segunda-feira, 14 de abril de 2014

Brasil desce a ladeira sambando


Brasil desce a ladeira sambando

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          O cenário nacional anda bambo de notícias negativas. Todavia parece que sonhamos brincando carnaval baiano, sem dia para acabar, sem penitência na quarta-feira de cinzas. Festas ano inteiro, frenesi de ritmos e rebolados, mistura de profano e sagrado. Entorpecida, a população, que não lê nem acompanha o noticiário, parece não se dar conta das dores de parto  da nação: índices alarmantes de criminalidade, a Saúde  agonizando nos corredores dos hospitais, a Educação pedindo socorro para não desabar a escola, ambas na última escala dos países atrasados. Galopantes desvios de verbas públicas das obras inacabadas ou para ajuda a ditaduras sanguinárias, mundo afora. A gigante Petrobrás, antes, nos píncaros das 12 melhores posições no mundo, descendo a ladeira para mais da centésima posição. E vai faltar gás à população se o Brasil perder a Copa.
          A população, inebriada do crédito fácil e da fartura de bolsas sociais, não percebe o bafômetro sinalizando pesadelos da ressaca que se aproxima. O Brasil oficial, logo mais, depois das eleições, expedirá a conta com os tormentos para conter o esvaziamento monetário. Instituições internacionais já acendem luz vermelha para investidores internacionais.
          Uma banda do Brasil delira, dança rebolecho e lepo-lepo. Pouco se lhe importa deputado denunciado, preso ou cassado por corrupção ou quebradeira na Petrobrás, se aqui dentro se incendeiam ônibus, se caminhão derruba passarela de pedestre.
          O Brasil oficial continua a dar shows de embasbacar gringos ou de entorpecer a classe proletária e inculta. Se ao menos as autoridades se tocassem de vergonha, mas não se tocam. Continuam engatinhando na falta de vergonha, embromando a opinião pública.
          Por míseros doze mil dólares, surrupiados das contas públicas, ministra inglesa confessou a culpa, ainda foi defenestrada. Aqui, um bilhão de reais é doce de mil recursos na Justiça.
          Minha diarista só executa serviços da casa, grudada ao radinho de pilha, ouvindo as imorais gaiatices e irreverências de popular radialista e sua trilha musical de suprassumo mau gosto. Tento dissuadi-la a escolher programas mais apurados e acompanhar o noticiário. Em vão: “Seu Zé, de que adianta ficar sabendo das ladroagens dos políticos, se eles não mudam e se meu dinheiro dá pra ir me rebolando...?”
          E saber que esse dinheirinho de boa noite, cinderela, mesclado a bolsa família, bolsa presidiário, bolsa bucho, deixa lelé a consciência crítica do eleitor! Minha diarista retrata não só o estado alienado de boa parte do eleitorado, como o descompromisso social de muitos estudantes grudados em devaneios de redes sociais.
          O cenário nacional exige árdua convocação da torcida brasileira pela nossa seleção na Copa, mas com olhos vigilantes nos candidatos às próximas eleições. Em ambos os casos, não se deve profanar a festa cívica do voto, nem esquecer a sagrada mensagem do Hino Nacional. Aí, sim, o Brasil tem jeito.     

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