sexta-feira, 28 de março de 2014

Ler e Escrever, enquanto é cedo


José Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com

        Ana Maria, 4 aninhos, Jardim 2, escola de referência nacional. Telefonou-me: “Vovô, acabei de tomar suco do limão que você trouxe do sítio e me disse que faz bem pra saúde... Vô, estou gostando de Vinícius de Morais, que estudei na semana cultural da minha escola... Quer ver como sei?” Sem derrapar, Aninha declamou quatro poemas de Vinícius, ainda improvisou conhecida música de ninar do poeta. Cantarolei com ela. Entusiasmada, gritou: “Papai, o vovô também sabe cantar a música de Vinícius!”
          Aquela satisfação infantil foge aos padrões de gosto que, em geral, seduzem crianças e adolescentes. Os pais de Ana Maria ensinaram-na a consumir sucos de fruta naturais, em vez de produtos industrializados, que contêm mais açúcar, sal e essências do que saúde.
          Muito cedo, a criança deve ser estimulada à leitura de textos e músicas próprias para a sua idade, em vez dos rebolados, refrãos e ritmos estéreis, de duvidoso gosto. O entusiasmo da menina refletia o resultado da metodologia educacional da família e da escola, baseada em paradigmas que faz a gente diferente e culta.
          Pode parecer exagero estimular a criança à leitura e produção de texto, prematuramente. Só depende da metodologia e do exemplo, que começam na família: programas de televisão vigiados. Exercício da leitura de textos e acompanhamento.
          Na fase inicial dos estudos à metade do ensino fundamental, dever-se-ia destacar mais a leitura, interpretação e produção de texto do que regras gramaticais. Modelar-se na metodologia dos cursos de língua estrangeira, que estimula a leitura, redação e linguagem oral. Da convivência com autores e articulistas nasce a imitação, a técnica de construção da frase, enriquecimento vocabular. Estabelecida a experiência, desenvolve-se a disciplina gramatical. Ressalte-se que o hábito da leitura e interpretação de texto contribui para aprendizado das demais disciplinas.
          Tradicionalmente, o ensino da leitura, interpretação e produção de texto, no Brasil, não segue um programa definido como para sintaxe e demais regras gramaticais. Não há estímulo à aproximação do estudante a textos poéticos de qualidade da MPB. Não se cobram comentários e fontes para redação extraídos da imprensa. Expressivo número de professores de literatura só se interessa em destacar a biografia e características do autor e não cobram a prática da leitura, interpretação, redação e linguagem em público. Sem esses critérios, os estudantes padecem de gravíssimo mal de raciocínio curto, ao ponto de, em pleno ensino médio, não entenderem, patavina, uma música de cantor do nível de Gilberto Gil. Imagine-se um escritor clássico.
          O limão da educação costuma ser azedo e intolerável, mas vale a pena convertê-lo em deliciosa limonada. Bem cedo, Ana Maria descobriu a eficácia. Até cantou comigo, ao telefone, uma canção de ninar, de Vinícius.  Feliz da vida. Promete.      

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