22 de janeiro Diário Incontínuo
PRESERVAÇÃO E REVITALIZAÇÃO
DO RIO PARNAÍBA
Elmar Carvalho
Ainda bem jovem,
ouvi falar que um dos grandes problemas da humanidade seria a falta de água
potável. Muitos diziam que poderia haver guerra por causa desse bem
indispensável à vida. Quem poderia imaginar que cidades como Rio de Janeiro e
São Paulo iriam passar pelo que estão passando, com a escassez desse precioso
líquido. Que isso sirva de advertência a todos nós, especialmente aos
governantes.
Em 1940, quando
meu pai tinha 14 anos de idade e estudava no Diocesano, o professor de
geografia, Álvaro Ferreira, como se fora uma espécie de profeta, afirmava que
se providências não fossem tomadas o rio Parnaíba iria morrer, no prazo de 50
anos. Felizmente, ele ainda está vivo, embora muito degradado; em alguns
trechos, muito largo e raso.
Ele é o maior patrimônio
natural do Piauí, e é mais importante para o nosso estado do que para o
Maranhão, que tem vários outros rios perenes. Além do mais, a margem piauiense
conta com bem mais cidades importantes e populosas, como Floriano, Amarante,
Teresina, União e Parnaíba, do que a margem timbira. Até Timon, que é
maranhense, é mais ligada ao Piauí, uma vez que fica ao lado de nossa capital.
O nosso estado
dispõe de pouquíssimos rios perenes. Muitos dos temporários se encontram
bastante degradados, como é o caso do Longá. Vários estão com suas nascentes
quase mortas e com o leito consideravelmente assoreado, por causa das queimadas
e dos desmatamentos.
Não tenho
notícia de obras que beneficiem os nossos cursos d’água, mas quase todas os
prejudicam, de uma forma ou de outra, entre as quais incluo as barragens, os
esgotos, a retirada d’água, seja para irrigação ou sistema de abastecimento, e
as queimadas e desmatamentos, tanto nas nascentes como ao longo de suas
margens.
O nosso Parnaíba
é um rio frágil e não se autodrena, porquanto é quase sempre um rio de
planície, de pouca declividade e de barrancas que caem com facilidade,
tornando-se muito largo e muito raso. Quanto mais fundo e estreito ele fosse
mais saudável seria. Por outro lado, seus afluentes também não são protegidos e
preservados.
O Velho Monge é
quase um milagre da natureza, pois não é oriundo de geleiras; nasce num estado
que sofre longos períodos de estiagem, e cujo território é largamente situado
no semi-árido. O engenheiro, ambientalista e historiador Cid Castro Dias se
manifestou sobre esse assunto da seguinte forma:
“A resposta está
na formação geológica da Serra da Tabatinga, que por sua constituição peculiar
funciona como um aquífero. Um aquífero é constituído predominantemente de
rochas arenosas com elevada porosidade e permeabilidade, permitindo o
armazenamento de água em seus interstícios, funcionando como uma esponja na
retenção de água. As águas de chuva, ao se infiltrarem no meio aquífero,
começam, por gravidade, um processo descendente e ao encontrarem uma camada
impermeável do terreno, iniciam um processo lento de escoamento horizontal,
dando origem a diversos olhos d’água no sopé da serra, em virtude do desnível
do relevo, pelo lado do Piauí. Esses olhos d’água são os formadores do rio
Parnaíba, destacando-se os Riachos Água Quente, Surubim ou Pau Cheiroso,
Lontras, Uruçuí Vermelho e Parnaibinha.”
Por via de
consequência, já passa da hora de o governo do Piauí e o Federal unirem
esforços em defesa do nosso maior patrimônio natural, antes que seja tarde
demais, promovendo o reflorestamento das margens de nosso rio, seja
diretamente, seja através de campanhas educativas e do fornecimento de mudas e
sementes aos ribeirinhos, inclusive com incentivos financeiros e tributários, e
principalmente com a fiscalização efetiva do parque das nascentes do Parnaíba,
coibindo os desmatamentos e queimadas, bem como a circulação de tratores, que
prejudicam a porosidade do solo.
Com a sua
revitalização e recuperação, os grãos dos cerrados piauienses, além de outros
produtos, poderiam ser transportados, através de embarcações de pequeno calado,
do tipo chata, até Teresina e até o futuro porto de Luís Correia, o que
certamente proporcionaria novos empregos e o barateamento dos fretes. Diante disso,
a construção das eclusas da barragem de Boa Esperança seria de fundamental
importância, pois assim a navegabilidade poderia ser estendida até Uruçuí, ou
mesmo Ribeiro Gonçalves.
Recentemente, o
Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, através da Lei Federal nº
13.090, de 12 de janeiro de 2015, foi ampliado, passando de 729.814 para
749.848 hectares. Por conseguinte, teve um acréscimo de aproximadamente 20 mil
hectares. Contudo, o mais importante é que toda essa área seja rigorosamente
fiscalizada, de modo que atividades agrícolas e pecuárias não sejam ali
exercidas. Dessa forma, seriam evitados os desmatamentos e queimadas, além da
circulação de máquinas e veículos pesados, que provocariam a compactação do
solo, o que dificultaria a infiltração das águas pluviais, imprescindíveis para
o abastecimento do aquífero, que possibilita, por sua vez, a existência das
nascentes.
Também considero
de capital importância a revitalização de nosso maior rio, sobretudo com a transposição
de águas do Tocantins, conforme já tive ocasião de me pronunciar a respeito,
tanto pelos jornais, como pela internet e no Seminário Encontro em Defesa do
Rio Parnaíba, realizado pela Academia Piauiense de Letras. No meu texto Rio
Parnaíba – Problemas e Soluções, aduzi:
“Ainda no campo
das soluções, retomando uma ideia antiga do engenheiro, advogado e
administrador Lauro Andrade Correia, ainda do tempo em que ele foi presidente
da FIEPI, no início da década de 1980, afirmei que o Velho Monge poderia ser
rejuvenescido e revitalizado com a transposição de águas do Tocantins, na
altura de Carolina (MA), para um dos afluentes do rio Balsas, o qual deságua em
nosso mais importante rio, a montante da cidade de Uruçuí (PI).
Expliquei que
essa transposição exigiria a construção de um canal, de apenas 100 quilômetros,
sem necessidade de grandes bombeamentos, já que a gravidade, o afluente e o
Balsas tudo fariam, sem emprego de maiores esforços. Não haveria necessidade de
obras faraônicas e/ou mirabolantes de engenharia, nem do uso de complicadas e
sofisticadas tecnologias. Por conseguinte, seria uma obra simples e de baixo
custo, em termos de governo federal.”
Desejo não ser
apenas mais uma voz clamando no deserto da indiferença governamental. Espero
que os governos Estadual e Federal saiam da inércia ou da demagogia
propagandística e façam efetivamente algo em defesa de nosso agonizante Velho
Monge, antes que seja demasiado tarde.
Amigo Elmar,
ResponderExcluirSeu artigo acima em defesa da sobrevivência e da "revitalização" do rio Parnaíaba é de importância capital e, por consequente, merece a atenção cuidadosa e urgente dos homens públicos do Piauí, a começar do Governador. atual.
O mencionado artigo confirma com vigor a preocupação cívica do autor que, aqui, dá provas de que é dotado de ideias férteis e de uma boa base técnica de conhecimento da realidade da situação atual em que se encontra o Velho Monge.
Parabéns, Elmar, por mais essa contribuição sua como piauiense e como pessoa humana que ama e defende (até na sua condição de poeta) a sua terra, o seu Estado, enfim, tudo que diz respeito à preservação da natureza piauiense e de sua principal fonte de vida de seus habitantes: um rio Parnaíba bem cuidado, bem protegido, que possa retomar a sua capacidade de navegabilidade do passado, onde se viam nele passando os chamados "vapores" com mercadorias e pessoas, i.,e,, dando exemplo de um rio vivo, potente e servindo comercial e economicamente ao progresso do Piauí.
Este artigo aponta os caminhos e as soluções que devem ser implementadas na melhoria e recuperação do Parnaíba.
Associo-me a V. e a todos os piauienses de boa vontade que, na realidade, esperam providências urgentes dos governos estadual e federal visando à salvação do rio Parnaíba.
Cuidar da nossa fontes hídricas, em âmbito nacional, é obrigação e exemplo de patriotismo e respeito ao nosso país, sentimentos que hoje estão rareando entre os brasileiros.
Cunha e Silva Filho
Caro Cunha,
ResponderExcluirO nobre amigo, como sempre, tem a grandeza de reconhecer os méritos alheios. Não é possível que os governos só tomem alguma providência em relação ao nosso grande rio quando a degradação já estiver quase irreversível...
Abraço,
Elmar
Meus parabéns Elmar, gostei do texto. Eu estou organizando grupos para lutarmos pelo Velho Monge, algo tem que ser feito, você esta conosco nessa luta ?? Contamos com você nessa causa. Meu Email: brenoalisson2016@outlook.com
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