No Brasil, além da impunidade, da violência e da corrupção,
agora, o ebola
Cunha e Silva Filho
Não é
de hoje que tenho tido notícias da
doença do ebola (em Portugal, dizem ébola). Nos meados dos anos de 1970, tinha por hábito ler uma excelente
revista americana de
orientação evangélica denominada The Plain Truth, dirigida pelo norte-americano Herbert W. Armstrong (1892-1986), Pastor e fundador da
Worldwide Church of God, autor, entre outros livros, de
Autobiography, volume 1. Não sei se chegou a publicar um segundo
volume da obra - fruto de sua
grande experiência e tirocínio
como doutrinador evangélico em
âmbito mundial. Naquela época, li inúmeros
artigos e reportagens na
mencionada revista que já divulgava
as ameaças e os perigos do
ebola, doença mortal de procedência do Congo (hoje Zaire). A revista tinha certo relevo porque,
embora de viés religioso-doutrinário, ela reservava um largo espaço para
discutir temas de alta importância para a humanidade e em clave de
discussão aberta e despreconceituosa.
Sua assinatura era gratuita, a impressão de alta qualidade e os artigos sobre
questões internacionais eram
valiosos para a época. Com a morte do seu líder Armstrong,
houve a decadência, até à extinção
da The Plain Truth.
As previsões do ebola,
ao lado de outras moléstias, como a gripe aviária ou do
frango, tinham fundamentos, mas é bem pouco
provável que o mundo
se preocupasse com ela. Por outro lado, nos inícios dos anos de
1980 iria surgir o primeiro caso de uma doença - a AIDS - que iria se disseminar mundialmente matando um grande
número de pessoas, por contato
sexual, ou por transfusão
de sangue, com grande perdas de
vidas para os hemofílicos e, no Brasil, por isso mesmo perdemos
figuras bem queridas, como
Herbert de Sousa, Henfil, Cazuza, entre tantos outras. O curioso é que essas doenças, segundo
os especialistas, estão
associadas a contaminação proveniente
de animais, como o macaco e até o
morcego, se não me engano, quando usado
para alimento do macaco.
O vírus se propaga com
facilidade, e, para
evitá-lo, cumpre usar todos os recursos atuais de que dispõe a medicina e
fornecer à sociedade a orientação
segura dos infectologistas sem alarmes
exagerados. A transmissão já
passou as fronteiras dos países onde se
identificaram as primeiras vítimas
fatais.
Num mundo que se tornou pequeno e profundamente interligado
geograficamente, não é de causar surpresa que a doença transponha
as fronteiras dos países onde foram
identificados indivíduos
infectados que, lamentavelmente, chegaram
a óbitos. Já deu sinal de ocorrência do ebola em países
adiantados, como na Espanha,
na Inglaterra, nos Estados
Unidos e, agora, ainda em termos de
uma suposta ocorrência no Brasil, onde
do Paraná, veio a notícia de uma
pessoa com alguns sinais da doença e que foi encaminhada para um centro de referência em infectologia do Instituto Oswaldo Cruz.
Desta maneira, cumpre às autoridades sanitárias
daqui envidar todos os
esforços no sentido de que
um simples caso se
transforme em muitos casos. Todo
o cuidado é pouco na vigilância
atenta dos aeroportos,
portos, fronteiras terrestres.
Não há ainda uma vacina
que seja eficiente
no tratamento da doença, ainda
que, detectada em tempo,
haja recursos de medicamentos que possam
bloquear os efeitos letais
e salvar vidas. Um dos procedimentos
é isolar-se a pessoa infectada e bem assim dotar as equipes médicas de todos os cuidados possíveis
a fim de evitar que sejam também
contaminadas.
Já há uma bibliografia médica
imensa tratando teoricamente dessa doença letal. Urge que
o combate a ela seja feito em conjunto
e em âmbito mundial, sendo para
tanto indispensáveis ações imediatas e contínuas da OMS. Somos, hoje, seres globalizados, desenvolvemos trabalhos humanitários além-fronteiras, como os
médicos que enfrentam
o alto risco de perder a própria
vida para cuidar de doentes
no mundo inteiro, especialmente
em regiões africanas de extrema pobreza e de escassos recursos da medicina, como os heroicos “médicos sem fronteiras,” os trabalhos de
missionários que também
enfrentam perigos de
doenças em regiões em confrontos
bélicos. Outras organizações
internacionais, sem fins lucrativos,
pelo mundo afora, realizam relevantes
serviços em defesa dos seres humanos,
sobretudo de crianças, que
são os mais desprotegidos e dependem tanto da ajuda dos adultos.
Do meu ponto de vista, o ebola já deveria,
a esta altura de pesquisas mundiais,
estar com um vacina
eficaz contra o vírus.
O ser humano é imprevidente em alguns casos onde
não deveria ser, por
exemplo, as doenças mortais
que podem se transformar em epidemia. O mundo, através dos países
ricos, ao invés de investir em
armas cada vez mais destruidoras, deveria
se dedicar aos avanços no campo da
infectologia. A palavra de ordem seria
“prevenção,” e isso se aplica a todas as nações desenvolvidas e em
desenvolvimento, mormente no mundo contemporâneo, no qual, segundo já
assinalei, os contatos dos
povos são quase imediatos pelas facilidades das viagens
intercontinentais.
O Brasil deve,
portanto, estar de olho atento a esse problema de saúde pública, principalmente para evitar o mal maior,
o surto de epidemia. Atenção aos
responsáveis pelo Ministério da Saúde. Não se brinca com doenças
mortais capazes de dizimar
milhares de pessoas.
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