Francisco
Miguel de Moura*
Não
se assuste, leitor, por falar em DEPRESSÃO. Não sou médico,
sou poeta, formado em Literatura, mas nunca gostei de lecionar: já o
fiz por pouco tempo, depois que deixei a Faculdade. Gosto mesmo é de
ler e escrever, ilustrar-me vendo museus e ouvindo concertos musicais
ou mesmo “shows” de artistas populares, aqueles que são da minha
predileção. Compreenda-se, desde então, que não
tenho ídolos, mesmo na poesia. Muito menos na música.
Falado em poesia, aproxima-se o dia em que lançarei minha obra melhor, reunida sob o título de “POESIA IN COMPLETA”, da qual já publiquei o primeiro volume em 1997, sob os auspícios da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, sendo que o segundo volume virá brevemente encartado no primeiro volume, pois os dois é que mostram a minha “fortuna poética”, porém agora já com o título de CINQUENT’ANOS DE POESIA, meu testemunho e meu testamento, quando completarei meus 50 anos de atividade literária (“AREIAS”, minha estréia, foi em 1966).
Se até agora não escrevi nada sobre depressão, aqui, não tenho dúvida, minha obra poética é cheia dela, do meu estado, do meu ser, da minha dor e de umas tantas alegrias: – o mundo é dual, o feio não existe sem o bonito, o doce sem o amargo, e assim por diante, todas as manifestações do espírito. Assim, um assunto está bem encaixado no outro: poesia e tristeza, poesia e alegria. Eu sempre fui uma “criatura" depressiva, ensimesmada, mesmo quando criança. Gostava de brincar sozinho, mais do que com outros companheiros. E desde os dez anos me soltava pelas caatingas do lugar “Curral Novo”, município de Francisco Santos, mas naquele tempo Jenipapeiro – fazenda do município de Picos. Ouvia os passarinhos cantarem de manhã cedo e achava muito bonito. Como com a maioria dos sertanejos daquele tempo, a vida começava pelas cinco horas da manhã. Menino, menino, sem obrigação, ficava descobrindo os cantores e seus cantos. Mas quando o sol ia esquentando, de “besta” ou “baladeira” à mão, sem ter matado um só passarinho, voltava pra casa, para o almoço. À tarde é que eu achava triste. E vejo-a (a tarde inclui o anoitecer) ainda hoje como um período de tristeza diária. Neste momento tiro da gaveta um poema de Camilo Pessanha, português da época do romantismo denominado “Crepuscular”, que satisfaz bem à expectativa de quem vier a ler esta crônica:
“Há
no ambiente um murmúrio de queixume,
De
desejos de amor, d’ais comprimidos...
Uma
ternura esparsa de balidos,
Sente-se
esmorecer como um perfume.
As
madressilvas murcham nos silvados
E
o aroma que exalam pelo espaço,
Tem
delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos,
femininos, delicados,
Sentem-se
espasmos, agonias d’ave,
Inapreensíveis,
mínimas, serenas...
-
Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O
meu olhar no teu olhar suave.
As
tuas mãos tão brancas d’anemia...
Os
teus olhos tão meigos de tristeza...
-
É este enlanguescer da natureza,
Este
vago sofrer do fim do dia”.
Quem ler este poema acabará sentindo o desprazer do fim do dia, aquele esmorecimento, aquela quebra da luz ante a treva. Um sinal depressivo. Quem não tem o mal da depressão suporta bem e “numa boa”, até encontrar as luzes naturais e/ou artificiais da noite.
Não quer o articulista afirmar que todo poeta é depressivo, sofre de depressão. Todos, não. A maioria, sim. Que se leia Fernando Pessoa, Emílio Moura, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, o próprio Drummond... São depressivos, sim.
Seus poemas aqui e acolá apontam como disse Camilo Pessanha: “ESTE VAGO SOFRER DO FIM DO DIA”.
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*Francisco
Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras,
mora em Teresina, Piauí, tem curso de Licenciatura em Letras,
Pós-graduação em Crítica de Arte, além de outros cursos. Foi
professor, bancário, radialista, atualmente é apenas escritor,
aliás o que tem sido desde os 14 anos, especialmente poeta.
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