Orisvaldo
Mineiro (*)
Pedra
Negra (Teresina, Editora Nova Aliança, 2012) é a mais recente
obra do jovem escritor campomaiorense (PI) Halan Silva; romance
curto, de linguagem original e leitura agradável, é daqueles que
levam o leitor a consumi-lo “de uma só tacada”.
A
obra apresenta como característica literária uma mistura
do realismo histórico do século 19 - principalmente pelo
regionalismo e pela ficção urbana - com o fantástico/fabuloso -
pela presença da cobra preta: personagem do folclore nordestino que,
na calada da noite, suga o leite de animais e também de mulheres
recém-paridas.
A
sequência narrativa é não linear, marcada pelo flashback, técnica
que consiste numa interrupção da ação do presente a fim de
apresentar eventos do passado. Com isso, o autor cria uma situação
narrativa com dois planos temporais: um no presente e outro no
passado. Em Pedra Negra, o romance termina onde começou: o enterro
do major, caracterizando o que se chama de romance fechado em
círculo.
O
enredo é ambientado na cidade de Campo Maior da primeira metade do
século XX, com destaque para os cabarés da Rua Santo Antônio (Zona
Planetária e Zona das Virtudes), “a pouco mais de uma quadra e
meia da Igreja do Rosário e da Matriz de Santo Antônio”.
A
trama se desenvolve em torno das escaramuças entre dois personagens
bastante influentes na cidade: Padre Hermínio, pároco da Igreja de
Santo Antônio, e major, homem rude, fazendeiro e produtor de cera de
carnaúba.
Outros
eventos dão volume à trama e enchem de nostalgia a almas dos
leitores que se identificam diretamente com os fatos e lugares
relatados: a concupiscência do religioso e sua descrença nos ritos
litúrgicos e nos sacramentos da Igreja Católica, relatos e
referências a fatos históricos: Batalha do Jenipapo, Coluna Prestes
e Ciclo da cera de carnaúba; fatos pitorescos e cotidianos dos
habitantes, valores e costumes da época.
A
temática abordada resgata a memória de uma sociedade conservadora,
fortemente influenciada pela religiosidade do catolicismo, mas também
aberta às mudanças provocadas pelo avanço da economia e pelas
inovações tecnológicas.
A
característica do romance fechado em círculo e o drama do padre com
a gestação da rapariga identificam a boa influência sofrida pelo o
autor de dois grandes representantes da literatura luso-portuguesa:
Eça de Queiroz (O crime do Padre Amaro) e Machado de Assis (Memórias
Póstumas de Braz Cubas).
Todos
esses ingredientes formam um interessante convite aos amantes da boa
literatura, ao tempo em que proporcionam aos campomaiorenses o
resgate de elementos formadores de sua identidade. BOA LEITURA!
Halan
Kardeck Ferreira Silva é natural de Campo Maior, Piauí, 17/02/1970,
e formado em Filosofia e Direito. É autor de outras obras: 16
poemas (Edições Des Livres, 1995); As formas incompletas:
apontamentos para uma biografia (Oficina da Palavra/Instituto
Dom Barreto, 2005); Representação e identidade cultural do
vaqueiro no cinema novo (Editora Nova Aliança, 2010);
e Cambacica (Editora Nova Aliança, 2011).
(*)
Orisvaldo T. Mineiro: Auditor Fiscal da SEFAZ-PI, Mestre em Letras.
Fonte: Portal Entre-textos
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