José
Maria Vasconcelos
Cronistas,
josemaria001@hotmail.com
Neste
momento em que se comemora cinquentenário da ditadura militar,
opiniões se dividem em contundentes críticas ao regime militar, e
louvação exacerbada às esquerdas, hoje no poder. Antes de qualquer
julgamento, ouçamos belíssima música e letra de Secos e Molhados,
raro talento na voz e requebros de Ney Matogrosso, do compositor
principal do grupo, João Ricardo. Degustemo-la ao vinho de primeira.
Aliás, todas as composições da banda são de invejar a
mediocridade que rola por aí. Pena que o grupo logo se desfez, em
1973. Navegue na internet, digite “Patrão nosso de cada dia”.
Ouça. Repare cada verso de protesto ao regime militar, por
metáforas, para driblar a brutal censura: “Eu quero o amor/Da flor
de cacto/Ela não quis/Eu dei-lhe a flor/De minha vida/Vivo
agitado/Eu já não sei se sei/De tudo ou quase tudo/Eu só sei de
mim/De nós/De todo o mundo/Eu vivo preso/A sua senha/Sou enganado/Eu
solto o ar/No fim do dia/Perdi a vida/Eu já não sei se sei/De
nada ou quase nada/Eu só sei de mim/Só sei de mim/Só sei de
mim/Patrão nosso/De cada dia/Dia após dia.”
Cacto,
vegetação grosseira, espinhosa, típica dos solos hostis, metáfora
para definir a ditadura, que rejeita o amor e a ternura, “ela”, a
ditadura. “Já não sei se sei”, porque “vivo preso à sua
senha”, à sina e submissão. “Eu solto o ar”, protesto.
“Patrão nosso de cada dia...” trocadilho de “Pão nosso de
cada dia”, prece religiosa, que transmite submissão ao patrão, no
caso, o regime militar. O toque melancólico dos sinos lembra a
obrigação da entrada e saída dos trabalhadores nas empresas.
Vejam
o paradoxo: as mesmas paixões políticas que exaltam a ditatura
Vargas condenam a ditadura militar. Neste momento de discursos,
debates e avaliações sobre os “anos de chumbo” do regime
militar, quase todos de condenação, há certa desigualdade de
juízo, que só a História vai ponderar, sem paixões.
Não
existe ditadura de consenso. Sempre há interesses para condenar ou
exaltar. A quem interessaria a ditadura militar? Aos países
capitalistas. O que pretendiam os adversários do regime militar? A
implantação do comunismo ou socialismo, perverso, genocida,
ditatorial e escravagista: Rússia (bolchevismo), Alemanha (nazismo),
Cuba, Coreia do Norte, China (Mao Tsé Tung). A ditadura militar, no
Brasil, foi resultado de uma convocação da população, temerosa
dos rumos sombrios que se descortinavam para a nação.
A
insegurança tem dessas coisas. O povo clamou por forças poderosas
de ajuda à segurança do país. O Exército acudiu, mas o regime
militar se perpetuou por longo período sem atender o povo. Parece se
repetir a mesma apreensão em tempo de regime petista. A nação anda
exausta com os níveis de insegurança, tráfico de drogas,
corrupção, assassinatos, inimagináveis nos anos 60. Estabeleceu-se
o regime democrático, mas as residências e lojas viraram prisões
com câmeras ocultas. Bandidos se elegem ou patrocinam candidaturas
para criar leis e estatutos de proteção a criminosos. A ditadura
militar detonou inimigos da democracia, os subversivos. Hoje,
funciona a Comissão da Verdade sobre crimes da ditadura militar. Que
verdade? Cadê Comissão da Verdade para quem assaltou bancos, matou,
sequestrou diplomatas naquela época, roubando para sustentar a
guerrilha. Responda D. Dilma.
Já
começo a me danar, a me faltar fôlego - desatinado coração.
Paremos por aqui, a música não terminou. Patrão nosso de cada dia
continua a mesmice realidade. O patrão, agora, é outro, anda armado
até os dentes querendo me tomar o carro, o dinheiro, a vida.
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