domingo, 31 de março de 2013

Mensagem de solidariedade pelo monumento a Da Costa e Silva


Estimado poeta Elmar Cavalho:

Estou com você nessa luta em prol da construção de um Monumento à Memória de Da Costa e Silva. A questão de os restos mortais serem trasladados para Amarante - desejo expresso na arte mais sincera de um soneto famoso - é secundária dada à não aceitação dos familiares do poeta.

O que permanece é o sentimento de amor que temos ao poeta e à sua obra imorredoura nos corações de todos os amarantinos e piauienses que se orgulharão pelo tempo afora de terem o privilégio de ser Da Costa e Silva um amarantino. Isso basta, como basta ainda a construção de um Memorial para o poeta. Só o tempo dirá se os restos mortais virão finalmente atender aos anseios do vate da "Saudade".
Ficarei torcendo pela concretização de sua luta , da luta do Virgílio Queiroz e de todos os piuienses que têm pela sua cultura um especial carinho.

Ainda estou com você pela adoção efetiva de autores piauienses nas escolas públicas e mesmo nas universidades locais, sejam oficias, sejam particulares. A Lei estadual neste sentido tem que ser cumprida e feita a sua fiscalização nas grades curriculares do ensino público ou privado do Piauí.

É uma tremenda contradição adotarem-se livros de autores considerados "nacionais" e relegarem os escritores da terra a segundo plano. É inconcebível e injusto.
A literatura piauiense tem muitos autores de valor, dignos de serem pesquisados pelos estudantes e professores piauienses. Os piauienses desconhecem seus próprios artistas e criadores no domínio literário, o que é deplorável. Não podemos ficar só nos exemplos de Assis Brasil, Torquato Neto, Mário Faustino, Esdras do Nascimento e poucos outros que têm mais visibilidade.

Eu fiz a minha parte quando escolhi para tema de dissertação do meu Mestrado a figura do poeta Da Costa e Silva. Consegui fazer muita gente fora do Piauí, professores, colegas de Mestrado e outras pessoas a convergirem seu olhar para o grande bardo da minha terra. Cumpri um dever para com uma parte significativa do valioso espólio da literatura piauiense, que tem tantos poetas, ficcionistas, contistas, ensaístas, cronistas, críticos e historiadores. É preciso despertar a atenção do piauiense, através de seminários, simpósios e outros meios de encontros culturais para debaterem-se os valores da terra mafrense. Só assim a literatura piauiense se vai fundir, em condições de igualdade, com a chamada literatura "nacional".
Um forte abraço do
Cunha e Silva Filho 

quinta-feira, 28 de março de 2013

MONUMENTO E MEMORIAL AO POETA DA COSTA E SILVA


Prefeito Luís Neto, vice-prefeito Clemilton Queiroz e poetas Elmar Carvalho e  Virgílio Queiroz



28 de março   Diário Incontínuo

MONUMENTO E MEMORIAL AO POETA DA COSTA E SILVA

Elmar Carvalho

Na reunião deste sábado da Academia Piauiense de Letras, inscrevi-me para falar, e tratei de dois assuntos da mais alta relevância para a nossa literatura. Inicialmente, disse que quando fui presidente da União Brasileira de Escritores do Piauí, no biênio 1988/1990, sucedendo o poeta Francisco Miguel de Moura, meu confrade na APL, fiz uma campanha para inserir a obrigatoriedade do ensino de Literatura Piauiense no texto da Constituição Piauiense de 1989. Tive o respaldo e o estímulo de meus companheiros de diretoria nesse desiderato.

Contando com o apoio decisivo do deputado Humberto Reis da Silveira, relator-geral de nossa Carta Magna, a obrigação de essa disciplina ser ensinada nos colégios do Piauí foi insculpida no artigo 226 do texto constitucional. Lamentavelmente, passadas mais de duas décadas, esse dispositivo continua a ser quase uma letra morta, porquanto nem mesmo os colégios públicos municipais e estaduais o cumprem, o que é um verdadeiro absurdo, uma vez que os órgãos públicos, cuja existência é instituída por lei, deveriam dar o bom exemplo no cumprimento da legislação, sobretudo a constitucional.

Devo dizer que não sei quais os reais motivos para que o estudo de Literatura Piauiense, previsto em nossa Constituição Estadual, não seja implementado. E principalmente desconheço qual o real motivo para que a Secretaria Estadual de Educação não execute o dispositivo constitucional a que me referi, nem mesmo nas escolas da rede estadual. O ensino dessa matéria seria de capital importância para que os nossos poetas e escritores se tornassem conhecidos em nosso estado, mormente seus textos, que deveriam constar de antologias e compêndios escolares.

Em seguida, disse a meus confrades que em minha gestão na UBE-PI iniciei um movimento para que os restos mortais do excelso poeta Antônio Francisco da Costa e Silva, o poeta maior do Piauí, fosse sepultado na sua Amarante. Fiz alguns contatos, inclusive com a Academia Piauiense de Letras. Quando tinha oportunidade, tratava desse assunto, fosse em eventos literários, fosse através da imprensa. Usava como principal argumento haver ele feito esse pedido. Recitava, então, o terceto final de seu soneto Amarante, no qual o poeta externara de forma sublime e magistral esse desejo.

No meu discurso de posse na Academia Piauiense, voltei a esse assunto, quando disse: “(...) talvez seja o momento de se trasladar para Amarante os despojos de Da Costa e Silva, já que ele, quando cantou sua terra, implorou em versos de incomparável maestria: “Terra para se amar com o grande amor que eu tenho!/ Terra onde tive o berço e de onde espero ainda/ Sete palmos de gleba e os dois braços de um lenho!” Em Amarante, o seu mausoléu-memorial seria visitado e reverenciado, em verdadeira peregrinação turístico-cultural”.

Por fim, informei aos ilustres acadêmicos que estivera na quarta-feira da semana passada em Amarante, à tarde, a convite do poeta e escritor Virgílio Queiroz, para participar de uma reunião em que seria discutida a criação de um memorial ou panteão simbólico a Da Costa e Silva, já que a sua família não permite o traslado dos restos mortais do grande poeta brasileiro, segundo me foi informado. Consta que a sua viúva, mãe do poeta e embaixador Alberto da Costa e Silva, não era favorável a essa ideia, porquanto costumava rezar no túmulo do marido, localizado em cemitério carioca. Mesmo com a morte de dona Creusa Fontenele, o Virgílio Queiroz me disse que Alberto ainda é contra essa remoção, por motivos que ele desconhece.

Quando terminei minha peroração, alguns confrades, para honra minha, me apartearam, dando-me o seu apoio e solidariedade, entre os quais Herculano Moraes, que acrescentou algumas informações sobre os entraves referentes ao não cumprimento do artigo 226 da Constituição Estadual, ao tempo em que prometeu convidar a deputada Margareth Coelho, que foi minha colega e do presidente Reginaldo Miranda no curso de Direito da UFPI, para debatermos esse assunto de capital importância para a difusão e conhecimento de nossa cultura literária.

Também fui aparteado pelo desembargador Manfredi Mendes de Cerqueira, que apoiou as duas ideias sobre as quais me pronunciei. Sugeriu que o presidente da APL enviasse ofício ao secretário da Educação, deputado federal Átila Lira, solicitando que ele dê cabal cumprimento ao artigo 226 de nossa Carta Magna, implantando o ensino de Literatura Piauiense na grade curricular, como disciplina obrigatória, e não de forma optativa ou como matéria transversal ou afim, e ao prefeito de Amarante, Luís Neto, pela sua determinação em construir o memorial e panteão em honra do poeta Da Costa e Silva, parabenizando-o por esse projeto.

Virgílio Queiroz, retomando a minha antiga luta, me convidou, algumas semanas atrás, para trocarmos ideia sobre a criação desse memorial, que seria uma espécie de mausoléu simbólico. Dei-lhe vários palpites, na oportunidade, que se somaram ao que ele idealizara. Portanto, o poeta me convidou para esse encontro na Terra Azul do Poeta, a fim de que transmitíssemos nossas sugestões ao prefeito Luís Neto e ao vice-prefeito Clemilton Queiroz. Não irei entrar em detalhes. Apenas direi que Luís Neto ficou deveras empolgado com essa iniciativa.

Ficou tão entusiasmado, que acrescentou ideias suas a esse projeto, engrandecendo-o e valorizando-o. Convidou-nos a conhecer dois locais onde o monumento simbólico do último desejo do poeta e o memorial poderiam ser erguidos. De imediato, recomendou que Virgílio e Clemilton Queiroz contratassem um escritório para elaborar o projeto. Falou que as placas com os poemas e ilustrações seriam feitas em duplicata, para também serem afixadas no imenso alpendre interno da sede da prefeitura.

Sobre esse alvissareiro encontro, colhi a seguinte informação no portal Amarantenet, que muito me desvaneceu: “Elmar Carvalho, que lançou essa ideia de trazer os restos mortais de Da Costa e Silva há mais de trinta anos, quando a convite de Virgílio Queiroz, participou de um debate literário em Amarante, publicou em seu blog artigos diversos sobre esse desejo do grande vate piauiense, sempre se embalando nos versos do soneto “Amarante”. Vamos em frente, poeta Elmar”. Acrescento: vamos em frente prefeito Luís Neto, Clemilton Queiroz, poeta Virgílio e demais amarantinos, amantes dos versos do Príncipe dos Poetas Piauienses.

Várias pessoas acorreram ao local, onde provavelmente serão erigidos o memorial e o monumento simbólico do último desejo de Da Costa e Silva, como uma antecipação da importância que essa obra terá no culto ao grande poeta, que permanece vivo no coração e no amor de todos os amarantinos. Certamente o monumento e o memorial acolherão os restos mortais do poeta, como uma relíquia preciosa, quando sua família permitir que eles venham repousar no solo sagrado de sua terra mater.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Os restos mortais de Da Costa e Silva em Amarante é destaque



A ideia da construção de um monumento simbolicamente representando os restos mortais do poeta Da Costa e Silva tem recebido incentivos dos intelectuais piauienses. Entre aqueles que estão felizes em saber que o povo de Amarante respeita a vontade do seu filho ilustre, está o escritor Deusval Lacerda e o poeta Evaldo Madeira.

Ambos escreveram para Virgílio Queiroz e Elmar Carvalho parabenizando o prefeito e o vice-prefeito pelo desejo da construção de tão significativa obra. “A melhor e a mais brilhante ideia. Da Costa e Silva está acima de qualquer mediocridade ou esquecimento dos pseudo-intelectuais. Amarante só tem a ganhar com tal projeto. Adianto-lhes que estou muito feliz, esse empreendimento além de cultural, resgata assim, a magnitude desse poeta. Quem não leu o poema "SAUDADE" dedicado à sua genitora que fala de uma "santa" rezando no altar para outra "Santa". Acredito que foram os versos mais lindos que eu pude ler em minha vida. Vivamos então esse tempo. Abraços, caro Virgílio”. Expressou-se, Evaldo Madeira. “Estou feliz com a iniciativa de vocês amantes das letras, artes e cultura amarantinas em construírem o Monumento Simbólico do Último Desejo do Poeta, por uma razão simples: era o desejo do poeta ser enterrado na sua terra natal. E é também uma forma dos seus conterrâneos o reverenciarem ad eternum”, sentenciou o escritor Deusval Lacerda.

Elmar Carvalho que lançou essa ideia de trazer os restos mortais de Da Costa e Silva há mais de trinta anos, quando a convite de Virgílio Queiroz, participou de um debate literário em Amarante, publicou em seu blog artigos diversos sobre esse desejo do grande vate piauiense, sempre se embalando nos versos do soneto “Amarante”. Vamos em frente, poeta Elmar.

Fonte: Portal Amarantenet

Uma pequena e valiosa obra: "Elementos de língua latina"



Cunha e Silva Filho

A minha relação intelectual com o latim foi sempre tumultuada, conflituosa e inacabada. Isso merece uma explicação do cronista.

Em 1963, se não incorro em lapso de memória, fiz, ainda adolescente, um artigo de título “Por que a exclusão do latim?”, publicado em jornal de destaque em Teresina. Era o meu protesto contra o apagamento do currículo escolar ginasiano de uma língua que, em países adiantados, ainda hoje é cultivada. Me lembro de que o pai da linguística no Brasil, o emérito professor Joaquim Mattoso Câmara Júnior, de quem tive o prazer e a honra de ter sido aluno na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ., não por vaidade nem soberba, mas por mera brincadeira que fez uma manhã aos seus alunos numa daquelas aulas memoráveis, começou sua exposição expressando-se em latim clássico.Aproveitava para afirmar que, na Alemanha, cultivava-se o latim. Ora, isso era uma maneira de ele chamar a atenção dos seus discípulos para o papel vital que a língua de Cícero desempenhava na formação humanístico-clássica dos estudantes brasileiros.

O meu interesse pelo latim, posto que não o domine como o desejasse, remonta aos tempos de aluno ginasiano. O latim, na época, era tido como uma matéria difícil. Ora, agora entendo que a dificuldade tinha uma razão profunda: é que, por mais que admirasse a pessoa dos meus professores, essa disciplina não era bem conduzida pela Escola Tradicional. Para sintetizar, o latim era ministrado sem o concurso da didática voltada para essa língua morta, conforme a ela  sempre se referem os estudiosos de idiomas. Na realidade, de morta não tem nada. Haja vista essa espécie de “ressurreição” do latim em algumas escolas brasileiras do ensino fundamental e médio.

Grata, oportuna e abençoada ressurreição! Tudo não passava, no que tange ao estudo do latim, de uma questão de ensino-aprendizagem, ou seja, de formas de ensinar um idioma que força sem dúvida a inteligência dos adolescentes e adultos. Se essa exigência intelectual é imperiosa ao aprendizado do latim, então podemos louvar, com toda justiça e obrigação, o professor-autor Carlos Evandro Eulálio pela publicação recentíssima de seu pequeno volume Elementos de língua latina (Teresina, PI: Nova Aliança, 2013, 120 p., com Apresentação do professor Mac Dowell Leite).

A obra é realmente sedutora, seja pelo conteúdo dosado com perícia didática, seja pela diagramação, disposição da matéria ventilada, seja por aquele dado - o de tornar o estudo do latim  agradável e fácil na aprendizagem - ,  o qual  capta logo a simpatia do leitor, do adolescente ou mesmo do adulto que dele se acerque para uma aventura deliciosa de aprender este idioma tão fundamental à formação integral do indivíduo que almeje uma cultura sólida, porquanto   o estudo do latim é  complemento e  lastro ao aprofundamento dos estudos em língua portuguesa. Diga-se, de passagem, que o latim jamais será um estudo anacrônico e dispensável a  qualquer intelectual exigente com a sua formação cultural.

Me recordo, de resto, das obras didáticas do meu tempo de ginásio e mesmo nos dois anos de latim  em nível avaçado,   na universidade. No ginásio, os autores didáticos em que estudei latim na escola, ou sozinho, eram José Cretella Júnior, Vandick Londres da Nóbrega, Aída Costa, Pe.  Milton Valente, S.J., com os quatro volumes do Ludus e de sua respectiva gramática. As gramáticas latinas eram a de Mendes de Aguiar, que pertencia a meu pai, e a de Ladislau Peter. Havia igualmente em casa, a Gramatica da língua latina, de Clintoc, do tempo de D. Pedro II, que  pertencia  também a meu pai. Tenho um exemplar dela só que com muitas páginas faltando. Havia ainda em casa um prestigioso dicionário latino, o Novíssimo diccionario Latino-Portuguez, de F.R. dos Santos Saraiva, editado pela H. Garnier, Livreiro-editor, Rio de Janeiro, Rua do Ouvidor, 71 e Rue des Saints-Père, 6, Paris, s/d.

Tempos depois, recebi de um amigo a Gramática Latina, do P. João Ravizza (da Arcádia Romana). Nela estudou meu pai, quando aluno interno do Colégio Salesiano Santa Rosa,  de Niterói, nos anos vinte do século passado.A edição que tenho é a décima quarta, publicada pela Escola Industrial Dom Bosco, em Niterói, 1958, 560 p. Meu pai foi aluno de Mendes de Aguiar, o autor da gramática acima citada. Foi ele quem verteu para o latim o Hino Nacional Brasileiro. Em tempos mais atuais, tenho comigo a obra Latin, da coleção Teach yourself books, de autoria de F. Kinchin Smith, fundamentada no trabalho de W. A. Edward (London: Hodder and Stoughton, revised edition, 8th impression, 1979, 344 p.)

A matéria daqueles livros didáticos era ensinada sem aquele cuidado necessário a quem aprende uma língua que exige esforço, muito esforço pessoal e um professor que a saiba ensinar com paciência, com cuidado e sem atropelos. Nisso joga um papel nuclear no sucesso do aluno a maneira de distribuir e de expor a gramática latina, os exercícios propostos.  A dosagem da matéria nos estudos das declinações e dos verbos são elementos-chave sobretudo se aliados a uma controle didático da quantidade de vocabulário com a sua respectiva significação em português a ser aprendida pelo educando, vocabulário este que se internaliza, pouco a pouco, no espírito do jovem e do adulto quando contextualizado com cautela e suavidade.

O latim, assim como o grego ou mesmo as línguas vivas, deve ser lecionado com vagar, paciência e tempo suficiente. Nada de atropelos, de açodamento para ensiná-lo a toque de caixa, sem que ao aluno seja possibilitado o fôlego necessário a absorver suavemente a matéria ensinada, quer a gramática, quer a leitura ou mesmo tradução. Sobre este assunto, remeto  o leitor ao meu livroBreve introdução ao curso de letras: uma orientação (Rio de Janeiro: Litteris Ed.: Quártica, 2009, 117 p.) No capítulo 5 , “A importância do conhecimento de idiomas,” o leitor pode ver as sugestões que lhe apresento no tocante a línguas modernas e bem assim ao latim e grego. Dou-lhe algumas dicas e ainda faço algumas sérias restrições ao mau ensino dessas duas línguas clássicas no ensino superior de Letras.

O excesso de gramática, exposta em linguagem rebuscada, o peso excessivo de vocabulário apresentado ao aluno, numa palavra, os capítulos longos e aborrecidos, sem nenhuma preocupação de ensinar com prazer e dosagem certa de conteúdo acabaram, no passado, com o interesse dos alunos pelo latim. Resultado: cursavam quatro alunos de latim no ginásio e, com poucas exceções, saíam dessa fase do ensino detestando o latim e despreparados até para ler um texto básico da língua.

O fato de memorizarem as declinações e as conjugações de nada valiam para eles, pois eram incapazes de traduzir os fabulistas latinos, quanto mais o De bello gallico, de Júlio César e asCatilinárias de Cícero ou  obras literárias de outro autor latino. O que havia era mera decoreba de trechos dessas obras, como preparação ao ingresso nos cursos de Letras ou Direito.

Eis por que aplaudo a obra Elementos de língua latina, do professor Carlos Evandro M. Eulálio.Não só aplaudo mas a recomendo aos jovens estudantes brasileiros. Tenho minhas razões de estar entusiasmado. É porque este pequeno livro abrange os instrumentos básicos da estrutura do latim, sua gramática, sua sintaxe, seu vocabulário indispensável ao iniciante. Enxutos, os seus capítulos sabem equilibrar o tanto suficiente e  desejável aos primeiros passos nessa língua. Cada capítulo traz, em forma de epígrafe, um provérbio, uma frase sentenciosa, um pensamento, reunindo-os ao longo do livro, os quais  servem para uma efetiva e proveitosa reflexão do aluno e do professor. No rodapé da página, o autor lhes dá a tradução em vernáculo.

Constituído de doze lições bem distribuídas,  sem cansar o aluno ou o professor, o autor abre o primeiro capítulo com uma informativa e utilíssima história da língua latina, focalizando sua estrutura, pronúncia, flexões. Nos capítulos seguintes, ensina as declinações, a s conjugações  vaerbais,  o prnomes relativo,  as preposições etc., o que ele denomina “tópicos de gramática.” Ensina como deve o aluno procurar uma palavra no dicionário. Propõe exercícios de tradução e versão. O livro ainda inclui um glossário de palavras gerais do latim com a tradução em português.

O livro acrescenta, ao final, uma chave de todos os exercícios propostos nas respectivas lições. Aliás, a utilização de chave de exercícios em livro didáticos remonta há anos. A antiga coleção FTD dos Irmãos Maristas já usava chaves dos exercícios. Este recurso, que talvez tenha origem entre autores ingleses, hoje é amplamente utilizado no país e no exterior. A chave de exercícios, nos livros didáticos de Carlos Evandro, é muito proveitosa, não só para os alunos das escolas que adotam este livro, mas também para aqueles que estudam sozinhos, aprendendo pela primeira vez o latim, ou senão revendo os estudos interrompidos desta língua.As referências bibliográficas são atualizadas e certamente auxiliarão bastante os alunos que desejarem avançar no estudo do latim.

Aproveito o ensejo desta  crônica  para formular um pedido ao autor: que ele, quando possível, ainda publique pelo menos mais dois volumes dando sequência ao estudo do latim no ensino médio. Bem sei que seu livro anteriormente editado, Latim forense para estudantes(Teresina,PI: Nova Expansão Gráfica e Editora Ltda., 2009, 211 p.) poderia ser um complemento do volume ora publicado, que visa a um público-alvo específico, embora, em linhas gerais, siga os mesmos procedimentos didáticos do segundo livro do autor para o ensino do latim.

Quando falo de mais dois volumes para os Elementos de língua latina me refiro a volumes que possam atingir níveis de texto de autores básicos da literatura latina, os fabulistas, por exemplo, maior aprofundamento da sintaxe e inclusão de textos de César, Cícero e de outros escritores latinos menos complexos. Aguardo que os dois livros de Carlos Evandro consigam alcançar o sucesso que merecem. Com publicações didáticas iguais a estas, vejo com muito orgulho  que o estado do Piauí já dá mostras de uma produção científica no domínio do livro didático. O caminho está aberto para outros autores nas diversas disciplinas do currículo do ensino fundamental e médio.

terça-feira, 26 de março de 2013

HUMBERTO DE CAMPOS



HUMBERTO DE CAMPOS

Reginaldo Miranda
Presidente da Academia Piauiense de Letras


Não cheguei muito alto nem muito perto, de modo a ombrear com os mais notáveis escritores do meu País, porém, percorri maior caminho do que eles, porque vim de muito baixo e de muito longe”, rememorava o escritor Humberto de Campos Veras, e que foi recentemente lembrado pelo também escritor Murilo Mello Filho, da ABL, em singela homenagem.
Ele entrou pela vida no dia 25 de outubro de 1886, em Miritiba, “uma soturna vila olhando um rio sem vapor nem ponte”, plantada nos confins do Maranhão e que hoje ostenta o nome de Humberto de Campos, em homenagem ao filho mais ilustre. Ficou órfão de pai aos seis anos de idade. Nesse mesmo tempo deixou a pacata vila de seu nascimento e foi enfrentar “o doido lutar em terra alheia”, primeiro em Parnaíba, no Piauí, onde viveu os anos iniciais de sua adolescência. Depois passando para São Luís do Maranhão, onde trabalhou como auxiliar do comércio. Mais tarde, aos 17 anos de idade, muda-se para Belém do Pará, onde passou a trabalhar como colaborador e redator dos jornais Folha do Norte e, mais tarde, da Província do Pará. Nessa capital amazônica estréia em livro no ano de 1910, publicando uma coletânea de versos intitulada Poeira. Era sua estréia literária, aos 24 anos de idade. Em 1912, “pega um ita no norte” e muda-se para o Rio de Janeiro, passando a trabalhar no jornal O Imparcial, ao lado de ilustres nomes da cultura nacional, como Rui Barbosa, João Ribeiro, José Veríssimo, Goulart de Andrade, Salvador de Mendonça, Júlia Lopes de Almeida, Vicente de Carvalho e tantos outros, sendo uns redatores, outros meros colaboradores. Todavia, foi uma oportunidade para sedimentar sólidas e importantes amizades e para projetar seu nome no centro cultural do País. Em 1923, já era responsável pela coluna de crítica do conceituado Correio da Manhã.
Autodidata, mas sempre ávido de conhecimento, em pouco tempo intensifica sua produção literária, divulgando uma série de contos e crônicas, primeiro com o pseudônimo de Conselheiro XX, depois adotando outros, como Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios. A desvantagem financeira não o impediu de projetar-se na cena política e literária nacional. Cronista primoroso, escritor notável, sua ascensão foi meteórica. O reconhecimento foi imediato. Em 30 de outubro de 1919, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Esse sucesso literário não ficou alheio ao povo do Maranhão que num momento de felicidade, em 1920, o elegeu deputado federal, permanecendo no Parlamento até a Revolução de 30, quando foi nomeado inspetor do ensino e diretor da Casa de Rui Barbosa.
Humberto de Campos nos legou duas dezenas de obras, entre as quais: Da seara de Booz (1918), Mealheiro de Agripa (1921), Carvalhos e roseiras (1923), A bacia de Pilatos (1924), Grãos de mostarda (1926), O monstro e outros contos (1932), À sombra das tamareiras (1934), Sombras que sofrem (1934), Um sonho de pobre (1935), Destinos (1935), Lagartas e libélulas (1935), Notas de um diarista (séries 1935 e 1936), Reminiscências (1935), Sepultando os meus mortos (1935), O arco de Esopo (1943), A funda de Davi (1943), Gansos do capitólio (1943) e Fatos e feitos (1949).
Todavia, dentre sua vasta obra, destacamos as Memórias, um depoimento pungente sobre os primeiros dias de sua existência. Sobre elas disse o escritor: “Escrevo a história da minha vida não porque se trate de mim; mas porque ela constitui uma lição de coragem aos tímidos, de audácia aos pobres, de esperança aos desenganados, e, dessa maneira, um roteiro útil à mocidade que a manuseie. Os vícios que a afeiam, os erros que a singularizam e que proclamo com inteira tranquilidade de alma, os rochedos em suma, em que bati, mesmo esses me foram proveitosos, e sê-lo-ão, talvez aos que me lerem. Conhecendo-os, saberão aqueles que vierem depois de mim, que devem evitá-los, fugindo aos perigos que enfrentei, e, conseguintemente, procurando, na viagem, caminhos mais limpos e seguros. Como nas cargas de cavalaria de Napoleão em Waterloo, os cavaleiros que vão na frente, na Vida, devem soterrar o fosso para a passagem vitoriosa dos que vêm atrás”.
Com essas notas desejamos realçar o nome aureolado de Humberto de Campos, um dos mais populares escritores do Brasil. Saiu de cena em 5 de dezembro de 1934, no Rio de Janeiro, aos 48 anos de idade, quando muito ainda poderia contribuir para com o desenvolvimento cultural de seu País. Partiu muito cedo, mas sua obra permanece como testemunho inaudito de sua passagem por esse teatro da vida.

segunda-feira, 25 de março de 2013

IPIRANGA DO PIAUÍ – JOÃO BORGES CAMINHA



Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

O título do artigo de hoje é marcado por dois nomes que se ligam pela geografia e pelo acendrado amor à terrinha berço. É sobre “IPIRANGA DO PIAUÍ, com o subtítulo “Recordações da cidade e do campo”, de autoria João Borges Caminho, advogado, professor universitário e escritor desenvolto. A acreditar na sinceridade de sua escrita, e não há como desacreditar, não há no mundo pessoa mais ligada à sua terra de nascimento, precisamente “FURTA-LHE A VOLTA”, povoado do município de IPIRANGA DO PIAUÍ. João Borges Caminha é um historiador meticuloso, pesquisador honesto e sempre carregado de emoção quando fala (ou escreve) sobre seu passado, sua família, sua terra. De início, as passagens que mais me chamaram a atenção foram aquelas que se referem a FURTA-LHE AVOLTA. Por quê? Talvez, por causa do vigor que João Borges Caminha põe. Agora passo a citá-lo: - “No final do século XVIII, precisamente a partir de 1780, começou a ser denominado de FURTA-LHE A VOLTA, um sítio aprazível, localizado nas nascentes do riacho Engano, na bacia hidrográfica do rio Corrente, afluente do Canindé, do município de Ipiranga do Piauí, na época integrando o município de Oeiras. (...) Conforme a tradição oral transmitida pelos antepassados, à qual adicionamos as nossas constatações, o inolvidável sítio, agora cognominado de “FURTA-LHE A VOLTA”, originariamente pertencia quase todo ao Capitão-mor João Gomes Caminha. Este Capitão mor libertou a vila maranhense de PASTOS BONS do jugo português. Com a morte deste, ditas terras passaram ao seu filho, Tenente e depois Capitão José Gomes Caminha, residente na fazenda Laranjeira, situada a um quilômetro da acolhedora vertente de água doce que corria, e ainda corre plácida e serena dos brejais abaixo, até desembocar no riacho Engano. A fazenda Laranjeira era constituída de terras frescas, compostas de buritizais, próprias ao cultivo de cana de açúcar, e de baixões. Afora os cidadãos da terra já citados, entre os mais antigos moradores de “FURTA-LHE A VOLTA”, de que se tem notícia, por sua respeitabilidade e serviços prestados, destacam-se Manoel dos Anjos, os Marinheiros italianos, Capitão Joaquim José Brandão e poeta Manoel Caminha, filho do Capitão José Gomes Caminha”.

FURTA-LHE A VOLTA” era uma passagem difícil, por onde os tropeiros teriam que passar fazendo uma volta distante. Depois dos primeiros, outros começaram a trilhar o difícil, que se tornou fácil, ou talvez lhe tenham feito uma rústica ponte ou coisa desse tipo. A passagem que “furtava a volta, para diminuir o caminho”. Mas giram outras lendas sobre “FURTA-LHE A VOLTA”. E, como sabemos, as origens, especialmente de nomes geográficos, explicam muito da história. Seria um pouco difícil o porquê do nome original e esquisito.  As versões mais conhecidas têm origem na passagem dos tropeiros de vários lugares em busca da cidade de Oeiras. E, ao que me parece, a que mais agrada aos “ipiranguenses do Piauí” seria a de que, como escreve João Borges Caminha, tem base no final do depoimento de seu primo Genésio Borges Caminha, de 31.7.1994, residente no povoado “FURTA-LHE A VOLTA”, pelo qual já foi vereador na cidade de IPIRANGA DO PIAUÍ:

Outra versão do nome FURTA-LHE A VOLTA é a que indica circunstâncias aconchegantes do lugar e de seus habitantes, traduzidos pelos recuados caminheiros que por lá passavam ou ficavam. Por essa lenda, portanto, foi dado ao lugar o nome de Furta-lhe a Volta, para significar que muitos dos visitantes ou transeuntes, atraídos, resolviam não mais voltar aos seus lugares de origem, a fim de passarem a desfrutar, também, da aprazibilidade da terra e do seu povo”.

Bem, mas basta de transcrever, quem quiser saber mais é só ir ao livro. Lá encontrará uma soma enorme de informações sobre a cultura, o modo de vida e a história política e social da cidade. Escrever a história de sua cidade e seu município é muito proveitoso para deleite e envaidecimento dos que lá residem, mas também como documentação. No Brasil os documentos sobre que se fundam a história desaparecem muito rapidamente. O escritor João Borges Caminha está de parabéns por mais este seu livro, por sua paixão pela verdade de sua terra e pela emoção de colocar em agradável estilo tudo o que pesquisou. Isto não tem pagamento.  A obra em comento é importantíssima para a geografia, a história, a sociologia e demais setores do conhecimento humano, inclusive para as pesquisas e descobertas arqueológicas. É patente a valorização que João Borges Caminha dá à educação, as artes em geral e até a poesia, valendo-se das “MEMÓRIAS”, de Joel Borges, publicadas na revista “DE REPENTE”, em vários capítulos. Mas, de modo muito especial, Caminha focaliza a vida, o trabalho e as dificuldades do homem da roça, que tanto sofre. O Prof. Caminha, especialista em Direito Agrário, sabe muito bem da vivência deles, por experiência própria, e da luta desses sertanejos. Parafraseando Euclides da Cunha, dizemos que “o sertanejo, depois de tudo, ainda é um forte”.

Tenho afirmado e reafirmado que quem não ama sua terra e sua gente não ama ninguém nem nada, e não sabe quanto é gostoso e faz bem à alma. Com este livro, João Borges Caminha faz coro ao famoso dito de León Tolstói, tão acolhido por milhares de escritores clássicos, de que quem quer ser universal tem de ser primeiro em sua terra. João Borges Caminha mostra seu acendrado amor à terra e à gente de IPIRANGA DO PIAUÍ. Parabéns, Caminha, por mais este feito.

domingo, 24 de março de 2013

Seleta Piauiense - Torquato Neto



Cogito

Torquato Neto (1944 – 1972)

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim. 

sábado, 23 de março de 2013

Francisco de Assis escandalizou e acudiu a Igreja abalada




José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com



A eleição do Papa Francisco puxa um fio histórico que remonta a oito séculos, quando a Igreja atravessava um período de decadência, semelhante a que enfrenta, em alguns aspectos, na atualidade.
Nascido em 1182, Francisco de Assis abandonou o luxo, a boemia e a generosa fortuna paterna, para viver a pobreza evangélica ao extremo. Jesus Cristo era pobre, Francisco de Assis, miserável. Jesus nasceu em uma gruta, não porque José não dispusesse de dinheiro para pagar hospedagem, mas por falta de vagas. Jesus recolhia dinheiro para seu sustento e dos apóstolos, banqueteava-se, bebia vinho, vestia uma túnica inconsútil, disputada pelos soldados no Calvário. Paradoxalmente, Francisco escolheu uma cabana, depois uma velha pocilga abandonada para seus primeiros frades, vestia túnica surrada de camponês, misturava água ao vinho e cinza à comida, para disciplinar a temperança. Francisco enojava dinheiro, considerava-o excremento. Ao fundar a Ordem Franciscana, sua constituição proibia receber e acumular dinheiro dos benfeitores, em vez de outras doações básicas.
Francisco e seus primeiros frades(12) dirigiram-se a Roma para aprovação da constituição da Ordem. Sujos e vestidos pobremente, foram ridicularizados pela corte do Papa Inocêncio III, que se aborrecceu com sua Regra, considerada excessivamente rigorosa e impraticável, e fossem pregar entre os porcos. Do chiqueiro próximo, cobertos de lama, voltaram para o papa, que, refletindo um momento, decidiu recebê-los em uma audiência formal depois que se lavassem. Francisco e seus companheiros se prepararam para outro encontro, conseguindo o apoio de prelados eminentes para a sua causa.
Papa Inocêncio III teve um sonho, onde viu a Basílicaca de São Pedro prestes a desabar. Um pobre religioso, que ele interpretou como sendo Francisco, tentava sustentá-la. Inocêncio, finalmente, autorizou a Regra, mas não por escrito, nem outorgou o estatuto ao grupo. Apenas permitiu que pregassem e dessem socorro moral às pessoas, mas acrescentando que, se eles conseguissem frutos de seu trabalho, voltassem, para que sua situação fosse completamente regularizada. A Igreja atravessava momentos de pomposidade e disputas internas de poder.
A Ordem Franciscana cresceu rapidamente e ganhou freiras lideradas por Clara, nobre burguesa de Assis. O papa, finalmente, aprovou os estatutos.
O franciscanismo, na pobreza e simplicidade de vida, espalhou-se rapidamente. No final da vida, Francisco vivia atribulado, sem autoridade para brecar os que infrigiam a rígida pobreza. Daí as divisões internas. Surgiram Franciscanos, Capuchinhos, Conventuais e a Ordem Terceira(leigos), além de divisões entre as Clarissas.
A Igreja Católica contemporânea, como tantas outras instituições humanas, atravessa momento delicado de condutas avessas a princípios éticos. A eleição do Papa Francisco acende uma luz de retorno ao Cristo dos evangelhos: simplicidade de vida meio ao materialismo e instintos selvagens do século. O sonho do "Povello de Assis" ainda pode salvar as torres abaladas da Basílica de São Pedro.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Os restos mortais de Da Costa e Silva em Amarante

Prefeito Luiz Neto, vice-prefeito Clemilton Queiroz, Elmar Carvalho e Virgílio Queiroz


 O Juiz de Direito da Comarca de Regeneração, o poeta e imortal da Academia Piauiense de Letras, Elmar Carvalho, esteve em Amarante visitando alguns locais onde poderão ser instalados o “Monumento Simbólico do Último Desejo do Poeta” e o “Núcleo de Estudo sobre Amarante e sua Gente”.

O Monumento será construído em homenagem aos últimos versos de Da costa e Silva em seu soneto “Amarante”: “Terra para se amar com o grande amor que eu tenho/Terra onde tive o berço e de onde espero ainda/sete palmos de gleba e os dois braços de um lenho”. O núcleo de estudo será aberto para exposições de poemas e textos de autores sobre a cidade de Amarante. Além de poesias e textos impressos, o visitante terá direito a assistir filmes, documentários, conferências, etc.

No núcleo, de forma permanente, haverá uma exposição de pinturas e fotografias do patrimônio arquitetônico e do município, além de informações sobre as manifestações culturais e a culinária do povo amarantino. No monumento simbólico ficará o reconhecimento de Amarante ao amor de Da Costa e Silva por sua terra natal.

“Será neste local onde o maior poeta do Estado do Piauí será venerado. É aqui onde ele descansará pela vontade do povo. Não nos importa se os restos mortais do poeta estejam no Rio de Janeiro. Em Amarante, sua Terra Natal, é onde ele é amado e reverenciado. Quando construído o monumento, todos os dias ele será visitado e Da Costa Silva, enfim, será respeitado em sua vontade derradeira”, disse o jornalista e escritor Virgílio Queiroz.

Elmar Carvalho, que participa ao lado de Virgílio Queiroz, disse que deixou Amarante muito otimista: “fiquei satisfeito com a receptividade. O prefeito Luiz Neto e o seu vice, Clemilton Queiroz, mostraram-se abertos ao projeto que é muito importante para Amarante. Há mais de trinta anos nós lançamos a ideia da vinda dos restos mortais de Da Costa e Silva, se não foi possível, em breve o grande vate será agraciado pelo sonho e vontade do povo no que ele mais queria: ser sepultado em sua Terra Natal”, concluiu Elmar Carvalho. 


Fonte:  site Amarantenet

JÚLIO ROMÃO DA SILVA




Reginaldo Miranda
Presidente da Academia Piauiense de Letras


Faleceu na manhã de sábado(08/03), em sua residência, nesta cidade de Teresina, o escritor e acadêmico Júlio Romão da Silva, aos 96 anos de idade incompletos. Deixa viúva a d. Zélia Maria Melo Romão da Silva, com quem era casado desde alguns anos, e cinco filhos oriundos de outras duas uniões anteriores.
Homem de cor e de origem humilde, nasceu na cidade de Teresina, em 22 de maio de 1917, o mesmo ano de fundação da Academia, sendo filho de Luís Quirino da Silva e Joana Quirino da Silva. Órfão desde os quatro anos de idade foi criado pela avó, vivendo premido por necessidades financeiras.
Completada a idade escolar ingressou no colégio Demóstenes Avelino, onde cursou o ensino primário, passando, posteriormente, para a antiga Escola de Aprendizes Artífices, hoje Instituto Federal do Piauí(IFPI), cursando marcenaria, que concluiu em 1933, aos 16 anos de idade. No ano seguinte, em busca de oportunidades muda-se para São Luiz do Maranhão, onde passa a viver da marcenaria, profissão que tinha iniciado em Teresina. Todavia, em 1937, sem recursos financeiros, embarca clandestinamente no porão de um navio cargueiro, indo desembarcar no Rio de Janeiro, onde fixou residência e continuou a desenvolver a marcenaria.
Nesse novo domicílio, com enorme esforço e extraordinária força de vontade, venceu as dificuldades cursando o ensino ginasial no Colégio Matos e formando-se em Comunicação pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil. Então, passa a trabalhar no Jornal do Comércio, primeiro como revisor, depois como redator e editorialista. Consolidando seu nome como jornalista e intelectual, ainda teve passagem por outros órgãos da imprensa carioca, tais como O Malho, Diário Carioca, Vamos Ler, Revista da Semana e Dom Casmurro.
Concomitantemente à carreira jornalística e literária, foi servidor público federal, ingressando por concurso no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), onde ocupou diversos cargos de direção.
Escritor engajado, ativista negro liderou diversos movimentos sociais no Rio de Janeiro.
Dedicou-se à literatura, publicando obras de real valor, que projetaram seu nome no cenário nacional. Publicou as seguintes obras: Os escravos(1947), O golpe conjurado(1950), Memória histórica sobre a transferência da capital do Piauí(1952), Luís Gama e suas poesias satíricas(1954), Vida e obra de Teodoro Sampaio(1955), A maçonaria, os destinos políticos do Brasil e a atualidade brasileira(1958), Santa Catarina: geografia, demografia, economia(1960), Geonomásticos cariocas de procedência indígena(1962), A parábola da ovelha(1963), Evolução do estudo das línguas indígenas do Brasil(1965), Denominações indígenas no toponbímica carioca(1966), A mensagem do salmo(1967), A família etnolinguística Bororo(1968), O monólogo dos gestos(1968), Zumbo-Zumbo(1969), A epopéia brasileira(1972), Solano Trindade(1974), Cera de carnaúba e cacau(1974), Cultura humanística em Portugal e arte biográfica(1975), Louvado seja Castro Alves(1975), José, o vidente(1975), Os índios Bororos: família etnolinguística(1980), Os anjos caídos(s/d), além de palestras e conferências.
Essa obra foi bem recebida pela crítica, sendo apreciada, entre outros, por Agripino Grieco, Alceu Amoroso Lima, Outro Maria Carpeaux, A. Tito Filho e M. Paulo Nunes. Foi reconhecido pela Academia Brasileira de Letras com os prêmios João Ribeiro(1962) e Cláudio Sousa(1972); pela Prefeitura de Teresina, com a Medalha do Mérito Cultural José Antonio Saraiva(1995); pelo Governo Piauí, com o diploma de Grão-Mestre da Ordem do Mérito Renascença do Piauí(1997) e pela Universidade Federal do Piauí, com o título de doutor honoris causa(2011), entre outras medalhas e condecorações. Recebeu os títulos honorários de cidadania carioca e fluminense, pela Câmara Municipal e Assembleia Legislativa do Rio. É nome de Rua no Bairro do Meier, no Rio de Janeiro. Reconhecendo seu talento, a Academia Piauiense de Letras o recebeu como titular da cadeira 31, em 21 de maio de 1990.
Por motivo de doença ultimamente ele vivia afastado das reuniões acadêmicas. Todavia, em 22 de dezembro passado o recebemos pela última vez na Academia, quando foi lançado o livro Júlio Romão da Silva – entre o formão, a pena e a flecha, com parte de sua obra e fortuna crítica, organizada pelos escritores Ací campelo e Elio Ferreira. Foi um dia de festa na Academia. Brevemente, faremos o seu panegírico, como manda o Estatuto da Casa. Será, portanto, mais uma homenagem ao aguerrido escritor. A Academia está de luto, porque perde um de seus mais expressivos membros.

quinta-feira, 21 de março de 2013

PERDIDOS & ACHADOS – TEMPOS RECIFENSES – PARTE II





21 de março   Diário Incontínuo


PERDIDOS & ACHADOS – TEMPOS RECIFENSES – PARTE II

Elmar Carvalho


No período em que fiz o curso de Monitor Postal no Recife, fiquei hospedado numa pensão, que ficava há poucos quarteirões do Centro de Treinamento Correio Paulo Bregaro, por recomendação de meu pai, que fizera no ano anterior o curso de Técnico Postal, de mais longa duração. Eram meus colegas de curso os piauienses Paulo Carneiro, Alcides Ananias Ibiapina, Bernardo Candeira do Val, chamado Doval, e Chaguinhas. Os dois últimos já são falecidos. Na mesma época, faziam o curso de Técnico Postal os conterrâneos Afonso Sandes, Jaime Medina e Euclides.


Doval estava sempre a falar em Parnaíba, onde morava, e em Buriti dos Lopes, sua terra natal, com muito entusiasmo e até mesmo com certo bairrismo eufórico e nostálgico. Mostrava-nos fotos e postais dessas cidades. Não sabia eu que, ainda em junho desse ano (1975), iria morar na primeira, a graciosa Princesa do Igaraçu, onde trabalharia na ECT e me formaria em Administração de Empresas, e onde faria algumas de minhas mais estimadas amizades. Talvez por isso, mantidas as proporções e consideradas as diferenças, Parnaíba sempre me fez evocar a bela Veneza Brasileira, que não mais revi, a não ser em fotografias e nos poemas evocativos do recifense Bandeira.

Aos sábados e domingos, fazíamos o nosso turismo, em locais diferentes de Recife e Olinda. Uma vez, fomos de ônibus elétrico conhecer, salvo engano, o parque zoobotânico de Recife. O veículo tinha uma haste ligada ao fio de energia, porém tinha pneus de borracha, como um ônibus qualquer, e não rodas de ferro, como bondes ferroviários. Nesses passeios, vimos o centro histórico recifense, com suas inúmeras pontes e seus vetustos prédios e igrejas, e a paisagem bucólica e marítima da linda cidade de Olinda. Fomos a Boa Viagem, e viajamos na formosura das ninfas em flor que perlongavam essa praia.

Num final de semana prolongado, fomos com colegas de Maceió conhecer as lagoas da capital de Alagoas e a beleza de suas praias. Fiquei hospedado na casa de um colega cujo nome já não recordo, e o Paulo foi hóspede dos pais do Rivadávia. Na casa destes saboreei uns frutos do mar; até então só conhecia quase exclusivamente peixes de água doce.

No meio dos velhos papéis garimpados por minha irmã, havia um cartão, datado de 11/07/1975, quando o curso já terminara, remetido por Ednelson, também alagoano, que contagiava todos com sua simpatia espontânea, certamente nascida de sua boa alma. Nesse postal dizia ele: “Vai esta vista para você de uma das praias mais belas que temos em Maceió”. A praia era Pajuçara, que conheci nessa viagem, e que a névoa do tempo já esvanece em minha memória.



Também era de Maceió a moça que mais nos encantava no centro de treinamento, com sua beleza quase rechonchuda, de muitas e arredondadas curvas, quando desfilava, sem ostensivos requebros e rebolados, pelo hall e pelos corredores da instituição. Ela não aparentava ser orgulhosa ou indiferente, mas não se exibia e nem flertava com ninguém. Seu semblante parecia satisfeito com os olhares que lhe eram endereçados, embora fingisse não notar. Corria rumores de que tinha um noivo em Alagoas.

Como disse na nota anterior, fui eleito orador de minha turma. Conhecia trechos de discursos de Rui Barbosa e de outros mestres da retórica. Lera sobre o romano Cícero e sobre o ateniense Demóstenes. Na minha meninice, ouvi, pessoalmente ou através do rádio, grandes oradores sacros e políticos do Piauí, entre os quais cito: Dom Avelar Brandão Vilela, Pe. Mateus Cortez Rufino, Pe. Solon Correia de Aragão, Severo Maria Eulálio, Celso Barros Coelho e Francisco Figueiredo de Mesquita. Já então tinha certo pendor para a oratória, não obstante fosse um tanto tímido e reservado. Resolvi caprichar, e tratei de escrever o texto, que haveria de ler na solenidade de formatura. Dei-lhe alguns contornos condoreiros e certo tom declamatório.

Um dos instrutores do centro, de temperamento expansivo e um tanto afogueado, de origem argentina, e ao que comentavam ainda parente de Peron, de vasto bigode, quase à Dalí, embora sem as pontas viradas para cima, disse, em retumbante hipérbole, que recebi com modéstia e discrição, que meu discurso merecia ter sido proferido em certo sodalício, cujo nome acho recomendável não declinar. De qualquer sorte, devo confessar que, intimamente, fiquei feliz com o bombástico elogio, e agradeci o mestre por suas palavras, mas esquivei-me da insidiosa picada da mosca azul, que tem levado ao ridículo tanta gente.

Quando eu fazia o estágio, etapa final do curso, numa das agências do centro do Recife, recebi o recado da diretora do centro de treinamento, dona Cecília, que era casada com o então diretor da ECT no Estado de Pernambuco, para que fosse a uma solenidade, que estava acontecendo, recitar o meu poema Recife, que naturalmente havia sido divulgado entre alguns poucos colegas, e que havia, não sei como, chegado ao seu conhecimento. Talvez o tenha declamado em outro evento anterior ou mesmo em sala de aula, mas não tenho certeza quanto a isso.

Passadas tantas décadas, já não recordo os detalhes. Certamente fui aplaudido, mas tudo está envolto em brumas em minha retentiva. Se tivesse sido vaiado, com certeza jamais teria esquecido. A lembrança permaneceria vívida e dolorida para sempre. Foi esse poema, que tanta alegria e tantas emoções me causou em minha adolescência, que por muitos anos considerei perdido; e agora foi encontrado por minha irmã Joserita. E eu o acolho, como se acolhesse um filho pródigo. Pródigo e perdido; perdido, mas nunca esquecido.  

Comentários sobre Ramon e Juliana



RAMON E JULIANA

Adrião Neto é uma das figuras mais atuantes da cultura brasileira. Piauiense da gema, destaca-se pelo Brasil inteiro e notabiliza-se pelo mundo. Seus trabalhos, livros, ensaios, recuperações históricas, romances, um mundo de atividades, estão em contínua ebulição, nunca param. Haverá espeça que ele ainda não tenha palmilhado? Difícil. Agora, chega-nos mais um belo trabalho, Ramon e Juliana, um misto de romance e reportagem – um romance reportagem, registrando, contando, documentando. Um livro gostoso de se ler, que vale a pena ser lido, precisa ser lido.

Inês Hoffmann e Nelson Hoffmann, in Autores & Livro, jornal Nheçuano, ano 4, número 16, Roque Gonzales, RS, janeiro/fevereiro de 2013.


RAMON E JULIANA


Maria Carvalho

Adrião Neto já possui vários livros publicados e continua produzindo com sucesso extraordinário, extraindo de sua inteligência privilegiada e que não se exaure, obras de valor inestimável, expondo nelas a sua alma sonhadora e apaixonada, o seu acendrado amor pelo seu povo, sua gente, seu Estado, seu País. A sua pródiga imaginação, grande sensibilidade, esmerado espírito de observação, dom para escrever o levam para outras e mais outras obras de qualidade excepcional, dignificando a Cultura do nosso Estado, tornando o nosso Piauí mais conhecido, valorizado, respeitado e mais amado.

Adrião é o mágico perfeito do bem descrever, do bem relatar. É um escritor minucioso no escolher da palavra correta, adequada àquilo que deseja realçar, transmitir, fazer compreender. Ele consegue despertar no leitor a imensa vontade de conhecer o que ele descreve e, com relação ao livro RAMON e JULIANA, a vontade de viajar, de ir a novos lugares, descobrir suas belezas, culturas, idiomas, costumes, crenças, tradições.

Em RAMON E JULIANA o nosso ilustre escritor, Adrião Neto, retrata pessoas, descreve comportamentos, cidades, casas, ruas, mergulha no passado e vai buscar a história maravilhosa das antigas Civilizações, como a Inca, tudo num estilo claro, leve direto, pois interpreta e sente com o coração o que o cerca, o comove, o fascina.

Li RAMON e JULIANA várias vezes e viajei com eles pelo Brasil e pelo exterior. Passeei no TREM AZUL, visitei o VALE SAGRADO em CUSCO e me deleitei com os picos nevados dos ANDES. A leitura me cativou e me prendeu tão completamente que fiquei triste, quando li o último capítulo e concluí nada mais ter para ler. Infelizmente!

Maria de Carvalho Gonçalves, musicista, poetisa, cantara e compositora piauiense, in: “Apresentação de Lançamento do livro Ramon e Juliana”, Floriano, PI, 21 de julho de 2012.

A INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIEDADE
DE RAMON E JULIANA

Francisca Neponuceno
O maior mérito do livro Ramon e Juliana não é a intertextualidade temática com Romeu e Julieta nem o amor poranga, mas sim a interdisciplinaridade e transdisciplinariedade que a leitura do mesmo possibilita, pois conhecer Portugal, particularidades de seu sistema monárquico, ratifica o que o aluno está estudando em História com as façanhas do Marquês de Pombal, Dom Henrique, o navegador, saber que D. Pedro IV em Portugal é o mesmo D. Pedro I no Brasil entre outros. Em Artes, conhecer os mosteiros, a Torre de Belém, o Aqueduto das Águas Livres, o Teatro Nacional Dona Maria II, um exemplar da arquitetura neoclássica.
O livro nos permite contextualizar uma aula de Literatura sobre o Modernismo Português, quebrando paradigmas, isto é, chamando o personagem Ramon para contar particularidades da vida de Fernando Pessoa quando entra no famoso café situado na Praça do Comércio, de frente para o rio Tejo, onde Pessoa escreveu parte de sua obra. A declamação e interpretação da poesia Mar Português, excelente momento para motivar os aprendentes a superar as dificuldades para atingir seus objetivos.
Ramon e Juliana permite ainda transversalizar com geografia, pois durante a leitura um mapa mundi pode ser colocado na sala de aula, marcando-se as coordenadas geográficas por onde os personagens passaram, medindo as distâncias entre os países, cidades, observar as diferenças de fuso horário, clima, etc.
São experiências vividas pelo personagem narrador num gênero textual diferente do livro de História, de Geografia e de Artes. A linguagem é empregada com uma função diferente da informativa, leva o aprendente a desenvolver habilidades como relacionarem diferentes textos, opiniões, temas, inferir em texto, quais são os objetivos de seus produtos, identificar em textos de diferentes gêneros os temas e a interdiscursividade existentes.
É importante se contextualizar o conhecimento numa perspectiva holística, no entanto, deve-se manter a resiliência. Assim, além de conhecimentos sólidos das várias disciplinas, o aprendente exercitará e mostrará competência para estabelecer relações, conexões entre os diferentes tipos de conhecimentos, tendo como tema central de um projeto de Língua Portuguesa, como no livro de Ramon e Juliana, de Adrião Neto.
É uma leitura transdisciplinar, porque possibilita recriar, levando o aprendente à construção de novos conhecimentos e conscientizando-se da existência da singularidade de uma aldeia –Luís Correia, alargando os horizontes além-mar.

Francisca Neponuceno – Professora. Especialista em Linguística e em Ensino. Docente em Ensino Superior.