segunda-feira, 18 de junho de 2012

ZAN (Zeferino Alves Neto) ENTREVISTA VIRGÍLIO COSTA


Virgílio Costa e Tarciso Prado


Virgílio Costa é jornalista, Mestre em Pintura e PHD em Artes e Humanidades pela New York University e Doutor em História Social conforme reconhecimento do PHD pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na entrevista abaixo Virgílio Costa fala sobre seu tio, o notável teatrólogo Francisco Pereira da Silva, nascido em Campo Maior - PI.

Chico foi uma das pessoas mais generosas e doces que já conheci.

ZAN -  O Piauí trata bem a memória de seu mais conhecido dramaturgo a nível nacional e até internacional, Chico Pereira?
VIRGÍLIO - Francisco Pereira da Silva, meu tio, sempre foi considerado, nos meios teatrais, daqueles dramaturgos que a critica, os diretores, os atores, têm na mais alta conta, mas que, por alguma razão, não têm muito público. O Piauí está agora, espontaneamente, procurando dar reconhecimento e valor à obra dele; isto é tratar bem a memória dele.

ZAN -  Foi criado por lei estadual  de 2004, um Memorial Francisco Pereira da Silva, em sua cidade natal, Campo Maior, que nunca saiu do papel... O que o senhor acha disso?
VIRGÍLIO - O governado Wilson Martins, o secretário da Educação e Cultura, Átila Lira, e a presidente da Fundação Cultural do Piauí, BidE Lima, me disseram que vão transformar em realidade o que foi previsto na lei.

ZAN -  Qual a importância da obra de Chico Pereira, na dramaturgia nacional?
VIRGÍLIO - A meu ver foi ele ter juntado em sua obra, ao mesmo tempo, a consciência dos problemas sociais, o amor por sua terra natal (Piauí e Campo Maior), um forte sentimento do ser brasileiro, com humor e generosidade, uma depurada linguagem e uma intensa poesia.

ZAN - Chico Pereira teve suas peças montadas nos anos 50 e 60, época em que surgiram outros dramaturgos como Ariano Suassuna e Dias Gomes, para citar apenas dois dos mais conhecidos... Na sua opinião, por que a obra de Chico Pereira, nem ele como dramaturgo, ficaram tão conhecidos?

VIRGÍLIO - Vários fatores: O Brasil de quando ele começou a escrever peças de denúncia social, não estava preparado para ouvir isso. O Piaui também, muito presente na obra, não deixa de ser visto com algum preconceito pelo país. Finalmente, o Chico nunca foi capaz de badalar ou se auto-promover.
Além disso, é preciso lembrar que tudo tem a sua hora. Existe uma certa imponderabilidade do destino no mundo das artes. Na Idade Média, acreditava-se numa Roda da Fortuna: uma hora estava-se por cima, logo por baixo. Acredito que a roda está levando o Chico para cima, e de forma permanente.

ZAN -  Você é dos parentes de Chico Pereira, o que mais conviveu e conheceu de perto Chico Pereira. Como era a pessoa de Chico Pereira?
VIRGÍLIO - Uma das pessoas mais generosas e doces que já conheci. Capaz de ver poesia nas coisas mais simples e variadas. Ao mesmo tempo, via sempre as coisas com muito humor, às vezes com muita ironia.

ZAN -  Em que medida, o fato de ele ter nascido e passado a infância e adolescência em Campo Maior, influenciou sua obra?
VIRGÍLIO - Toda a obra dele tem o cheiro e o sabor de campo maior: um cheiro de limãozinho pisado e um gosto de doce de buriti.

ZAN -  Depois que ele se mudou para o Rio de Janeiro, ele voltou muitas vezes a Campo Maior?
VIRGÍLIO - Voltou poucas vezes, bem menos do que gostaria. Como funcionário público, bibliotecário da Biblioteca Nacional, tinha um salário modesto. Além disso, no tempo que ele foi para o Rio, nos meados do do século, vir do Rio ao Piauí não era fácil como hoje.

ZAN -  Além de peças, Chico Pereira escreveu contos e romances, pelo que sei. Em que medida a dramaturgia obscureceu seu lado contista ou romancista?
VIRGÍLIO - No começo da carreira, escreveu contos. A forma teatral, entretanto, foi dominando a sua expressão: foi nela que se encontrou inteiramente. Também não se pode deixar de lado duas fortes influências: a poesia e o teatro de Federico Garcia Lorca e os cordéis e cantadores nordestinos.
Chico preparou seu ofício cuidadosamente, chegando cedo ao amadurecimento. A partir daí, até suas últimas peças, todo o seu teatro tem o mesmo alto nível.
No final de sua vida, algo desgostoso com a recepção que deram a algumas de suas peças, parou de escrever para teatro. Escreveu então um Romance-cordel (A Revocata) e um livro de contos (Um dia de Sol no Kilimanjaro). Ambos ainda estão inéditos.

ZAN -  De que forma, na sua opinião, o lançamento da obra dramatúrgica completa de Chico Pereira poderá torná-lo mais conhecido?

VIRGÍLIO - Até agora, ele tinha apenas seis peças em livro. Publiquei agora o teatro integral, com 32 peças, quinze das quais inéditas.
Agora os que fazem teatro terão toda a obra a seu dispor. Levou 20 anos para conseguir que a Funarte publicasse o livro (foi em 1988, apenas 3 anos após a morte do Chico, que Carlos Miranda, então presidente da Fundação de Artes Cênicas, me convidou para  prepará-lo,
Aliás, a Funarte devia distribuir mais o livro, pois só coloca ele à venda nas 5 livrarias da instituição.

ZAN -  Eu sou campomaiorense e cometo meus delitos dramatúrgicos, já escrevi até um Auto de Santo Antonio, o santo padroeiro de nossa terra, que dirigi e produzi em 2009... Tenho algum conhecimento da obra e vida de Chico Pereira, o conheci pessoalmente quando esteve aqui em 78 e me sinto envergonhado pela forma como meus conterrâneos, a maioria deles, claro, desconhecem-no e a sua obra... Acho que a  cidade tem uma dívida que não sabe como resgatar com a obra de Chico... O que o senhor acha disso?  
Tenho certeza que Campo Maior encontrará um meio de homenageá-lo. Agora mesmo, a Prefeitura da cidade, aAcademia de Arte e Letras de Campo Maior-ACALE, e a Associação dos Criadores de Caprinos (que possui o sítio onde Chico passou sua infância) estão buscando um meio conjunto de fazê-lo.


Fonte: Blog do ZAN

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