Edmar
Oliveira
Uma
amiga perguntou pelo Piauinauta, que não sai há quase um mês, e eu
falei que estava enrolado com o lançamento do meu TERRA DO FOGO em
Teresina e que tinha de ficar lá por uns dez dias. Ela então falou:
“sei, você está de licença paternidade”. Acertou
assim.
Cheguei
para o “Sarau dos Amigos do Cinéas” na Oficina da Palavra, onde
o livro foi muito bem recebido. Passei toda a semana indo ao stand do
Leonardo, que tem editado livros de escritores da terra (muito bem
caprichados), autografando o TERRA DO FOGO, que por sinal esgotou o
estoque de lançamento. Eu e Salgado Maranhão fizemos um bate-papo
literário discutindo o meu livro e o dele (MAPA DA TRIBO) para uma
plateia de cinquenta a sessenta pessoas às oito horas da manhã, o
que me surpreendeu. Geraldo Borges estava lançando ESTAÇÃO
TERESINA anunciado aqui no Piauinauta anterior.
Boas
conversas com Paulo Tabatinga, Gisleno Feitosa, Rodrigo Leite,
Durvalino Couto, Feliciano Bezerra, Wellington Soares, Cinéas
Santos, Graça Vilhena, Paulo Vilhena, João Carvalho, Fonseca Neto,
Alexandre Carvalho, Gilson Caland, Climério Ferreira e Helô,
Keula Araújo, Luana Miranda, Poeta Willian, a muito jovem e bonita
escritora Fran Lima, Deusdeth Nunes e a turma do Conciliábulo, entre
tantos outros que tive por bem encontrar. Fui entrevistado por várias
emissoras de rádios que cobriam o evento, entre elas a de Marcos de
Oliveira e a de Leide Sousa. E ainda deu tempo gravar um depoimento
sobre o cinema marginal dos anos 70 para Patrícia Kelly e Morgana,
que fazem um documentário como monografia do curso de história e
jornalismo. As meninas são brilhantes. E eu estou tão velho que
virei pesquisa. Mas é bom ser reconhecido.
Tinha
tudo pra ficar contente. Mas não fiquei.
Me
hospedei no Hotel Central, em frente ao Club dos Diários, ao lado da
praça Pedro II e seu Teatro 4 de Setembro, complexo que foi outrora
o centro pulsante e cultural da cidade. Após cinco dias fui para a
casa do meu irmão Maioba angustiado pela solidão. A cidade entre os
dois rios, que se estendia do encontro de suas águas no Poty Velho
até a Vermelha (citada no filme genial do Torquato Neto) não existe
mais. Foi definitivamente abandonada por seus habitantes que
atravessaram o Rio Poty e ergueram uma cidade moderna na zona Leste.
Mas que não tem nenhuma lembrança da minha cidade.
A
minha cidade é uma cidade fantasma. Os poucos e pobres habitantes
que ali ficaram não saem de noite nas suas ruas escuras com medo de
assalto. Trancam-se em suas casas. Os de mais posses fazem cercas
elétricas para protegerem a sua solidão. As ruas foram entregues ao
drogados, aos desocupados que ocupam uma cidade sem lei e sem ordem.
Em suas ruas desertas, mesmo ao meio dia, encontrei duas pessoas
usando drogas. Não senti qualquer medo. Eram pessoas que eu conhecia
da minha infância naquelas, outrora, ruas agitadas. Agora estavam os
dois usando drogas numa cidade trancada com medo deles. Esquisito.
Conversamos sem medo entre nós. Eu não me senti ameaçado por eles.
Fiquei com pena de a cidade os terem tragado pela fumaça de um
inexistente futuro.
Sem
querer contrariar os meus anfitriões do Salão do Livro do Piauí
(SALIPI), até entendo os seus motivos de o terem tirado da Praça
Pedro II para que acontecesse este ano na Universidade Federal, que
também fica na Zona Leste da nova cidade. Mas não concordo.
Desculpem,
mas penso que a cultura abandonou também a cidade antiga. Não digo
que ficou elitista porque a Universidade pública congrega estudantes
de todas as classes. Mais ainda com o sistema de cotas. Mas acho que
a cultura abandonou também a cidade antiga. É preciso que
analisemos este fato mais devagar. Não vou fazer agora.
No
livro que em Teresina fui lançar conto uma história triste que a
cidade tinha esquecido. Os incêndios dos anos 1940. Acho que em
breve um cronista vai contar essa história, também muito triste, do
abandono da cidade antiga. A impressão que eu tive, e que me encheu
de tristeza, é que ela não mais existe. E uma cidade sem passado é
uma cidade sem futuro.
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