sábado, 11 de agosto de 2012

Milagre! Sarah pariu!


Sarah na charge de Gervásio Castro


JOSÉ MARIA VASCONCELOS
CRONISTA, JOSEMARIA001@HOTMAIL.COM



Não contive as lágrimas. Nem eu nem muitos piauienses. Nossa judoca, Sarah Meneses, reluzia olímpico ouro em Londres. Nessas horas, a emoção sobe aos céus e encontra uma lição de tenacidade no próprio nome de Sarah.

Decolei no tempo, quarenta séculos, aterrissei no livro de Gênesis, capítulo 12 e seguintes. Sarah, matriarca das matriarcas, esposa de Abraão, tronco genealógico do povo de Israel e das nações árabes. Bela Sarah e Abraão despediram-se da parentela, na região próspera e culta dos caldeus e sumérios, hoje Iraque. O casal obedecia ao chamado de Deus para se estabelecer em longínquas terras, 600 km ao sul, atual Israel.

Na Bíblia, Sarah quase não fala; amarga, em silêncio, desde a mocidade, o estigma da esterilidade, considerado castigo divino, na época. Abraão confia na promessa divina de nascimento de um filho, cujos descendentes se multiplicarão como estrelas e areia do mar.
Sarah avança em idade e na vã esperança da maternidade. Na penitente solidão, entrega sua escrava, Agar, aos braços do nonagenário Abraão, por um filho.
Agar, vendo que concebera, passa a tripudiar sobre a miséria de Sarah. Decidida, a velhinha exige de Abraão a expulsão de Agar. Faminta, sedenta e grávida, no deserto, a escrava cai na areia e suplica a morte aos céus. Aparece-lhe um anjo: "Volta para casa, humilha-te à tua patroa. Terás um filho, chamado Ismael, que será forte como jumento e inimigo de seus irmãos."

Sarah, escondida na tenda, ouve um anjo anunciar a Abraão: "Daqui a um ano, Sarah parirá um filho." Riu, isolada, desolada: "Eu, velha, um filho!? Não!"
"Fé é a certeza na esperança do impossível." Ninguém como apóstolo Paulo definiu a fé (carta aos hebreus, cap.11, vers.1). Ninguém, no Antigo Testamento viveu tamanho princípio do que Abraão. Se fé é certeza, nada de sentimentalismo barato, mas inteligente e racional convicção. E o filho da promessa veio. Seu nome, Isaac. Houve festa. Também castigo: Sarah, novamente, exige do marido expulsão de Agar e Ismael. No deserto, outra vez, o anjo assegura-lhe uma nação de descendentes de Ismael, fortes e guerreiros, nas fronteiras do irmão Isaac.

Sarah, enfim, engravida e pare Isaac, tronco da nação de Israel e do cristianismo. De Ismael, filho de Agar, descendem árabes muçulmanos. Há quatro mil anos, dois irmãos bicudos se estranham.

Sarah de Abraão, silenciosa mãe de dois guerreiros bíblicos. Sarah Meneses, judoca de poucas palavras e tenacidade nas metas e objetivos.

A vida é eterna busca olímpica de realizações de sonhos, às vezes impossíveis aos descrentes. Paulo apóstolo, em uma de suas cartas, compara a conquista dos ideais transcendentais à corrida suada pelas medalhas olímpicas. Tomara que Sarah e vencedores de batalhas encontrem o sentido superior da vida no brilho das medalhas.

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