e palavra firme em defesa da Justiça-instituição; do “benjamin”, o caçula dos pares, o oferecimento da convivialidade respeitosa; do presidente seccional da OAB, a reverberação enfática da Carta magna, acima de, e obrigando a todos; o representante ministerial, o aval reiterado ao colega de MP que enviou para o TJ.
Na pompa, a condecoração do garoto lá do vão do Mocambinho, “do coco”, isto é, do novo desembargador, com as insígnias máximas do Judiciário piauiense. E na circunstância, para imposição da medalha e enfaixamento, o presidente chamou a esposa do agraciado e o ministro do TST presente, Brito Pereira, isto é, outro garoto, este vindo da mata do Brejão, lá de perto da Sucupira e do mesmo Mocambinho.
E também na circunstância, sem pompa, mas solene, a palavra do empossando. Disse da nova missão, e das altas responsabilidades que o esperam; da expectativa do bom acolhimento na colegialidade; sua fé na magistratura. Agradeceu sobretudo a Deus, acima de tudo: pelos pais, manos, filhos, esposa, sogros, cunhados, que tem; aos pares de ontem, aos novos pares e ao governador – que estava à mesa de honra – pela escolha para a nova função pública; ao próprio Piauí, e à cidade de Teresina, que o acolheram, desde quando aqui chegou para estudar no Liceu Piauiense, anos 70. Invocou a memória do padre Jaime Negromonte, para agradecer, sinceramente, a acolhida que teve então em sua Instituição de apoio aos jovens.
E foi muito efusivo e especialmente fez referências e agradecimentos à sua escola na cidade de Colinas, o Cinec, Centro Integrado de Educação de Colinas, que é a escola ginasial dele, minha e do João Batista – que é o ministro do TST acima referido –, do Inaldo Galvão, Wilson Fonseca, Luiz Gonzaga Neto, Juscelino Ferro, Hamilton Raposo, Sara Coelho, Adão Rodrigues, Antonio Carlos, Lia, Beth e Natércia Macedo, e outros tantos, que ali estivemos a testemunhar-lhe a ascensão a tão honrosa função de Estado – honroso quanto gravada de desafios, a requerer juízo, equilíbrio: sabemos, evitará certa pragmática fundada na visão fatalista, às vezes temerária, do “tudo se transforma enquanto ao necessário fim das coisas”. Hilo homenageou, com todo o carinho dele, e nosso, às queridas professoras Estela Rosa e Nonata Silva – esta veio e a tudo também assistiu.
Nas lembranças do Cinec, do diretor, idealista contumaz, e, em parte, responsável pelos nossos destinos, o padre José Manuel de Macedo Costa, com vida dedicada à Educação e que, reunindo valorosa equipe, animou, na segunda metade dos anos 60, uma escola reinventada, integral, da qual fez uma República livre, em meio a uma ditadura que estropiava o Brasil. Hilo discursou os versos do refrão do hino escolar do nosso canto, de autoria de outro padre de lá, Manuel da Penha: “Colinenses, de pé, contemplai! / novo sol no horizonte a nascer, / entre o verde de nossas coliiinas, / vai surgindo o farol do saber.” E ali, solenemente, no TJPI, era parte do mundo jurídico e político piauiense que o contemplava.
No novo desembargador essas tantas marcas positivas de uma cidade e de uma experiência educacional que fora, na palavra do escritor Jomar Moraes, “uma escola de vida, um laboratório de cidadania”. Antecipada! Tendo presente que a “Consciência há de ser Escrava da Justiça”.
Um maranhense no TJPiauí? Lembro ao Hilo que, daqui para lá, vários notáveis piauienses serviram a nossa secular comarca do Alto Itapecuru, entre aquelas colinas da Serrinha e do Canto Talhado: Henrique Couto, Antonio José de Sousa, Jethro Macedo... Além do quase piauiense Higino Cunha, que por lá foi juiz municipal. O advogado e capitão Severino José Teixeira e a professora Florinda Teixeira Nunes pertencem a essa forja Mirador/Colinas/Piauí.
Você sabia, Hilo, que aqueles lugares de nossa nascença são a franja úmida dos sertões da jurisdição da vicararia da vara inaugurada naquele dia 2, acima dito, célula-tronco da Justiça piauiense?
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