Foto meramente ilustrativa |
23 de maio Diário Incontínuo
O MARIDO VOYEUR
Elmar Carvalho
Narrei a um tenente, amigo meu, um caso que foi contado,
muitos anos atrás, a um outro amigo, por um velho marinheiro
aposentado. O caso era um tanto escabroso, inusitado e tinha algo de
tara bizarra. Mal terminei de contar essa história, algo chocante, o
tenente disse:
- Tenho algo muito mais interessante para contar, e que
aconteceu comigo mesmo.
Como eu tenha duvidado, o tenente reafirmou que o seu
caso era mais inacreditável, e contou-me o que passarei a relatar.
Talvez algum dia eu crie coragem para escrever sobre o caso
acontecido com o velho marinheiro e sua mulher.
Quando o tenente, então sargento, servia em outro
estado, antes de regressar definitivamente ao Piauí, sua terra
natal, foi a uma festa na capital dessa unidade federada. Para seu
contentamento, uma mulher, muito bonita e muito bem trajada, com
roupas que lhe assentavam divinamente, começou a olhar para ele com
certa insistência. O tenente é do tipo paquerador, e tratou de
corresponder ao flerte da madame. Ela veio até ele e o convidou para
dançarem. O meu amigo, lógico, não se fez de rogado. Não demorou
e já estavam aos beijos, abraços e amassos.
A mulher convidou o bravo militar para que fossem até
sua casa, a pretexto de que lá estariam em segurança, e teriam
conforto e um bom uísque. O tenente desta feita ficou muito
desconfiado, temendo algum tipo de cilada. Fez algumas perguntas,
entre as quais se ela era casada. A mulher disse que ele não se
preocupasse, pois o maridão viajara para o exterior, a serviço, e
só voltaria dali a alguns dias. O meu amigo continuou arisco, afinal
era, como dizem, “muita areia para o seu caminhãozinho, e muita
carne para o seu açougue”. Por outro lado, matutou o militar, quando a
esmola é grande, o cego desconfia. Mas a mulher o tranquilizou, e
ele seguiu no carro dela.
Foram logo, como dizem os escritores castiços e
antiquados, para o tálamo conjugal, ou, como falam os irreverentes e
debochados, para o abatedouro. O tenente se esbaldou. A mulher fez de
tudo para agradá-lo, inclusive deu-lhe um completo banho de gato,
que culminou em um felatio, feito com esmero e muito tempero, minúcia
e rara competência, como se fora praticado por uma profissional do
sexo ou uma sacerdotisa do amor. A mulher parecia estar a exibir-se,
para invisível plateia ou para oculto olho eletrônico, tanto nas
poses como nos urros e sussurros. Duas ou três horas e várias
inusitadas posições depois, quase diria performances artísticas de
dois acrobatas circenses, e já encerrado o terceiro round, o nosso
heroi partiu para o justo e merecido repouso do guerreiro.
Eis que senão quando, de forma inesperada, mas de
maneira suave, a porta se abriu, deixando surgir a figura de um homem
forte, alto, bem apessoado, e de aparência máscula, viril. O
tenente temeu o pior, talvez um duplo homicídio, dele e da parceira,
quem sabe seguido de um suicídio, ou, na melhor ou pior hipótese,
ser ele sacrificado com uma curra, sob a nada convincente, mas
coercitiva ameaça de uma pistola. Procurou erguer-se do leito, para
tentar ao menos esboçar alguma forma de defesa, mas foi impedido
pela mulher, que calma e delicadamente disse para ele não se
preocupar, que a chegada do seu marido já estava combinada com ela.
A seguir, sussurrou em sua orelha que o seu marido só fazia sexo com
ela, após vê-la transar com outro homem.
Passado o descomunal susto, o nosso heroico tenente
notou que o homem esboçava um leve sorriso, quando lhe disse da
maneira mais gentil:
- Espere-me na sala, que depois lhe deixarei em sua
casa. Pode tomar a bebida que você quiser. Não se acanhe, o bar é
todo seu...
Quarenta minutos depois, o homem deixou o quarto e veio
até a sala. Parecia muito feliz e relaxado. Perguntou se o meu amigo
desejaria ir logo, ao que ele assentiu. No carro, o marido da bela
matrona ainda lhe deu uma polpuda gratificação. Apenas, em troca,
pediu que ele não contasse o caso para ninguém, pois era executivo
de uma poderosa empresa, e não queria saber de escândalo. Como o
tenente não tem o hábito de contar potocas, dou o caso como
verdadeiro, e aqui encerro este conto da vida dita real.
Nenhum comentário:
Postar um comentário