José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Berlim, 2011. Imagens nítidas de uma cena, se não constrangedora, todavia questionável: Papa Bento 16 retira-se do Palácio do Governo, aplaudido pela multidão, para cumprimentos de selecionado grupo de autoridades postas em círculo, de pé. O pontífice dirige-se a cada chefe, total 15, estende-lhes a mão. Em resposta, recebe carinhoso e demorado aperto e sorriso. Em seguida, vai ao encontro de 19 cardeais, também em círculo. O Papa repete o mesmo gesto: estira-lhes a mão. Curiosamente, só 6 cardeais devolvem-lhe a cordialidade. 11 derretem-se de gentilezas para com as demais autoridades, menos para o chefe da Igreja, de mão estendida, cujo troco a frieza. Só agora, tsunami balançando a arca de Pedro, mas não à deriva, pipocam interpretações diversas sobre a cena de Berlim envolvendo o famoso conterrâneo.
Fábio Simões confessou com surpresa: "Ficou bem esquisito! Uns poucos o cumprimentam e a maioria não! É protesto? É não aceitação? É quebra de protocolo da boa educação? O que ficou "no ar" foi o Papa de mão estendida "no vácuo"! Esquisito mesmo!" Luís Roberto Turatti acrescentou: "Católico que é católico respeita e admira o Papa. Quem achar que ele está errado, ou cometeu isso ou aquilo e está descontente, é simples: MUDE DE RELIGIÃO! Criticar por criticar não soma nada, absolutamente, aliás, só se perde tempo. Nós, católicos praticantes e atuantes, queremos qualidade e não quantidade, assim nos ensinou muito acertadamente Bento XVI. Concordo com a postagem." Pedro Araújo também viu a cena e emendou: "Tem gente que mesmo vendo, não acredita. Quem quer que seja a autoridade máxima da Igreja, não cumprimentá-la, por motivo de uma formalidade , é inconcebível... Ele estava de mão estendida! Até por uma questão de respeito ou Amor cristão! Imagine: AMAI OS VOSSOS INIMIGOS! FAZEI O BEM AOS QUE VOS ODEIAM."
A atitude de o Papa estender a mão, quebrando o protocolo, induz uma regra de urbanidade e fraternidade devolver-lhe a mesma cordialidade. Ora, protocolo à parte, o que vale é a reciprocidade. O que não houve de 11 cardeais.
A falta de cordialidade, até para com adversários, é pecado mortal, fere o mais sagrado princípio cristão, a caridade. Comete-se, especialmente, onde fervilham interesses e disputas de poder: congressos, câmaras, paróquias, e, por que não, na Cúria romana. Não é fácil repetir o primeiro mandamento da cena do Lava-Pés do Mestre. Imagine um modesto aperto de mão, arrogantemente rejeitado ao maior representante da Igreja. Deus está vendo o que se passa nessas cabeças coroadas, por trás da fumaça branca ou preta emergindo da sala do Conclave, todos em círculo como na cena de Berlim.
Sou um apreciador das crônicas do prof. José Maria Vasconcelos. Diante da atitude dos cardeais, mesmo tendo ocorrido no ano passado, fica uma pergunta que a maioria dos católicos faz no momento atual: o Papa Bento XVI renunciou ou renunciaram o Papa?
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