Marcos Damasceno (*)
A
juventude – na sua grande maioria – está sem rumo, sem valores,
sem objetivos maiores, sem futuro. Mas a droga não é a grande vilã.
A raiz do problema está na formação humana do indivíduo. A droga
ganha importância na vida de pessoas rejeitadas, sem orientação
humana; pessoas não amadas, excluídas, com fugas e depressão;
pessoas com crises existenciais e com vazios espirituais. A crise de
valores é que leva a essa crise social. O problema não é fácil!
No entanto, não é invencível. As condições que geram a
consciência de que existe o problema e a noção de que ele é
preocupante, são as mesmas que dão o norte das soluções.
A
responsabilidade dos pais. Não existe um pai ou uma mãe, em sã
consciência, que não se preocupe com seus filhos em relação ao
consumo de drogas; especialmente na fase da adolescência. Os
pais devem, sempre que necessário, discordar das atitudes dos filhos
e procurar corrigir seus atos e comportamentos. Pôr limite. Eles são
– e sempre foram – os pedagogos de primeira ordem dos seus
filhos... Falta ordem neste país! E a ordem social só ocorrerá
depois da ordem familiar.
A
família é a verdadeira rédea da sociedade, e não o governo. Quem
tem, portanto, o poder de frear – notadamente - a violência é a
própria família brasileira. O Brasil não precisa de opinião.
Chega de opinião! Precisamos, já, de ação. Ação conjunta; pais,
sociedade e governo de mãos dadas. E o que é verbalizado precisa,
urgentemente, de sentido prático.
A
responsabilidade da sociedade. Três características da sociedade
são terríveis: a omissão, o egoísmo e o consumismo. Muitas vezes
temos o medo, ou até a indiferença, de não abraçarmos ao próximo
que está com problema. Achamos, equivocamente, e desumanamente, que
o abraçando iremos abraçar também o seu problema. Você me
diria: “Não queremos ônus, somente bônus”. Aí está a
visão equivocada. Sempre jogamos o ônus para os outros, ou para o
governo. Não é preciso querer ser herói; querer consertar o
mundo ou salvar a pátria. Longe disso! Queira, e isso já é muito,
fazer sua parte. Plante sua semente; dê sua contribuição. Edward
Everett Hale, clérigo e escritor norte-americano, assinala: “...
Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E por não poder
fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso”. Ficar
omisso é o mesmo que ficar do lado do crime ou do criminoso,
vendedor de drogas.
Vivemos,
no mundo de hoje, desconfiados. A desconfiança, o medo e a
insegurança nos acompanham. Eu, por exemplo, adotei uma medida
severa: não saio de casa depois da meia noite; só se for por uma
emergência. Impus, a mim mesmo, esse toque de recolher. Vi nas
estatísticas que é a partir desse horário que mais incide a
cultura da morte: bêbados dirigindo automóveis e pilotando motos,
drogados perturbando as cidades, bandidos assaltando a tudo e a
todos, etc.
A
responsabilidade do governo. Temos que parar com esse costume de
dizer que tudo é culpa do governo; parar de questionar somente
políticas públicas. Isso é apequenar o debate e se omitir da sua
parcela de culpa e de responsabilidade. Como cidadãos, ativos
socialmente, somos parte do governo; integrantes do Poder Público. O
poder do governo é o nosso poder. Graves são estas três situações
sociais, quando elas existem: a posse ou a riqueza sem partilha, o
poder com omissão e a vida sem solidariedade.
O
Poder Público não é lugar, somente, para reclamações ou
demandas. Numa relação pedagógica (a expressão certa é esta!)
podemos contribuir, e muito, com o governo. Servir à coletividade.
Temos que pregar e praticar. A ética do amor e proteção da vida
está falida. O exercício da vida é de responsabilidade de cada um
de nós.
O
governo procura fazer sua parte, embora a legislação precisa de
mudança; mas isso é papel do Congresso Nacional. O Poder Público
não consegue, e não conseguirá jamais, ser eficiente numa ação
pública sem a ajuda da sociedade. Se o governo não contar com o
apoio da sociedade, suas ações serão sempre como “enxugar gelo”.
As pessoas precisam, portanto, se relacionar ativamente melhor com o
Poder Público e buscar ajudá-lo. Se observarmos as especificidades
do problema, a sociedade está equivocada quando julga ser o governo
o único responsável pela solução do problema. Nós temos parcela
de culpa na existência do problema, assim como temos parcela de
responsabilidade na solução do mesmo.
Jesus
Cristo, inspirador e exemplar, fonte de toda glória e de vida, nos
legou lições. Tudo que é suficiente para atender às necessidades
humanas essenciais está garantido no mundo. Mas muitos seres
humanos, egoístas e possuídos pela cobiça desenfreada, não se
contentam com o essencial. Aí surge a turbulência – raiz da
violência... O mundo não tem condições de atender a todas as
cobiças humanas... Terá sempre alguém querendo tomar – à força
– algo que é do próximo.
Nessa
fase da adolescência, muitos jovens são tomados pelo espírito da
rebeldia e procuram a todo tempo - e a todo custo - causar
desobediência aos pais e desobediência civil. Não querem respeitar
nenhuma regra. Nessa aventura, sem orientação, é que muitos se
perdem; entram num caminho sem volta. Isso começa desde cedo. A
permissividade, a desestruturação familiar, as facilidades
mundanas, as más companhias e a banalização do sagrado fazem com
que tais jovens percam seu norte. Há momentos que os jovens têm
todas as dúvidas, em outros todas as certezas. O fato, é que eles
precisam de valores e de limites. A cultura da morte surge como
consequência desses dois pilares educacionais e socializantes.
Vivemos
dois extremos: a ditadura e o excesso de democracia. Proibições nem
sempre são censuras; tratam-se, às vezes, de um controle de
qualidade ou de uma moralização. "Quem não for na
direção da paz, caminha mais do que precisa andar" -
Juraíldes da Cruz. Etiquetas... Assim assinala Frei Osmar
Negreiros:
-
Ninguém tem a receita pronta para formar um cidadão de bem, mas
existem algumas atitudes e comportamentos que apontam para uma
formação incorreta: deixar os filhos saírem sem dizer para onde, e
com quem estão acompanhados; não estabelecer horário para voltar,
não exigir cumprimento estrito do horário estabelecido; achar graça
sobre atitudes deselegantes ou desrespeitosas nas relações
interpessoais, dentre outras. Criar filho sem essas regras vai
torná-lo um ser humano sem caráter e sem cidadania.
Eu
acredito em terapia ocupacional; eu acredito em missões; eu acredito
em perspectivas de vida. Vejo o esporte, a música, ações
comunitárias, atividades nas igrejas, a cultura e o lazer – dentre
outras medidas – como grandes agentes de estruturação sólida do
ser humano e de transformação social. Além do entretenimento
elas preenchem um vazio de fé e de esperança nesses seres
educandos. São instrumentos de cidadania, além de ferramentas tanto
defensivas quanto ofensivas nas lutas espirituais que sofremos, entre
o caminho do mal e o caminho do bem. Elas salvam, sempre, as pessoas
do caminho do mal; e são portas para o caminho do bem.
Na
vida surgem algumas demandas. A principal: jamais tire Deus de sua
vida. A segurança interior vem Dele. Nosso juízo - crítico - pode
gerar problemas inexistentes ou piorar os existentes. Equilíbrio
emocional é indispensável. Necessitamos de Deus. Sua palavra afasta
a angústia existencial e o vazio de espírito. Só a relação com
Ele resolve.
Nada
é impossível àquele que tem fé. Saber é ser, querer é poder,
compreender é viver. Quando o ser humano quer ele é capaz de se
transformar, e transformar o mundo.
* Escritor e Doutor
em Filosofia Política
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