José
Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com
Ana
Maria, 4 aninhos, Jardim 2, escola de referência nacional.
Telefonou-me: “Vovô, acabei de tomar suco do limão que você
trouxe do sítio e me disse que faz bem pra saúde... Vô, estou
gostando de Vinícius de Morais, que estudei na semana cultural da
minha escola... Quer ver como sei?” Sem derrapar, Aninha declamou
quatro poemas de Vinícius, ainda improvisou conhecida música de
ninar do poeta. Cantarolei com ela. Entusiasmada, gritou: “Papai, o
vovô também sabe cantar a música de Vinícius!”
Aquela
satisfação infantil foge aos padrões de gosto que, em geral,
seduzem crianças e adolescentes. Os pais de Ana Maria ensinaram-na a
consumir sucos de fruta naturais, em vez de produtos
industrializados, que contêm mais açúcar, sal e essências do que
saúde.
Muito
cedo, a criança deve ser estimulada à leitura de textos e músicas
próprias para a sua idade, em vez dos rebolados, refrãos e ritmos
estéreis, de duvidoso gosto. O entusiasmo da menina refletia o
resultado da metodologia educacional da família e da escola, baseada
em paradigmas que faz a gente diferente e culta.
Pode
parecer exagero estimular a criança à leitura e produção de
texto, prematuramente. Só depende da metodologia e do exemplo, que
começam na família: programas de televisão vigiados. Exercício da
leitura de textos e acompanhamento.
Na
fase inicial dos estudos à metade do ensino fundamental, dever-se-ia
destacar mais a leitura, interpretação e produção de texto do que
regras gramaticais. Modelar-se na metodologia dos cursos de língua
estrangeira, que estimula a leitura, redação e linguagem oral. Da
convivência com autores e articulistas nasce a imitação, a técnica
de construção da frase, enriquecimento vocabular. Estabelecida a
experiência, desenvolve-se a disciplina gramatical. Ressalte-se que
o hábito da leitura e interpretação de texto contribui para
aprendizado das demais disciplinas.
Tradicionalmente,
o ensino da leitura, interpretação e produção de texto, no
Brasil, não segue um programa definido como para sintaxe e demais
regras gramaticais. Não há estímulo à aproximação do estudante
a textos poéticos de qualidade da MPB. Não se cobram comentários e
fontes para redação extraídos da imprensa. Expressivo número de
professores de literatura só se interessa em destacar a biografia e
características do autor e não cobram a prática da leitura,
interpretação, redação e linguagem em público. Sem esses
critérios, os estudantes padecem de gravíssimo mal de raciocínio
curto, ao ponto de, em pleno ensino médio, não entenderem,
patavina, uma música de cantor do nível de Gilberto Gil. Imagine-se
um escritor clássico.
O
limão da educação costuma ser azedo e intolerável, mas vale a
pena convertê-lo em deliciosa limonada. Bem cedo, Ana Maria
descobriu a eficácia. Até cantou comigo, ao telefone, uma canção
de ninar, de Vinícius. Feliz da vida. Promete.
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