14 de março Diário Incontínuo
PERDIDOS & ACHADOS – TEMPOS RECIFENSES I
Elmar Carvalho
No começo deste ano, minha irmã Joserita, que foi
morar no Estado do Rio de Janeiro faz mais de sete anos, veio
finalmente visitar seus pais e seus irmãos. Veio em companhia de
duas das três filhas: Clara, uma das gêmeas, e Joélia, a caçula.
Ficaram no Rio seu marido Antônio Carlos e Carla, a outra gêmea.
Aproveitou para passear em Teresina, Pedro II, em viagem narrada
neste Diário Incontínuo, e Parnaíba, onde morou por muitos anos. Em
plagas parnaibanas casara e tivera as filhas.
Fora outros afazeres, remexeu em velhos guardados de
meus pais, folheou antigos álbuns de fotografias, e descobriu alguns
objetos afetivos, que dávamos por perdidos há muitos anos. Entre
essas velhas coisas, de grande valor sentimental, encontrou dois
retratos de meus pais, do tempo em que minha mãe devia ter em torno
de trinta anos de idade, e meu pai, menos de quarenta. Eles eram
nessa época um belo casal, e as fotografias expressam a felicidade e
o amor que lhes ia na alma. Eram protegidas por belas molduras, um
tanto ovais como as telas; tinham um vidro convexo, que lhes realçava
a originalidade e lhes dava certo ar de relíquia e de redoma. Foram
postas em novas molduras, e um paspatur lhes acentua o formato
ovalado.
Foram tiradas por um retratista, que parecia ter alma de
pintor, e que usara a melhor técnica, equipamentos e materiais da
época. Os retratos pareciam pintura, e tinham, suponho, retoques de
artesanais pinceladas, que lhes emprestavam certo colorido, num tempo
em que não se falava em fotografia em cores, embora o velho Cine
Nazareth já exibisse faroestes e outros gêneros cinematográficos
em tecnicolor, como o senhor Zacarias Lins, proprietário da casa de
exibição, enfatizava, quando ele próprio, em sua Rural Willys
caiçarina (vermelha e branca), saía pelas ruas de Campo Maior a
anunciar as películas.
Na sua saudável mexericagem, a Joserita ainda encontrou
cinco velhos cartões postais e um poema manuscrito, de minha
autoria, datado de 22 de abril de 1975, quando eu mal completara 19
anos de vida. Com relação ao poema, titulado Recife, eu já o dava
por irremediavelmente perdido, e dele recordava apenas cinco versos,
que publiquei no livro Rosa dos Ventos Gerais. Nesse livro, na mesma
página, coloquei uma versão ampliada e com leves modificações, e
uma outra, de cinco versos, que a minha memória registrara
fielmente, como agora constatei. Quanto aos cartões, deles já
praticamente não me lembrava.
Num dos cartões postais, datado de 31/05/1975, eu
comunicava que tudo estava certo comigo, e que, na 1ª etapa do curso
de Monitor Postal, feito no Centro de Treinamento Correio Paulo
Bregaro, em Recife, no Bairro Bonji, minha média geral fora 9.
Anunciava meu retorno para o dia 8 de junho, com o curso já
encerrado. Acrescentava que “hoje fui eleito, no auditório, como o
orador da Turma”.
Em outro postal, retratando a Avenida Guararapes e a
Ponte Duarte Coelho, em que se viam propagandas em neon, no alto dos
prédios, e as luzes se refletindo nas águas do Capibaribe, com
data de 15/05/75, dirigido a minha mãe, eu dizia que fora a visão
noturna do Recife que me inspirara o poema que lhe leva o nome. No
manuscrito, no verso do cartão, eu confidenciava que “quando eu
disse que ia postar um cartão postal (...), uma moça, que não
conheço, disse para eu dar” lembranças a minha mãe.
As
duas versões do poema RECIFE, conforme publicadas no livro
Rosa dos Ventos Gerais
(Fragmento
de um poema perdido,
escrito no
Recife, início de 1975.)
teus
lampadários
multicores
ilusórios
e utópicos
como
os primeiros amores
cheios
de mágoas
parecem
peixes fosfóreos
em
tuas águas:
caleidoscópicos
aquários.
(versão
modificada)
tuas
luzes multicores
ilusórias
como os primeiros amores
cheios
de mágoas
parecem
peixes fosfóreos
em
tuas águas.
(versão
original)
Quanta saudade eu estava de todos vcs. Foi bom demais revê-los e poder beijá-los e abraçá-los. Mexi e remexi nos guardados dos nossos pais e além de encontrar tuas coisas, fiquei feliz por isso, os retratos dos nossos pais, encontrei também "um baú" de lembranças boas de nossa família.
ResponderExcluirElmar tu é shooooow!!ameiiii!
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