sábado, 26 de janeiro de 2013

Da Malhada às praças de comércio



Fonseca Neto

NÉ-EVANGELISTA: este nome é uma marca muito distinta na atividade comercial entre Maranhão e Piauí nas últimas oito décadas. 
Manoel Evangelista de Sousa (seu nome completo) é, hoje, o comerciante mais idoso de Teresina, tendo completado 100 anos neste sábado, dia 19 de janeiro de 2013. A vida comercial da capital do Piauí tem nele uma referência de respeitabilidade, assim também em relação ao cidadão e ao pai de família, de prole numerosa, enleada no mundo mercantil local e em vários outros fazeres da vida social teresinense.
Claro que a história de um homem assim é exemplar e faz bem seja divulgada para que tenha muitos seguidores. Né Evangelista é filho sanguíneo de Narcisa Pereira da Costa e Torquato Evangelista de Sousa, sitiantes e moradores da Malhada d’Areia, município de São João dos Patos, Maranhão, a pouca distância do rio Parnaíba. Nasceu numa fazenda nova-iorquense dos avós maternos, chamada Mucambinho, vizinha da Malhada, para esta vindo aos trinta dias de vida –era costume as filhas irem “descansar” sob o abrigo da casa de suas mães. 
1913, anos anteriores e posteriores:pela navegação a vapor, o rio Parnaíba é, nesse tempo, um fator de dinamização da economia local e do próprio Piauí. É o ambiente macro dos primeiros anos de Né. O ambiente micro é o curral, as quintas, além do alfabetizador Heitor Barreto que o desasnou. Faz o Primário na sede municipal patoense. E diga-se que essas são experiências que parece viver ele com grande intensidade– inclusive ensaia-se como professor –, uma vez que, aos 19 anos é, já, um empreendedor comercial autônomo, após emprego na firma de Cristino Castro, na cidade vizinha de Floriano. Esta cidade do Piauí, então, era o núcleo interiorano mais avançado do Médio-Alto Parnaíba, um centro de importação de todo produto manufaturado do comércio mundial, inclusive de caminhões, e outros automóveis (anos 30), os quais eram montados em oficina especializada, dali partindo os primeiros deles que rodaram por aqueles sertões. 
A montante de Floriano, e antes dos encachoeirados da Boa Esperança, outro ponto de animação de trocas comerciais se constituíra e prosperara por aquele tempo, o Porto Seguro, no município da velha Nova Iorque – submerso nos anos 1960. O lugar desse porto fluvial será justamente a base do Né empreendedor comercial e seu movimento certamente enseja-lhe conhecer por completo o circuito mercantil do tempo, valendo lembrar que somente após 1930 seriam abertas as estradas de rodagem.
Entre os anos 30 e 40, baseado no Porto Seguro, depois na Várzea do Meio, e Poço Verde, Né se torna um dos mais prósperos negociantes da região, casando a tradição da produção primária com a atividade do comercio de exportação/importação, não sem uma força motriz essencial naquele tempo que antecede o transporte em massa por caminhão: uma tropa de jumentos e mulas, somando às dezenas de cabeças. É uma espécie de fazendeiro de nova cepa, algo moderno, detentor de uma compreensão mais abrangente do fenômeno da criação e circulação da riqueza no corpo da nação e do mundo. Ele compreende perfeitamente o fenômeno agregador de valor aos bens primários, no Parnaíba subindo os “secos” da produção industrial e descendo os “molhados” das lavras sertanejas, e criações animais, incluindo produtos extrativos, tipo borracha de maniçoba, bagas de babaçu, entre outros. 
Naquelas três/quatro primeiras décadas do século passado, já o dissemos, acima, esse grande rio potencializa negócios e Né aproveita as oportunidades, inclusive de descer o seu curso e, em pouco tempo, como se verá, estabelecer-se na capital piauiense – criada, no Oitocentos, tendo em vista exatamente a economia dos fluxos comerciais. Conhece por então, por lá, outra figura de negociante, de perfil algo parecido com o seu, representante comercial naqueles ermos, chamado Sérgio Fernandes do Rego Neto, o “Neto Rego”. Este, já conhecedor da respectiva praça de negócios – além de Floriano –, convence o malhadino a se estabelecer em Teresina,em sociedade com ele. 
Neto e Né estarão, a partir de 1946, fixados na capital do Piauí e aqui  protagonizariam outros capítulos de suas laboriosas vidas. (Voltaremos ao assunto).

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