sábado, 14 de julho de 2012

Na rinha, humanos em vez dos galos




José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Que briga de galos que nada! Agora, é a vez dos machos humanos, troncudos, ensandecidos e sandeus, sob estúpido apetite de sangue.
Ringue virou rinha, à pernadas de galos, cotoveladas, murros implacáveis, fúria, zonzeiras e desmaios. Por dinheiro se morre, se mata, legalmente. Fingem que é puro esporte, manifestado pelos abraços e reverências, sinal da cruz, testemunho evangélico. Revive-se o espetáculo romano-pagão de puro-sangue, no Coliseu, sob adrenalina da plateia alucinada.
Quão paradoxais as leis dos homens! Proíbem-se brigas de galos, farra do boi, abates dolorosos nos matadouros, pune-se torturador de animais. Crianças são educadas a não cantar músicas que tratam de agressão a animais: em vez de "atirei o pau no gatotó", dizer "não atirei o pau no gatotó, porque isso não se faz...o gatinho, nosso amigo..." Cotoveladas e carrinhos no futebol merecem cartão amarelo ou vermelho. Nas lutas marciais do vale tudo, porém, atolam-se chutes e joelhadas no estômago, espinhaço, narinas, mandíbulas e cabeça, até exaurir o adversário, filho de Deus, batizado pelo sangue de Cristo, adepto da dignidade humana, que foi vítima dos instintos selvagens. Emoções tresloucadas arrastam insensatos à indisciplina, sem limites de moral e dignidade.
A exacerbação da liberdade desperta primitivos instintos animalescos. Prevalece o princípio leviano e irracional, hoje na moda, do "que é que tem?" Que é que tem estuprar a garota ingênua? Que é que tem uma noitada com o cônjuge alheio? Que é que tem uma bacanal homossexual entre pessoas importantes da política, assistida e filmada por uma garota de programa? Que é que tem subornar, corromper-se, matar, experimentar talagada de cocaína, bancar cara de pau, quebrar o adversário por esporte? Escrúpulo e bom senso caíram de moda.
A plateia que se comove com gatinho ferido não se apieda do ser humano, abatido e exangue no ringue. Torce pela pancadaria e chute mortal. Em casa, estimula os filhos aos esportes marciais desde cedo. Muito bem, desenvolvem o físico, descarregam energias e estresse acumulados, socializam. Será que não falta algo mais e superior à formação dos filhos, além das atividades estimuladoras da agressividade? Além dos estudos científicos na conquista profissional? Podem me cognominar de espiritualista chato: falta exercício intenso, suado, das energias do espírito. Só culto ao corpo brutaliza o espírito. O tema pouco importa à mídia: não dá lucro nem audiência. A cada minuto, só se estimula violência, crimes, amassos, peitos e bundas. E a galera vai na onda, encanta-se e imita, consome o da hora, sem filtrar o bom do ruim, o racional do " que é que tem?"
A fúria da rinha mostra a cara da sociedade atual, já abusada das condutas equilibradas. Querem mais. Mais porradas. Mais novas emoções, como as que assiste nas vias urbanas, nas escolas e lares.

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