JOSÉ
MARIA VASCONCELOS
Obsessão
de culto ao corpo da civilização contemporânea repete a idolatria
corporal do império romano. Lá, a prosperidade imperial
transformou a Urbs (Roma) e metrópoles em centros de academias e
piscinas térmicas de torneamento de corpos atléticos e beleza
plástica. Predominava o espírito hedonista do prazer como bem
supremo - acima da própria ética - para objetivo principal dos atos
humanos. Mansões ostentavam o Vomitorium, espécie de banheiro para
expelir excessos da comilança e bebedeira. Orgias, banquetes e
festivais de crueldade e esportes. A média de idade hedonista não
ultrapassava 50 anos. Adoravam-se deuses da força, das lutas
marciais e do erotismo(Marte, Vênus e outros).
Do
hedonismo romano à obsessão corporal de nosso tempo, quase nada
mudou. Apenas sofisticou-se; a medicina virou um shopping de
especialidades em prol do corpo e da mente. A "mens sana in
corpore sano" imperial tenta todos os recursos de tonificar
músculos, pele e "qualidade de vida". A indústria da
saúde induz pessoas a buscarem especialista para qualquer
manifestação esquisita no corpo ou na mente. Basta um espirro,
pequena mancha, vômito, corre-se para a clínica, especialmente os
beneficiários de planos de saúde. Todo dia, nomes novos, como
VIROSE, infernizam até pessoas bem informadas. E lá se vão exames
e mais exames, bulas e comprimidos intoxicando o organismo,
endoidando a obsessão por vida sadia e longa.
A
civilização hedonista só falta comer plástico, em defesa do corpo
sadio e belo, numa estressante preocupação com a vida material.
Pilhas de remédios, infelicidade familiar, alcoolismo, drogas e
condutas reprováveis ao espírito do bem geram candidatos à
esquizofrenia e paranoias.
Pessoas
com esquizofrenia podem falar coisas que não fazem sentido, ficar
sentadas por horas sem se mover ou falando muito pouco, ou podem
parecer perfeitamente bem até dizer o que realmente estão pensando.
Têm momentos de delírios e visões, com desordens de pensamento e
conduta. A esquizofrenia ataca especialmente jovens.
A
paranoia manifesta-se através do sentimento de intensa desconfiança
persistente, humor exageradamente alegre, ideia de perseguição.
Em
torno da esquizofrenia e paranoia gravita uma série de transtornos,
cuja cura, muitas vezes, só encontrada no exercício do afeto, da
generosidade, da oração libertadora, do perdão, da reconciliação.
Tome-se, como exemplo, os expressivos resultados alcançados pela
entidade dos Alcoólicos Anônimos. Sem foguetório, esses herois
colocam a espiritualidade a serviço da cura e do bem. A certeza da
presença maligna não pode ser colocada, de imediato, como motivo de
tantas manifestações esquisitas, como transtorno bipolar,
depressões em geral, transtorno de deficit de atenção, maníaco
depressivo, transtorno obsessivo compulsivo(TOC).
A
geração atual precisa desfrutar dos imensos benefícios da
espiritualidade, sem exageros, sem sentimentalismo exacerbado, sem
curandeirismo, sem obsessão maligna. Descobrir que somos filhos do
Criador, fonte das bênçãos para a família, certos de que nada nos
faltará, praticando virtudes da generosidade para com os mais
humildes, do zelo pelo social, da honestidade para com a coisa
pública, do respeito ao cônjuge, da educação espiritual e
cultural dos filhos. Não só colocá-los em boas escolas e cursos,
inclusive de práticas esportivas, mas catequizá-los em casa,
amá-los com correção amigável, com exemplos de dignidade.
A
obsessão moderna em busca do material, do sucesso financeiro e poder
quase sempre desemboca no desfiladeiro da infelicidade,
esquizofrenia, paranoias, às vezes, suicídio.
Séculos
após a queda do império escravagista, pagão, hedonista, belicoso,
colonialista e explorador, será que a moderna e evoluída sociedade
ainda não descobriu que, ao lado das academias de culto ao corpo,
não podem funcionar os templos da espiritualidade? O verdadeiro
sentido da "mens sana in corpore sano"?
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