Reginaldo Miranda
Presidente da Academia Piauiense de Letras
Discurso
de recepção ao Acadêmico Homero Ferreira Castelo Branco Neto, na
Cadeira 31 da Academia Piauiense de Letras, proferido pelo acadêmico
Reginaldo Miranda, atual presidente da Academia Piauiense de Letras,
em 20 de junho de 2013, às vinte horas, no Auditório da OAB/PI.
I.
IMORTALIDADE ACADÊMICA
Segundo
Heródoto – considerado o pai da História, o numeroso exército
persa possuía uma tropa de infantaria pesada composta por dez mil
homens, que avançava à frente, nos combates. Essa formação era
permanente, de forma que durante as batalhas, cada membro morto ou
gravemente ferido era imediatamente recolhido pelos companheiros e
substituído por outro, entre os que estavam na retaguarda. Então,
essa tropa de elite sempre avançava em combate com o mesmo número
inicial. Dessa forma, se morresse um combatente era substituído por
outro combatente; se morressem dois combatentes eram esses
substituídos por outros dois combatentes, e assim, sucessivamente,
de forma que a infantaria persa nunca tinha mais, nem menos de dez
mil integrantes. Daí ganharam a fama de imortais, ou imorredouros,
na tradução literal do grego, porque o inimigo tinha a sensação
de que realmente o eram, vez que nunca diminuíam.
Assim,
também, são as academias de letras. Fundadas no modelo francês têm
a formação permanente de quarenta membros. E toda vez que falece
um, sua vaga é preenchida por outro. Dessa forma, nunca aumentam nem
diminuem. Pelas mesmas razões da infantaria persa, também seus
membros são cognominados de imortais. Imortais na permanente
composição da casa, na lembrança dos pósteros e na perenidade da
obra, é o que se deseja.
A
imortalidade foi sempre objeto de fascínio do homem, desde o começo
dos tempos, constituindo-se num dos mais profundos desejos humanos.
No fabrico do elixir da longa vida se bateram os mais antigos e
ousados alquimistas do passado. Na busca pela fonte da juventude os
homens foram capazes de lutas sangrentas e de proezas mirabolantes.
Tudo em vão, pois já trazemos ao nascer a certeza da morte: morte
física, biológica.
Dizia com
ironia o argentino Jorge Luís Borges: “Todos os caminhos
levam à morte. Perca-se”.
Para o
velho bardo Manuel Bandeira: “Duas vezes se morre: primeiro na
carne, depois no nome”.
Os mais
conscientes dessa condição humana, conformaram-se com a entrega do
corpo à terra e foram buscar a imortalidade da alma. Daí
nasceram as religiões, pregando a vida eterna depois dessa passagem
terrena.
A
imortalidade acadêmica tem sentido diverso. Quando se diz que os
acadêmicos são imortais, evidentemente, não se está dizendo que
são imorríveis ou imorredouros, o que seria até interessante. Mas
que possuem vitaliciedade e que serão lembrados para sempre, na
forma regimental, pelos futuros ocupantes de sua cadeira; que tiveram
o reconhecimento público de sua obra pelos contemporâneos e que
terão as suas efemérides lembradas pelos demais acadêmicos; enfim,
que foram pessoas úteis à sua comunidade e cujos nomes merecem ser
lembrado pelos pósteros.
II. AS
ACADEMIAS
Mas para
que servem as academias? Essa é uma indagação que, vez ou outra se
ouve. Existem aqueles que são acadêmicos até demais e, às vezes,
se tornam inconvenientes, se insinuando em vaga inexistente. Outros,
que de tão antiacadêmicos, vivem desfazendo das academias.
Na
verdade, o fato de ser acadêmico não faz ninguém escrever melhor.
Todavia, entre o critério de escolha dos novos acadêmicos está o
de se eleger aqueles que bem escrevem. E em assim sendo, as academias
são em si um conjunto de intelectuais que prezam a arte do bem
escrever. Na verdade, se as academias não tivessem outra utilidade,
justificaria a sua existência a reunião de escritores e a troca de
informações. É um ambiente propício à discussão intelectual e
geração de ideias, à divulgação das letras e ao desenvolvimento
da literatura e da historiografia.
III. A APL
A nossa
academia, fundada há quase um século, tem primado pelo cultivo do
idioma pátrio e pelo desenvolvimento da literatura piauiense.
Fundada por uma geração brilhante, cujo pensamento intelectual
plasmado na Escola do Recife, foi alimentado pelo idealismo
positivista de Augusto Comte(1798 – 1857), pela pregação
agnóstica e pelo cientificismo positivista de Haeckel(1834 – 1919)
e Spencer(1820 – 1903). Foram líderes dessa geração, entre
outros, Anísio de Abreu, grande tribuno parlamentar, Abdias Neves,
Clodoaldo Freitas e Higino Cunha: o primeiro faleceu antes da
fundação da Academia, sendo eleito patrono de uma Cadeira, e o
segundo não está entre os dez fundadores porque se encontrava no
Rio de Janeiro, no exercício do mandato de senador da República,
mas aderiu à mesma imediatamente, tomando posse na Cadeira 11.
Durante
todos esses anos a academia nunca se afastou dos ideais de seus
fundadores, pugnando diuturnamente pelo desenvolvimento da literatura
e da historiografia piauiense. Nenhum grande projeto intelectual,
projeto de qualidade, foi desenvolvido no Piauí, sem a participação
efetiva da Academia Piauiense de Letras. Se voltarmos as vistas para
o passado e verificarmos a fundação da velha Faculdade de Direito
do Piauí, da Faculdade de Filosofia, de Odontologia, de Medicina e,
mesmo da Universidade Federal do Piauí, vamos ver a participação
efetiva de muitos acadêmicos.
Na
produção literária piauiense, mercê da carência de recursos
financeiros, a Academia foi sempre estrela de primeira grandeza, para
isso contando com importantes parceiros, que os concitou a grandes
empreendimentos. Com o Governo do Estado editou importantes obras; o
mesmo ocorreu, em épocas diversas, com o Município de Teresina, com
o Senado Federal, com a Universidade Federal do Piauí, com o Banco
do Brasil e com o Banco do Nordeste, para lembrar apenas as parcerias
mais expressivas.
É
importante ressaltar o memorável Plano Editorial do Piauí, que
notabilizou o primeiro governo de Alberto Silva, no início da década
de setenta, promovendo o resgate de importantes obras e divulgando
outras novas. Foram 37 publicações, numa época em que era difícil
publicar um livro. Pois, à frente desse grande empreendimento
literário brilharam os nomes de Arimatéa Tito Filho, estimado e
saudoso presidente da Casa de Lucídio Freitas; de Deoclécio Dantas
e Armando Madeira Basto, mais tarde e em homenagem à sua
determinação nesse empreendimento, também fizeram-se membros, ao
lado do próprio governador Alberto Silva, de nossa agremiação
literária.
Outro
grande momento literário, um como sucedâneo do outro,
representando, ambos, em seu conjunto, uma verdadeira revolução
intelectual no Piauí, foi o Projeto Petrônio Portella, no início
da década de oitenta, no governo Hugo Napoleão. Mais uma vez
brilhou a estrela de Arimatéa Tito Filho, ao lado do secretário de
cultura Jesualdo Cavalcanti, que o concebeu, do médico Clidenor
Freitas Santos, do professor Benjamim do Rego Monteiro Neto e do
governador Hugo Napoleão, todos integrantes da Casa de Lucídio
Freitas. Portanto, esses nomes devem ser guardados pelo povo do
Piauí.
A Academia
mantém, desde sua fundação, a sua revista literária, já na 70ª
edição. Desde que assumimos a direção do Sodalício demos
especial atenção à atualização dessa revista, já tendo
publicado sete edições e encontrando-se com mais duas em fase de
preparo, para fechar esse ciclo com a edição relativa ao corrente
ano, de forma que publicaremos dez edições, atualizando, assim,
essa importante revista literária piauiense.
Recentemente,
em parceria com o Governo do Estado, a Academia deu à estampa a
Coleção “Grandes Textos”, divulgando nove importantes obras de
cunho histórico e literário. Publicou algumas obras avulsas e deu
início a uma importante coleção literária. Trata-se da Coleção
“Centenário”, visando comemorar o primeiro século de fundação
da Academia. Foram publicados os três primeiros números, dois em
convênio com o Senado Federal e um com a Universidade Federal do
Piauí. Dando prosseguimento a essa iniciativa, mais seis obras
literárias se encontram no prelo, duas em preparo e doze foram,
recentemente, aprovadas pelo Conselho do Sistema de Incentivo
Estadual à Cultura(SIEC). É nossa intenção que esse seja o maior
empreendimento literário do Estado do Piauí, superando os dois
anteriores, com a edição de mais de sessenta obras que forem
julgadas importantes para a compreensão da realidade piauiense. Será
o ponto culminante dos festejos com que a intelectualidade piauiense
comemorará o centenário de fundação da Academia. Para isso
desejamos contar com o apoio das instituições públicas e da
iniciativa privada.
IV. OS
CASTELO BRANCO
Na
Academia, para o bom êxito deste trabalho teremos de contar com o
apoio e a colaboração de todos os acadêmicos. Nesse aspecto, a
eleição de Homero Ferreira Castelo Branco Neto é um alento, pois
se trata de um escritor admirável e um intelectual engajado e muito
determinado em seus afazeres. Homero costuma dar tudo de si em cada
coisa que faz, por mais que pareçam pequenas. Nesse aspecto segue à
risca a lição do bardo Fernando Pessoa:
“Para
ser grande, sê inteiro: nada
Teu
exagera ou exclui.
Sê todo
em cada coisa.
Põe
quanto és
No mínimo
que fazes.
Assim em
cada lago a lua toda
Brilha,
porque alta vive”.
Aliás, eu
não diria que Homero chega tarde, mas chega na hora certa. “Tudo
neste mundo tem seu tempo; cada coisa tem sua ocasião”. Está
no Eclesiastes(31-8). Para Homero ainda é tempo de plantar, de
construir, de se alegrar, de abraçar e de amar. A sua eleição foi
consagradora, por unanimidade, dizendo, assim, a Casa, da satisfação
em recebê-lo.
Meu caro
Homero, esta Casa é vossa, seus familiares ajudaram a construí-la.
A família Castelo Branco tem profunda ligação com a assim
cognominada “Casa de Lucídio Freitas”, ele próprio aparentado
aos Castelo Branco. A sua família deu uma enorme contribuição à
literatura piauiense.
Foram
patronos de cadeiras na Academia Piauiense de Letras: Hermínio de
Carvalho Castelo Branco(2), Joaquim Sampaio Castelo Branco(3),
Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco(6), Antônio Borges Leal
Castelo Branco(15), Miguel de Souza Borges Leal Castelo Branco(22),
Simplício Coelho de Resende(26) e Heitor Castelo Branco(37). A
grande ausência foi Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo
Branco, autor deO ímpio confundido(1837) e A criação
universal(1836).
Tiveram ou
têm assento nas diversas cadeiras da Academia: Fenelon Ferreira
Castelo Branco, um dos fundadores(3), Cristino Castelo Branco(15),
Carlos Castelo Branco(15), Renato Pires Castelo Branco(19), Emília
Castelo Branco de Carvalho(37), Emília Leite Castelo Branco(37), e
na atualidade, Maria Nerina Pessoa Castelo Branco(35) e Heitor
Castelo Branco Filho(37), para mencionar apenas aqueles que trazem
consigo o nome da família.
A Academia
ainda abrigou ou abriga outros descendentes de Dom Francisco da Cunha
Castelo Branco, tais como: João Pinheiro(2), Breno Pinheiro(8),
Celso Pinheiro(10), Celso Pinheiro Filho(8), Benedito Martins
Napoleão do Rego(11), Aluízio Napoleão de Freitas Rego(11),
Benjamin do Rego Monteiro Neto(15), Jacob Manoel Gayoso e
Almendra(20), Gerardo Majela Fortes Vasconcelos(22), José de
Arimatéa Tito(29), José de Arimatéa Tito Filho(22), Hugo Napoleão
do Rêgo Neto (9), Alcenor Rodrigues Candeira Filho (19), Magno Pires
Alves Filho(26) e Afonso Ligório Pires de Carvalho(29), para citar
apenas os descendentes em linha direta.
Portanto,
meu caro Homero, a sua família é quase dona da Casa de Lucídio
Freitas. E isto ocorreu porque sempre prezaram o estudo e cultivaram
as boas letras.
V. O NOVO
ACADÊMICO
V.a.
NASCIMENTO
O novel
acadêmico Homero Ferreira Castelo Branco Neto, entrou pela vida na
cidade de Amarante, barrancas do Parnaíba, terra de grandes
paladinos, entre os quais Da Costa e Silva e Odilon Nunes, ilustrados
membros de nossa Casa. Foram seus pais, dona Hosana Pontes Castelo
Branco e Herbert de Marathaoan Castelo Branco, que ali exercia o
cargo de promotor de Justiça, depois sendo juiz de Direito e
desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará. Sobre essa época,
mais tarde se reportaria o velho pai:
“Foi
justamente em Amarante, este recanto admirável do Piauí, encravado
na confluência dos rios Parnaíba e Canindé, que veio ao mundo, no
ano de 1943, meu filho Homero” (Mensagem ao povo de Amarante,
1978).
V.b.
FORMAÇÃO
Cedo,
porém, Homero deixa a bucólica cidade de Amarante, do “velho
monge”, atravessa a Serra da Ibiapaba, das missões jesuíticas, e
depois de breve período no interior cearense, vai ter-se na “capital
alencarina”, defronte aos verdes mares bravios. Ali cursa, com
êxito, as diversas séries dos ensinos Ginasial e Médio, para
ingressar no Curso de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas
e Contábeis da Universidade Federal do Ceará, onde se forma no ano
de 1967. Desejando aprimorar os conhecimentos, fez especializações
em Monterrey, no México e em Atlanta, nos Estados Unidos da América.
V.c. VIDA
PROFISSIONAL
Então, a
convite do Prof. Raimundo Nonato Monteiro de Santana, ilustre membro
de nossa Casa, regressa ao Piauí, fixando-se na cidade de Teresina,
onde se emprega na extinta CODESE(Coordenação de Desenvolvimento
Econômico do Piauí), instituição que antecedeu a Fundação
Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí (CEPRO) e como
professor no Liceu Industrial e na Escola Técnica “Leão XIII”.
Ainda no campo profissional, exerceu os cargos de diretor do
Departamento de Assistência aos Municípios, secretário de
Planejamento do Município de Teresina, onde também, por breve
período, exerceu o cargo de Prefeito Municipal; em nível estadual,
exerceu ainda os de subsecretário de Planejamento, secretário de
Administração, de Fazenda e do Trabalho e Ação social.
V.d.
FAMÍLIA
Homero
Ferreira Castelo Branco Neto é casado com dona Hilma Martins Castelo
Branco, de tradicional família sul-piauiense, com quem tem três
filhos: Geraldo (administrador), Verônica(contadora) e Hosana
Karinne(médica); o casal tem, também, três netos: Stelios, Stella
Hilma e Nícolas.
V.e. O
POLITICO
Com
vocação política, Homero Castelo Branco ingressou no movimento
estudantil ao tempo dos estudos no Ceará, sendo eleito e assumindo
os cargos de presidente do Diretório Acadêmico “Nogueira de
Paula”, da Faculdade de Ciências Econômicas, e presidente do
Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do
Ceará(DCE/UFCE).
Portanto,
com essa imensa vontade de servir, não tardaria a ingressar na
política partidária. Disputou seu primeiro mandato de deputado
estadual no pleito travado em 1974, integrando a Assembleia
Legislativa do Piauí, onde permanece, com breves interregnos, até
fevereiro de 2007. Político ativo e irrequieto, durante esses
sucessivos mandatos parlamentares, ocupou os cargos de
vice-presidente e secretário da mesa diretora, presidente de
comissão técnica e relator de várias matérias de interesse do
Estado, além de cofundador de partido político e líder de
bancada(PFL).
Homero
Castelo Branco colocou sempre seus mandatos a serviço do povo,
pugnando pelas grandes causas. Por essa razão, teve o reconhecimento
popular, consubstanciado nas sucessivas reeleições, e das diversas
organizações e instituições estaduais, nacionais e até
internacionais. A cidadania honorária lhe foi outorgada pelo povo,
através de seus representantes, em 36 municípios piauienses e em
Monterrey, no México. Foi condecorado em Nova Leon, no México, e em
Amarante, cidade homônima e patrona de sua terra natal, em Portugal.
E o
reconhecimento público não pára por aí. Tem as seguintes
medalhas: do Mérito Legislativo, outorgada pela Assembleia
Legislativa do Piauí; do Mérito Municipalista, pela Associação
Piauiense de Municípios; de Honra ao Mérito “Heróis do
Jenipapo”, pela municipalidade de Campo Maior; do Mérito
“Conselheiro José Antônio Saraiva”, pela Prefeitura Municipal
de Teresina; do Mérito Legislativo, pela Câmara Municipal de
Teresina; além de várias outras condecorações outorgadas por
instituições culturais e lojas maçônicas, todas em forma de
reconhecimento ao seu trabalho em benefício das comunidades e das
instituições que representou.
E toda
essa atividade política, meu caro Homero? “Valeu a pena?”.
“..................?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena” – responde Fernando Pessoa,
acrescentando:
“Quem
quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor”.
Ouçamos o
experiente Homero Castelo Branco, político tarimbado, que foi muito
além do Bojador:
“Cedo me
deixei dominar pela mais exigente e absorvedora das amantes que o
homem pode portar: a política. (...).
‘A
política tenho como dona de minha cabeça. Chegou como festa –
paixão e como paixão sempre recomeço. (...).
‘Hoje
ando devagar. Tive pressa. Chorei demais por tantas topadas. Mas a
política continua-me seduzindo, apesar de ter a certeza de que muito
pouco sei dessa divindade. Ela é muito sedutora e nunca a
esquecerei. Digo e ela não acredita. É minha amada e amante de
todos. Ela é bonita demais. Aprendi a amá-la. Agora pressinto que
vai abandonando-me. Meu Deus, logo agora! Ela é parte de minha vida,
de minha alma, de meus nervos e de meu sangue!” (CASTELO BRANCO,
Homero. Sentimentos embalsamados. Teresina: Gráfica do Povo,
2013. p.43/44).
Portanto,
valeu a pena.
V.f. O
INTELECTUAL
Mas o que
justifica a eleição consagradora de Homero Ferreira Castelo Branco
Neto, para a Academia Piauiense de Letras? Sem sombra de dúvidas, é
a sua intensa atividade intelectual. De fato, a sua atuação
parlamentar esteve também a serviço da cultura. Concomitante à
militância política andou publicando alguns trabalhos
interessantes, o que se intensificou depois dos mandatos
parlamentares. Podemos dizer assim, que o Piauí perdeu um
parlamentar atuante e ganhou um escritor produtivo. Em face dessa
intensa produção intelectual, pertence ao Instituto Histórico e
Geográfico do Piauí e a quatro academias regionais.
Homero
Castelo Branco é autor das seguintes obras: Histórias do velho
Homero, onde relembra a personalidade de seu avô paterno; Auta
Rosa, resgatando uma personagem mítica de Amarante, a sempre
lembrada terra natal, cujo laço nunca se quebrou; Padre Marcos,
estudo biográfico, o melhor que até aqui se produziu, sobre um dos
principias personagens do Piauí na primeira metade do século XIX, o
famoso Padre Marcos de Araújo Costa, da Boa Esperança, religioso
exemplar e um educador de grandes méritos; e, Alcides – o
primeiro filósofo e o último coronel de Barras,tomando por tema o
político barrense Alcides do Rego Lages; com saborosas crônicas e
uma pitada de humor, traça um painel da cidade de Barras, sua
história, suas contendas políticas, enfim, é Barras que surge,
além de trazer à baila o fazer político sertanejo.
A
divulgação de suas ideias, a análise da conjuntura política, as
teses defendidas nos palanques populares e na tribuna parlamentar,
ele as resumiu em: Temas de uma intensa vida parlamentar;
Planejamento familiar e aborto: uma discussão sem hipocrisia; 100
dias sem rumo; Agente do desenvolvimento; João Paulo
II; Do Planalto a Guaribas; Voz do ontem; Grandes
civilizações americanas; 2004 – do sonho ao
pesadelo; Acredito; Conversas soltas ao vento; Amor &
outros males; Anjo ou demônio; Prevenção da
cegueira; Ventos imprevisíveis; e, Quando a porca torce o
rabo, este último um conjunto de saborosas crônicas
De sua
vasta obra desejamos destacar: Sentimentos embalsamados e Ecos
de Amarante.
O primeiro
é também o mais recente livro do novo acadêmico: Sentimentos
embalsamados. Lançado em abril, em comemoração aos seus setenta
anos de vida, é um livro que veio para ficar, porque o autor
desnudou a sua alma, falando francamente sobre suas forças e suas
fraquezas. São livros como esse que ficam, porque acrescentam ao
leitor, conforme as mostras delineadas nessa fala. Alguns escrevem
memórias, mas poucas, porém, ficam porque a maioria dos escritores
esconde os sentimentos, o que não foi o caso de Homero. Sua
franqueza e estilo lembram asMemórias, de Humberto de Campos; Minha
formação, de Joaquim Nabuco; ou, Confiteor, de Paulo Setúbal.
Modesto, Homero Castelo Branco nega ter pretensões literárias,
chegando mesmo a afirmar não ser escritor, no que não
concordamos. Sentimentos embalsamados é mais do que o
desnudamento de uma alma, do que a história viva e empolgante de uma
pessoa, resgatando a própria história de uma geração, as
impressões de um povo, o drama da alma humana. Homero Castelo Branco
é um piauiense genuíno, que ama a sua terra com intensidade, daí
os seus sentimentos serem os sentimentos de todos os piauienses. É,
também, um observador perspicaz e abalizado protagonista da cena
política, razão pela qual suas observações servem de suporte para
os historiadores da época contemporânea. Enfim, com olhar
percuciente penetra fundo na alma humana, fazendo de suas conclusões
um suporte seguro a todas as pessoas inteligentes.
Ecos de
Amarante é um belo livro sobre sua cidade e os personagens que a
fizeram. É a história romanceada de Amarante, recheada de
personagens fictícios e reais, onde a principal protagonista é a
própria cidade. De suas páginas pululam políticos, coronéis,
fazendeiros, comerciantes, gente simples, pessoas do povo, numa trama
entremeada de ficção e realidade, onde vão aparecendo a paisagem
local, as ruas, os becos, as praças, os morros, os rios, as
fazendas, os sítios, o modo de falar, de ser, as estórias e as
histórias do lugar; o resgate dos costumes, das lendas, das
cantorias, das modinhas, da dança, das rezas, das “incelenças”,
das festas juninas, do folclore, enfim, de personagens esquecidos e
da vida política, econômica e social da cidade. O livro traz um
vasto painel da Amarante antiga. Aliás, Homero e Amarante sempre
protagonizaram uma história de amor. Nas inúmeras campanhas
políticas o povo daquela cidade viu nele um intérprete de seus
sentimentos e a transformaram em sua base eleitoral.
Juscelino
Kubitschek, ex-presidente da República, anotou em um livro de
memórias, Meu caminho para Brasília, que nos momentos mais
difíceis, quando muitas eram as provações, retornava à sua
Diamantina natal e ali, no reencontro com as suas origens, recobrava
as energias e retornava mais forte à arena de luta. Parece-me que
Homero Castelo Branco pode dizer a mesma coisa com relação à sua
Amarante. Pode até cantar com o conterrâneo ilustre, Da Costa e
Silva:
“A minha
terra é um céu, se há um céu sobre a Terra:
É um céu
sob outro céu, tão límpido e tão brando,
Que eterno
sonho azul parece estar sonhando
Sobre o
vale natal, que o seio à luz descerra.”
Ou pode
dizer com Fernando Pessoa:
“Da
minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por
isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque
eu sou do tamanho do que vejo
E não do
tamanho da minha altura... “.
Ele mesmo
mesmo diz:
“Viajei
por muitos países. Conheço uma dúzia de mar. (...).
‘Vi
gruta, nevoeiro, vi tanta coisa bela e doida neste mundo incerto, mas
nunca sai de meu coração, Amarante, meu berço, este pedaço de
terra no Piauí, feito de esperança, que guarda história, lenda e
cantiga. Cidade feita de azul que não desbota, cidade de todos os
amantes, de todos os poetas, que ouve queixa e não conta as suas.
Que ouve cantiga, viola, prece, desejo e voto. Cidade que festeja
iemanjá” (CASTELO BRANCO, Homero. Sentimentos embalsamados.
Teresina: Gráfica do Povo, 2013. P.36).
Assim é o
amor de Homero por sua Amarante.
Com essas
observações, não temos dúvida em afirmar que Homero Ferreira
Castelo Branco Neto é um bom escritor, de linguagem simples,
concisa, precisa, elegante.
É,
também, um conversador admirável, lhano de trato, um gentleman.
Por esses
relevos de personalidade, é uma boa aquisição que faz a Casa de
Lucídio Freitas. E com muita honra é que o recebo nesta solenidade.
Sede,
pois, bem vindo Senhor Homero Castelo Branco, à nossa casa. Ela
agora também é vossa.