José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
A
renúncia do Papa Bento XVI vem despertando interesse pela história
da Igreja, especialmente dos papas, nos meios de comunicação. Uma
louvável análise com critérios desapaixonados. Portanto fui
conferir a curiosa história da Papisa Joana.
A
queda do Império Romano do Ocidente provocou desorganização
política na Europa, miséria, guerras, domínios isolados e feudais,
falta de leis e soberania nacionais, violência, pragas. As mulheres
não tinham direito à educação, apanhavam dos maridos,
consideradas incapazes de raciocinar. A Igreja substituiu o decaído
império romano pelo Santo Império Romano, única instituição
capaz de conservar ou produzir registros e cultura. Inquestionável
mérito, não fosse a exacerbação da autoridade, disputas
criminosas e assassinas. Não se podem, porém, esquecer heroicos
exemplos de santidade, martírio e consagrados doutores da Igreja.
Poder
absoluto gera corrupção e injustiças. Devido ao indomável e
exclusivo domínio da Igreja na cultura medieval, muitos registros
históricos desapareceram ou foram alterados. Pouco se sabem,
exemplificando, as causas de prelados e papas destituídos, mortos,
assassinados ou envolvidos em escandalosas transações com a
nobreza. Os papas Ponciano e Martinho I foram exilados. Papa
Silvério, acusado de alta traição. Papa Estêvão VI(896),
linchado, depois estrangulado em prisão. Leão V(903) assassinado,
bem como o antipapa Cristóvão. Assassinados Bento VI(974),
Bonifácio VII(984). João XIV, encastelado, morreu de fome. Papa
Bento X, envenenado e assassinado pela matriarca Marózia, que também
matou Estêvão VII e foi morta pelo filho, Alberico; este matou João
XI(935). Um clima de hostilidade e safadezas que lembra disputas de
domínio de traficantes e políticos. Nesse universo, aparece a
enigmática personagem, Joana, a papisa, misto de realidade e lenda.
Joana
nasceu na Alemanha, em meados do século IX, aprendeu a ler e
escrever, uma aberração feminina na época. Mente prodigiosa, para
aprofundar-se nos estudos, travestiu-se de homem, internou-se no
Monastério de Fulda, trocou a identidade, estudou grego, latim,
ciências e a Bíblia. Anos depois, partiu para Roma, destacou-se na
Cúria, elegeu-se "papa" João VIII, em lugar de Leão IV,
855. Pontificou mais de dois anos. Um dia, acompanhando a procissão,
a cavalo, Joana sentiu dores e pariu em público. Cardeais
gritaram:"Milagre!"Daí em diante, surgiram muitos relatos
pouco confiáveis. Conta-se que foi linchada e morta com o filho. Em
1276, o Papa João XX, depois de investigações, reconheceu a papisa
e acrescentou Papa João XXI, em vez de XX. Na catedral de Sienna,
encontram-se vários bustos de papas, entre os quais o da papisa
Joana.
Consultei
a veracidade da existência de Joana ao professor Cincinato, de
Messejana-Ce, estudioso de História da Igreja, filosofia e teologia
católicas: "A cifra de testemunhos é espantosa...Se essa
história é falsa ou verdadeira, em nada altera minha convicção
cristã." Teólogo Antônio Machado, de Fortaleza: "Não
descarto totalmente a possibilidade de ter havido algo similar nas
hostes eclesiásticas, notadamente se considerarmos a forte
influência política exercida pelas famílias tradicionais
europeias."
A
renúncia de Bento XVI revela que,onde há poder,mesmo divino, o
satanismo ronda perto. Nem Jesus livrou-se dessa presença maligna.
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