Cunha
e Silva Filho
Vez
por outra, nos Estados Unidos um jovem ou um adulto de repente comete
uma insanidade de uma só vez, matando inocentes em lugares tais como
uma escola, o interior de um cinema ou outro lugar qualquer. Motivo
das tragédias: vários ou nenhum explicitamente declarados. Com a
facilidade amparada por lei, de se comprar armas de fogo no país
qualquer um cidadão americano pode portar consigo uma arma
registrada e sair à rua. Relata-se que o primeiro crime de arma de
fogo contra várias pessoas ao mesmo tempo ocorreu na terra do Tio
Sam em 1927. De lá para cá, a espaços de meses ou anos, tem havido
casos de matança de pessoas inocentes. Porém, os Estados Unidos é
a terra do faroeste, do bang-bang, do tiroteio, dos combates entre
soldados americanos e tribos indígenas. Isso, contudo, mais
mostrado no cinema como entretenimento ainda que com cenas violentas.
Entretanto,
algum tempo atrás, havia revistas americanas que chegavam até ao
meu estado, o Piauí, onde reportagens e reportagens descreviam, com
os mínimos detalhes, os crimes hediondos acontecidos em diversos
estados americanos. As revistas traziam fotos terríveis que me
causavam horror e, não sei por que, com o tempo, fui associando
aqueles tipos abomináveis com algo habitual na sociedade americana.
Naturalmente,
devemos entender que crimes hediondos existem em toda a parte do
mundo, porém, no caso específico dos EUA, esse tipo de crime de
jovens ou adultos massacrarem grupos de pessoas indefesas, pessoas
que, em geral, os assassinos nunca viram ou lhes fizeram mal algum,
dão o que pensar, suscitam nossa atenção sobre o comportamento
individual de algumas pessoas que inegavelmente são diferentes,
indivíduos solitários, ensimesmados, que não mantêm interação
social com outras pessoas e, em geral, têm poucos amigos ou
conhecidos. Na situação desses indivíduos, as famílias deveriam
ter por eles uma atenção especial, encaminhando-os a tratamentos
com psicólogos ou psiquiatras a fim de descobrirem alguma patologia
séria que possa levar os jovens de atitudes estranhas a
cometerem atrocidades contra a sociedade. Esta seria uma primeira
medida a ser tomada pelos familiares. Poder-se-ia afirmar que este
aspecto envolvendo massacres de inocentes seria uma hipótese para
argumentarmos como uma das causas dos crimes desta natureza.
Um
segunda hipótese que se poderia aventar seria analisar, através de
estudos sociológicos e antropológicos, ou mesmo estudos
desenvolvidos de forma transdisciplinar, as implicações do mundo
contemporâneo versus sociedade de tecnologia altamente avançada com
que o indivíduo moderno, sobretudo nas cidades adiantadas e de alta
densidade populacional, tem que lidar no seu dia-a-dia sentindo-se
fragmentado na sua individualidade e no imediatismo pragmático
imposto pelo estilo de vida atual. Quer dizer, ao indivíduo, seja o
jovem, seja o adulto, diante da complexidade em escala planetária
que o mundo agora lhe oferece, se não está ancorado numa base
familiar saudável e harmoniosa, tende a sentir cada vez menos
fragilizada a sua personalidade. Essa realidade automatizada,
robotizada, individualista, que faz valer mais os bens materiais em
detrimento de um desenvolvimento de seu mundo interior mais
enriquecido, se fosse compartilhada com um nível maior de
interrelacionamento social e de trocas de experiências positivas
que integrassem o jovem ou adulto mais
adequadamente ao meio social propício à sua formação integral, é
bem possível seria que tivéssemos pessoas mais sadias
psicológica e socialmente.
A
indústria cultural pouco ajuda ao aperfeiçoamento saudável dos
jovens de hoje. Os tipos de lazer oferecidos, desde tenra idade, em
nada contribuem para melhorar a formação biopsíquica dos jovens,
sejam exemplos os tipos de brinquedos ou gadgets eletrônicos
que são, em muitos casos, verdadeiras apologias ao crime e à
violência. Ora, do mundo virtual ao mundo real, a distância é
enorme.
Contudo,
se o espírito de uma criança, ou de um adolescente que tenha
inclinação natural à violência, é exposto a ela de forma
continuada, tenderá naturalmente a internalizar na mente da criança
ou do jovem tão profundamente o seu universo virtual
selvagem, ou a embaralhar as ações de brutalidade, que
essas violências virtuais terminam por banalizarem
as percepções infanto-juvenis no que concerne à valorização
e respeito à vida do ser humano.
Há
um excesso perigoso de exposição a cenas de crimes tantos nos
brinquedos eletrônicos quanto no filmes produzidos nos Estados
Unidos. Esta é uma via errada e perigosa à formação de mentes
sadias de crianças e adolescentes. Por que não aproveitar
tantos temas de alta importância educativa e recreativa a
serem explorados pela indústria cinematográfica americana?
Liberdade de expressão não é deixar fazer o que bem querem
diretores de cinema ou da indústria de jogos eletrônicos ávidos
pelos milhões de dólares arrecadados com a exibição de filmes
violentos que vulgarizam a vida. A legislação nos Estados Unidos e
de outros países ( o Brasil em grande escala) que gostam de copiar o
que por vezes há de pior nos EUA, deve repensar urgentemente
questões desta ordem.. Pais e filhos, governo e sociedade devem unir
esforços no sentido de deslanchar uma campanha nacional chamando a
atenção dos legisladores para os males que têm sido causados à
sociedade americana e de outros países, que é a manutenção desses
tipos de indústria cultural desagregadores da formação moral e
educativa de crianças e adolescentes.
Um
terceira hipótese a ser considerada como fundamental para uma
rediscussão de fôlego e isenta de partidarismos ideológicos seria
a permissão que a Constituição americana assegura para qualquer
cidadão comum comprar e registrar armas de fogo para a proteção
própria. São milhões de armas nas mãos da sociedade. Ora, caso
essas armas caiam nas mãos de alguém desequilibrado, fácil é
percebermos como será a consequência do porte de arma em várias
situações da vida cotidiana, além do agravante de as armas
chegarem ao alcance de crianças sem idade suficiente para aquilatar
os riscos que correm longe dos pais. No nosso país, muitas vidas se
perdem com o uso de armas de fogo nas mãos de crianças como se
estas fossem brinquedos . Tiros são disparados contra quem está por
perto, geralmente outros irmãos também crianças, e daí decorrem
as tragédias familiares.
Por
conseguinte, a questão do uso indiscriminado de arma de fogo nos
Estados Unidos tem que ser prioridade social e o assunto tem que ser
discutido em todo o território americano mobilizando-se a sociedade
e os poderes públicos. Uma boa ideia seria uma emenda constitucional
que refundisse profundamente o uso de armas de fogo pelo cidadão
americano, deixando o seu emprego somente para os setores de
segurança, as Forças Armadas. A alegação de que a arma de fogo
faz parte da cultura americana carece de fundamentação e lógica.
É
evidente que, ao abolir ou, pelo menos limitar drasticamente o uso de
armas de fogo para o cidadão, os legisladores têm que reforçar a
fiscalização, a vigilância e a competência das forças de
segurança no combate sem trégua ao contrabando de armas e à
possibilidade de armas serem surrupiadas ou desviadas dos arsenais
militares. Nos EUA, há expertise para cuidar bem desta
questão de desvio e de contrabando de armas leves ou pesadas. Da
mesma forma, há que redobrar os cuidados na questão das penalidades
correspondentes aos graus de infração de uso indevido de armas de
fogo. Naturalmente, nunca haverá um grau zero de impossibilidade
para que alguma arma chegue a alguém por uma forma ou outra.. O
importante é que haja penalidades severas para o uso indevido de
armas de fogo nas mãos da sociedade.
Todos
os americanos devem entender que uma mudança de comportamento com
respeito ao uso de armas deve ser feito sem delongas., em especial as
indústrias de armamentos, que faturam milhões de dólares com o
comércio de armas para uso privado, devem refletir sobre esta
momentosa questão e assim procurar salvar vidas humanas perdidas
tragicamente pelas recorrentes matanças de inocentes, sobretudo
crianças, como é recente exemplo o que se deu na cidade pacata de
Newtown. Não houvesse a facilidade para a aquisição de armas
vendidas à população, muito sangue, dores, sofrimentos e traumas
seriam evitados. A proibição de armas de fogo nas mãos dos
americanos tem que ser considerada como questão de segurança
nacional e ao Presidente Barak Obama imediatamente e sem parcialidade
compete dar o primeiro passo no encaminhamento ao Congresso de um
projeto de Lei a fim de que o debate sobre o uso de armas seja
iniciado junto com o apoio da sociedade. Se o fizer, ou seja, se uma
emenda constitucional for aprovada favoravelmente à proibição do
uso de armas pelo povo, ressalvados os usos delas para os setores de
segurança vital para a defesa da ordem pública e da soberania
nacional, o Presidente estará contribuindo para tornar a nação
americana sintonizada com a complexa dinâmica aberta pelo século 21
que não mais admite que certos modos da tradição cultural sejam
mantidos à custa das vítimas de armas assassinas.
- NOTA: Neste final de ano, para piorar ainda mais a escalada de psicopatas assassinos, um ex-condenado, que passou dezessete anos na prisão, por haver matado a avó (!) cometeu outro massacre, incendiando casas e assassinando inocentes. Entre as vítimas, havia bombeiros. Confessou o psicopata que “gostava” de matar pessoas! É mesmo o fim do mundo no cotidiano universal e não nas profecias dos mapas dos maias. Se não se tomar logo uma medida urgentíssima, os Estados Unidos serão o país campeão de psicopatas, incendiários etc.
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