José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Que
briga de galos que nada! Agora, é a vez dos machos humanos,
troncudos, ensandecidos e sandeus, sob estúpido apetite de sangue.
Ringue virou rinha, à
pernadas de galos, cotoveladas, murros implacáveis, fúria,
zonzeiras e desmaios. Por dinheiro se morre, se mata, legalmente.
Fingem que é puro esporte, manifestado pelos abraços e reverências,
sinal da cruz, testemunho evangélico. Revive-se o espetáculo
romano-pagão de puro-sangue, no Coliseu, sob adrenalina da plateia
alucinada.
Quão paradoxais as leis dos
homens! Proíbem-se brigas de galos, farra do boi, abates dolorosos
nos matadouros, pune-se torturador de animais. Crianças são
educadas a não cantar músicas que tratam de agressão a animais: em
vez de "atirei o pau no gatotó", dizer "não atirei o
pau no gatotó, porque isso não se faz...o gatinho, nosso amigo..."
Cotoveladas e carrinhos no futebol merecem cartão amarelo ou
vermelho. Nas lutas marciais do vale tudo, porém, atolam-se chutes e
joelhadas no estômago, espinhaço, narinas, mandíbulas e cabeça,
até exaurir o adversário, filho de Deus, batizado pelo sangue de
Cristo, adepto da dignidade humana, que foi vítima dos instintos
selvagens. Emoções tresloucadas arrastam insensatos à
indisciplina, sem limites de moral e dignidade.
A exacerbação da liberdade
desperta primitivos instintos animalescos. Prevalece o princípio
leviano e irracional, hoje na moda, do "que é que tem?"
Que é que tem estuprar a garota ingênua? Que é que tem uma noitada
com o cônjuge alheio? Que é que tem uma bacanal homossexual entre
pessoas importantes da política, assistida e filmada por uma garota
de programa? Que é que tem subornar, corromper-se, matar,
experimentar talagada de cocaína, bancar cara de pau, quebrar o
adversário por esporte? Escrúpulo e bom senso caíram de moda.
A plateia que se comove com
gatinho ferido não se apieda do ser humano, abatido e exangue no
ringue. Torce pela pancadaria e chute mortal. Em casa, estimula os
filhos aos esportes marciais desde cedo. Muito bem, desenvolvem o
físico, descarregam energias e estresse acumulados, socializam. Será
que não falta algo mais e superior à formação dos filhos, além
das atividades estimuladoras da agressividade? Além dos estudos
científicos na conquista profissional? Podem me cognominar de
espiritualista chato: falta exercício intenso, suado, das energias
do espírito. Só culto ao corpo brutaliza o espírito. O tema pouco
importa à mídia: não dá lucro nem audiência. A cada minuto, só
se estimula violência, crimes, amassos, peitos e bundas. E a galera
vai na onda, encanta-se e imita, consome o da hora, sem filtrar o bom
do ruim, o racional do " que é que tem?"
A fúria da rinha mostra a cara
da sociedade atual, já abusada das condutas equilibradas. Querem
mais. Mais porradas. Mais novas emoções, como as que assiste nas
vias urbanas, nas escolas e lares.
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