Sarah na charge de Gervásio Castro |
JOSÉ
MARIA VASCONCELOS
CRONISTA,
JOSEMARIA001@HOTMAIL.COM
Não contive as lágrimas. Nem eu nem muitos
piauienses. Nossa judoca, Sarah Meneses, reluzia olímpico ouro em
Londres. Nessas horas, a emoção sobe aos céus e encontra uma lição
de tenacidade no próprio nome de Sarah.
Decolei no tempo, quarenta séculos, aterrissei
no livro de Gênesis, capítulo 12 e seguintes. Sarah, matriarca das
matriarcas, esposa de Abraão, tronco genealógico do povo de Israel
e das nações árabes. Bela Sarah e Abraão despediram-se da
parentela, na região próspera e culta dos caldeus e sumérios, hoje
Iraque. O casal obedecia ao chamado de Deus para se estabelecer em
longínquas terras, 600 km ao sul, atual Israel.
Na Bíblia, Sarah quase não fala; amarga, em silêncio,
desde a mocidade, o estigma da esterilidade, considerado castigo
divino, na época. Abraão confia na promessa divina de nascimento de
um filho, cujos descendentes se multiplicarão como estrelas e areia
do mar.
Sarah avança em idade e na vã esperança da
maternidade. Na penitente solidão, entrega sua escrava, Agar, aos
braços do nonagenário Abraão, por um filho.
Agar, vendo que concebera, passa a tripudiar
sobre a miséria de Sarah. Decidida, a velhinha exige de Abraão a
expulsão de Agar. Faminta, sedenta e grávida, no deserto, a escrava
cai na areia e suplica a morte aos céus. Aparece-lhe um anjo: "Volta
para casa, humilha-te à tua patroa. Terás um filho, chamado Ismael,
que será forte como jumento e inimigo de seus irmãos."
Sarah, escondida na tenda, ouve um anjo anunciar
a Abraão: "Daqui a um ano, Sarah parirá um filho." Riu,
isolada, desolada: "Eu, velha, um filho!? Não!"
"Fé é a certeza na esperança do impossível."
Ninguém como apóstolo Paulo definiu a fé (carta aos hebreus,
cap.11, vers.1). Ninguém, no Antigo Testamento viveu tamanho
princípio do que Abraão. Se fé é certeza, nada de sentimentalismo
barato, mas inteligente e racional convicção. E o filho da promessa
veio. Seu nome, Isaac. Houve festa. Também castigo: Sarah,
novamente, exige do marido expulsão de Agar e Ismael. No deserto,
outra vez, o anjo assegura-lhe uma nação de descendentes de Ismael,
fortes e guerreiros, nas fronteiras do irmão Isaac.
Sarah, enfim, engravida e pare Isaac, tronco da nação
de Israel e do cristianismo. De Ismael, filho de Agar, descendem
árabes muçulmanos. Há quatro mil anos, dois irmãos bicudos se
estranham.
Sarah de Abraão, silenciosa mãe de dois guerreiros
bíblicos. Sarah Meneses, judoca de poucas palavras e tenacidade nas
metas e objetivos.
A vida é eterna busca olímpica de realizações
de sonhos, às vezes impossíveis aos descrentes. Paulo apóstolo, em
uma de suas cartas, compara a conquista dos ideais transcendentais à
corrida suada pelas medalhas olímpicas. Tomara que Sarah e
vencedores de batalhas encontrem o sentido superior da vida no brilho
das medalhas.
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