quarta-feira, 22 de maio de 2013

JUVENTUDE E DROGAS: A CULPA NOSSA DE TODOS OS DIAS



Marcos Damasceno (*)

A juventude – na sua grande maioria – está sem rumo, sem valores, sem objetivos maiores, sem futuro. Mas a droga não é a grande vilã. A raiz do problema está na formação humana do indivíduo. A droga ganha importância na vida de pessoas rejeitadas, sem orientação humana; pessoas não amadas, excluídas, com fugas e depressão; pessoas com crises existenciais e com vazios espirituais. A crise de valores é que leva a essa crise social. O problema não é fácil! No entanto, não é invencível. As condições que geram a consciência de que existe o problema e a noção de que ele é preocupante, são as mesmas que dão o norte das soluções.

A responsabilidade dos pais. Não existe um pai ou uma mãe, em sã consciência, que não se preocupe com seus filhos em relação ao consumo de drogas; especialmente na fase da adolescência. Os pais devem, sempre que necessário, discordar das atitudes dos filhos e procurar corrigir seus atos e comportamentos. Pôr limite. Eles são – e sempre foram – os pedagogos de primeira ordem dos seus filhos... Falta ordem neste país! E a ordem social só ocorrerá depois da ordem familiar.

A família é a verdadeira rédea da sociedade, e não o governo. Quem tem, portanto, o poder de frear – notadamente - a violência é a própria família brasileira. O Brasil não precisa de opinião. Chega de opinião! Precisamos, já, de ação. Ação conjunta; pais, sociedade e governo de mãos dadas. E o que é verbalizado precisa, urgentemente, de sentido prático.

A responsabilidade da sociedade. Três características da sociedade são terríveis: a omissão, o egoísmo e o consumismo. Muitas vezes temos o medo, ou até a indiferença, de não abraçarmos ao próximo que está com problema. Achamos, equivocamente, e desumanamente, que o abraçando iremos abraçar também o seu problema. Você me diria: “Não queremos ônus, somente bônus”. Aí está a visão equivocada. Sempre jogamos o ônus para os outros, ou para o governo. Não é preciso querer ser herói; querer consertar o mundo ou salvar a pátria. Longe disso! Queira, e isso já é muito, fazer sua parte. Plante sua semente; dê sua contribuição. Edward Everett Hale, clérigo e escritor norte-americano, assinala: “... Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso”. Ficar omisso é o mesmo que ficar do lado do crime ou do criminoso, vendedor de drogas.

Vivemos, no mundo de hoje, desconfiados. A desconfiança, o medo e a insegurança nos acompanham. Eu, por exemplo, adotei uma medida severa: não saio de casa depois da meia noite; só se for por uma emergência. Impus, a mim mesmo, esse toque de recolher. Vi nas estatísticas que é a partir desse horário que mais incide a cultura da morte: bêbados dirigindo automóveis e pilotando motos, drogados perturbando as cidades, bandidos assaltando a tudo e a todos, etc.

A responsabilidade do governo. Temos que parar com esse costume de dizer que tudo é culpa do governo; parar de questionar somente políticas públicas. Isso é apequenar o debate e se omitir da sua parcela de culpa e de responsabilidade. Como cidadãos, ativos socialmente, somos parte do governo; integrantes do Poder Público. O poder do governo é o nosso poder. Graves são estas três situações sociais, quando elas existem: a posse ou a riqueza sem partilha, o poder com omissão e a vida sem solidariedade.

O Poder Público não é lugar, somente, para reclamações ou demandas. Numa relação pedagógica (a expressão certa é esta!) podemos contribuir, e muito, com o governo. Servir à coletividade. Temos que pregar e praticar. A ética do amor e proteção da vida está falida. O exercício da vida é de responsabilidade de cada um de nós.

O governo procura fazer sua parte, embora a legislação precisa de mudança; mas isso é papel do Congresso Nacional. O Poder Público não consegue, e não conseguirá jamais, ser eficiente numa ação pública sem a ajuda da sociedade. Se o governo não contar com o apoio da sociedade, suas ações serão sempre como “enxugar gelo”. As pessoas precisam, portanto, se relacionar ativamente melhor com o Poder Público e buscar ajudá-lo. Se observarmos as especificidades do problema, a sociedade está equivocada quando julga ser o governo o único responsável pela solução do problema. Nós temos parcela de culpa na existência do problema, assim como temos parcela de responsabilidade na solução do mesmo.

Jesus Cristo, inspirador e exemplar, fonte de toda glória e de vida, nos legou lições. Tudo que é suficiente para atender às necessidades humanas essenciais está garantido no mundo. Mas muitos seres humanos, egoístas e possuídos pela cobiça desenfreada, não se contentam com o essencial. Aí surge a turbulência – raiz da violência... O mundo não tem condições de atender a todas as cobiças humanas... Terá sempre alguém querendo tomar – à força – algo que é do próximo.

Nessa fase da adolescência, muitos jovens são tomados pelo espírito da rebeldia e procuram a todo tempo - e a todo custo - causar desobediência aos pais e desobediência civil. Não querem respeitar nenhuma regra. Nessa aventura, sem orientação, é que muitos se perdem; entram num caminho sem volta. Isso começa desde cedo. A permissividade, a desestruturação familiar, as facilidades mundanas, as más companhias e a banalização do sagrado fazem com que tais jovens percam seu norte. Há momentos que os jovens têm todas as dúvidas, em outros todas as certezas. O fato, é que eles precisam de valores e de limites. A cultura da morte surge como consequência desses dois pilares educacionais e socializantes.

Vivemos dois extremos: a ditadura e o excesso de democracia. Proibições nem sempre são censuras; tratam-se, às vezes, de um controle de qualidade ou de uma moralização. "Quem não for na direção da paz, caminha mais do que precisa andar" - Juraíldes da Cruz. Etiquetas... Assim assinala Frei Osmar Negreiros:

- Ninguém tem a receita pronta para formar um cidadão de bem, mas existem algumas atitudes e comportamentos que apontam para uma formação incorreta: deixar os filhos saírem sem dizer para onde, e com quem estão acompanhados; não estabelecer horário para voltar, não exigir cumprimento estrito do horário estabelecido; achar graça sobre atitudes deselegantes ou desrespeitosas nas relações interpessoais, dentre outras. Criar filho sem essas regras vai torná-lo um ser humano sem caráter e sem cidadania.

Eu acredito em terapia ocupacional; eu acredito em missões; eu acredito em perspectivas de vida. Vejo o esporte, a música, ações comunitárias, atividades nas igrejas, a cultura e o lazer – dentre outras medidas – como grandes agentes de estruturação sólida do ser humano e de transformação social. Além do entretenimento elas preenchem um vazio de fé e de esperança nesses seres educandos. São instrumentos de cidadania, além de ferramentas tanto defensivas quanto ofensivas nas lutas espirituais que sofremos, entre o caminho do mal e o caminho do bem. Elas salvam, sempre, as pessoas do caminho do mal; e são portas para o caminho do bem.
Na vida surgem algumas demandas. A principal: jamais tire Deus de sua vida. A segurança interior vem Dele. Nosso juízo - crítico - pode gerar problemas inexistentes ou piorar os existentes. Equilíbrio emocional é indispensável. Necessitamos de Deus. Sua palavra afasta a angústia existencial e o vazio de espírito. Só a relação com Ele resolve.

Nada é impossível àquele que tem fé. Saber é ser, querer é poder, compreender é viver. Quando o ser humano quer ele é capaz de se transformar, e transformar o mundo.

* Escritor e Doutor em Filosofia Política

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