O OVO
Elmar Carvalho
Encontrei um ovo, em terreno limpo, plano e desértico,
sem nada perto que se assemelhasse a um ninho. Notei que a casca apresentava
fissuras. Logo percebi que a clara, que se mostrava um tanto pastosa, quase
gelatinosa, pulsava, como se algo dentro do ovo se mexesse. Imaginei fosse um filhote
de pássaro, forcejando para vir à tona. Passados alguns minutos ou apenas
segundos, algo semelhante a uma ave veio à luz.
Quando olhei atentamente, percebi que sua cabeça
parecia a face de um minúsculo homem, contudo circunspecta e já envelhecida.
Entretanto, não lhe vislumbrei sinais de terror ou desespero. Antes, lhe notei
uma calma resignada diante do inelutável.
Um manto de desolação, velhice e decadência parecia
tudo envolver. Acaso aquele ovo seria o caos e o átomo primordial de algo que
estava por vir? Quando olhei novamente, o ovo se recompusera e dele explodiu um
lindo e imenso e incandescente cogumelo apocalíptico. Um rugido de dor e
lamentação estilhaçou o silêncio.
(Extraído do livro inédito Arte-fatos oníricos e outros)
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