12 de fevereiro Diário Incontínuo
AS MISSIVAS DE
ELISABETO RIBEIRO GONÇALVES
Elmar Carvalho
Não resisto à
tentação de trazer para este Diário uma pequena carta internética, datada do
dia nove, que me foi enviada pelo Dr. Elisabeto Ribeiro Gonçalves, neto do
coronel Orlando Carvalho, reconhecido como um dos mais operosos prefeitos de
Oeiras, terra natal do missivista. Ei-la, na íntegra:
“Prezado
amigo e poeta (maior) ELMAR CARVALHO,
Recebi neste final de semana o seu
livro AMAR AMARANTE. Fiquei encantado com o presente e por algumas boas razões.
Primeira delas, é que o livro é de sua autoria e isso nos dá a certeza de uma
antecipada garantia de qualidade literária e estilística. Depois há uma razão,
digamos sentimental: Amarante é o berço da família Ribeiro Gonçalves, pois lá
se fixaram os três irmãos vindos de Portugal.
Aliás, segundo sei, eram quatro
irmãos, mas um foi para o sul e nunca mais ninguém teve notícias dele. Então a
família nasceu lá e continuou lá por muito tempo, quando se dispersaram entre
Oeiras, Teresina e Floriano, principalmente. Lá nasceram meus avós paternos,
meu avô materno e meu pai, embora nascido em Manaus, voltou para lá ainda
criancinha, com quatro anos, e viveu em Amarante até formar-se, quando foi
exercer a Medicina em Oeiras, casando-se com minha mãe, oeirense.
Amarante ainda tem a honra de ter
dado ao Piauí o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Lembro-me de que num dos sonetos do vate
amarantino ele canta Amarante dizendo que minha terra é um céu se há um céu
sobre a terra. E tem um de seus versos (acho que de A Moenda) eleito o melhor e
mais bonito de toda a poética de língua portuguesa: Saudade, asa de dor do
pensamento.
De modo, poeta, tenho motivos de
sobra para ler o seu Amar Amarante com todo interesse, buscando nele o encanto,
o prazer e a emoção que sua prosa, já minha conhecida, certamente vai me
propiciar. Se não for pedir demais, peço-lhe que não se esqueça de mim,
enviando-me, oportunamente, todo o produto de sua criação literária e poética.
Ao ler e reler seu “Noturno de
Oeiras” passei a entender o sentido do que Guimarães Rosa disse em seu Grande
Sertão: Veredas: tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de
acordar de alguma espécie de encanto. É isso aí, poeta: a leitura de sua obra
me dá essa espécie de encanto, que a gente tenta esticar, prolongar, mesmo
sabendo que devemos, embora a contragosto, fugir à magia e ao doce torpor desse
deslumbramento.
Abraços afetuosos, poeta, do amigo
que o estima e admira muito, mesmo sem conhecê-lo.
Elisabeto”
Consta que o grande
poeta Augusto Frederico Schmidt, então proprietário de uma editora, ao ler um
relatório do prefeito Graciliano Ramos, ficou com a convicção de que o alcaide
deveria ter algum romance escondido em alguma gaveta. De fato Graciliano havia escrito
seu romance Caetés, que Schmidt veio a publicar. Depois veio a série de obras
importantes do grande ficcionista alagoano.
Da mesma forma, quando
dona Anatália Gonçalves de Sampaio Pereira, sua irmã, me deu a ler uma carta do
Dr. Elisabeto, fiquei com a desconfiança de que ele deve ter importantes textos
guardados, que certamente merecem ser dados à estampa da publicidade.
Dona Anatália lhe
remeteu o meu livro Noturno de Oeiras e outras evocações. Poucos dias depois,
recebi uma carta, por e-mail, em que ele comentava com muita propriedade essa
obra. O texto tinha algo de boa crítica literária, e muitos comentários e
observações que somente um bom escritor e leitor arguto poderia fazer.
As cartas de Elisabeto
são feitas com frases bem construídas, elegantes e gramaticalmente corretas,
mas sem empolações e desnecessárias pulutricas estilísticas. Concisas, exatas,
precisas, mas de denso conteúdo. Consoante se depreende de suas judiciosas
observações e análises, de seus abalizados e pertinentes comentários, ele
poderia ser, se o desejasse, um exímio cronista ou um notável ensaísta.
Pelas
intertextualizações, pelas referências a textos e autores, e pelas eventuais
citações diretas, nota-se que Elisabeto é um leitor de largas, longas,
profundas e meditadas leituras, cujas ressonâncias transparecem no teor de seus
escritos e em seu estilo límpido, escorreito, rítmico. Não é somente um bom
redator; é um estilista esmerado, atento, perfeccionista, que chega ao ponto de
elidir o “que” (elipse), para que esse conectivo não tenha excessivas
repetições num mesmo período.
De qualquer forma, suas
cartas, pelo que me foi dado conhecer, merecem ser enfeixadas em livro. Aliás,
muitos escritores tiveram suas missivas organizadas e editadas. Algumas dessas
publicações são compostas de dois ou mais literatos que trocavam
correspondências. Muitos desses textos são tidos como grandes obras literárias,
por suas observações, reflexões, análises, críticas, depoimentos, comentários a
fatos ou obras de arte. As cartas de Elisabeto contêm todos esses ingredientes,
tudo vazado em refinada linguagem.
Mário de Andrade era um
incansável missivista. Enviava cartas para diversos escritores, tecendo
comentários, emitindo sugestões, apresentando palavras de estímulo e
encorajamento. Tento imaginar o que ele faria hoje, com as facilidades
proporcionadas pela internet, através de sites, blogs, e-mails e facebook.
Godofredo Rangel e Monteiro Lobato se corresponderam por 40 anos. Li uma dessas
missivas. Era uma verdadeira obra de arte, e me comoveu e encantou.
As cartas do Dr.
Elisabeto Ribeiro Gonçalves, médico como seu pai, um dos mais respeitados
oftalmologista de Belo Horizonte, são verdadeiras obras-primas, pelas qualidades
que lhes ressaltei acima, e por reunirem atributos de crônicas, ensaios,
memórias e artigos, merecem ser compiladas em volume impresso, ainda que ele
julgue necessário fazer uma seleta dessas excelentes missivas.
Dr Elisabeto, fiquei muito grato aos familiares do Dr Paulo de Tarso Ribeiro Gonçalves, por terem publicado o Sonetoi de nossa autoria:
ResponderExcluir"Médicos do sertão"
I
"Ser médico é ser um Sacerdote
É cuidar coim carinho dos outros
Exercer a profissão de médico no interior,
É mais que um sacerdócio, é uma atitude superior.
II
"As belas hist(est)orias, do Dr Paulo de Tarso,
Isaias Coelho, Raul Macedo e outros,
Deixam a medicina cheia de glórias,
Fazendio acreditar em passado de vitórias.
III
"Pouca tecnologia, muita atenção nas histórias,
Exame clínico esmerado, paciência e dedicação,
Levando com suas habilidades condutas exitosas.
IV
"Dr Paulo de Tarso, nos ajude nesta empreitada!
Que a medicina, volte a ser uma profissão humanizada,
Que p Médico, exerce-a com amor e conduta ilibada!"
Um abraço José Itamar abreu Costa
Cardiologiusta
Presidente da sociedade Norte e Nordeste de Cardiologia
Vice-presienrte da Academia de Medicina do Piauí