Poeta Luiz Ayrton dos Santos Junior |
24 de julho Diário Incontínuo
O MÉDICO E POETA
LUIZ AYRTON
Elmar Carvalho
Após receber o
resultado dos exames que fizera, minha mulher foi consultar-se com o mastologista
Luiz Ayrton dos Santos Junior. Felizmente tratava-se de um rebate falso, e nada
havia de grave com a sua saúde. Quando retornou, trazia-me o livro de poema
“objetopresença”, gentilmente autografado pelo seu autor, ninguém menos que o
doutor Luiz Ayrton.
Conheço-o há
mais de duas décadas, e com ele entretive algumas rápidas conversas, nas vezes
em que acompanhei Fátima a seu consultório. Na dedicatória, feita em mui
legível letra, e não em "letra de médico", o poeta afirma ter “certeza que uma
ponte poética nos liga”. Efetivamente somos ligados por essa ponte, que espero
seja estaiada e bela, claro que não pela minha, mas pela sua e pela poesia dos
vates que admiramos.
Da década de 80
para cá, conquistou cargos e encargos importantes. Tornou-se professor da UESPI
e da UFPI. Fez mestrado em Medicina e doutorado em Cirurgia. Foi um dos
instituidores da Fundação Maria Carvalho, da qual é presidente de honra. Essa
entidade desenvolve notável trabalho filantrópico na luta contra o câncer de
mama. Presidiu a Academia Piauiense de Medicina (2008-2010). Pertence a várias
outras entidades culturais. Pesquisador, defende acirradamente a memória de
Mandu Ladino, tendo promovido vários eventos sobre essa importante figura
histórica.
Nas conversas
das primeiras vezes em que nos conhecemos, fiquei sabendo que ele era parente
de um amigo meu, o parnaibano Jorge Carvalho. Este é um poeta muito criativo,
inventivo mesmo, e comprometido visceralmente com a modernidade, tanto no
aspecto visual como no jogo lúdico da sonoridade das palavras. Era colaborador
e incentivador do jornal alternativo Inovação, de que eu fazia parte, de modo
que travei amizade com ele a partir do final dos anos 70. Eu e o poeta Alcenor
Candeira Filho temos insistido para que ele publique seus versos em livro, e
não apenas em periódicos, como tem feito (raramente) até agora.
O Jorge era
muito voltado para a vanguarda literária, sobretudo a poética, e por ter
cursado Direito em Recife pôde ter acesso aos jornais e tablóides que
divulgavam esse tipo de poesia. Também possuía um vasto acervo de livros de
poetas modernistas e pós-modernos. Quando vinha passar suas férias ou folgas em
Parnaíba, dava-me alguns desses periódicos e emprestou-me alguns dos livros de versos,
que raramente podíamos adquirir na época, a não ser, com dificuldade, através
do serviço de reembolso postal dos Correios.
O nosso bravo
Luiz Ayrton, assim como o seu parente Jorge Carvalho, também é um poeta ligado
à vanguarda. Contudo, cioso da qualidade de seus textos, não teve pressa em
publicá-los, e os manteve guardados por muito tempo em esconsa gaveta. Tive
acesso a alguns poucos poemas de sua autoria, e logo lhes pude admirar a
qualidade. Ao contrário de vários literatos prolíficos e afoitos, que publicam
aos borbotões, apenas recentemente enfeixou os seus versos em livro individual.
São poemas
contidos, que fogem a derramamentos líricos e emocionais. Conquanto alguns
sejam discursivos, entretanto se afastam da oratória e das frases bombásticas e
de efeito. São poemas sintéticos, de sintaxe reduzida, quase sincopada, em que
são usadas apenas palavras essenciais, que mais sugerem do que dizem
expressamente, podendo suscitar mais de uma interpretação, conforme a
experiência e a criatividade do leitor.
Artista
atualizado, sempre em busca de novas formas de expressão poética, faz as suas
intertextualizações, de maneira adequada, sem excessos, de tal sorte que jamais
se lhe possa censurar falta de criatividade de seu próprio engenho e arte ou
mero desejo de exibir erudição. Alguns poemas são dotados de muita
plasticidade, quase como se fossem objetodesenho ou objetopintura, para
intertextualizar com o título de seu livro, de onde se conclui que ele soube
absorver as mais caras lições do concretismo e dos poemas visuais da
contemporaneidade.
Posso afirmar
que “objetopresença” é verdadeiramente um objeto de arte, pelo esmero de sua
vistosa capa, pelo seu belo projeto gráfico, concebido pela Avant Garde
Comunicação, Edição & Produção, sob a coordenação da poeta Marleide Lins de
Albuquerque, tudo arrematado e alinhavado pelas belas ilustrações de Antônio
Amaral, um de nossos maiores artistas plásticos.
Como se tudo
isso não fosse o bastante, a revisão feita por Teide Soares Leal Melo Lima me
pareceu impecável. Assim, posso dizer que se trata de um ótimo produto embutido
em bela embalagem.
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