segunda-feira, 16 de março de 2015

CORRUPÇÃO: NÓDOA QUE PERSISTE


CORRUPÇÃO: NÓDOA QUE PERSISTE

Jacob Fortes

A corrupção vem de longe, chegou debaixo dos panos como passageira clandestina das caravelas.

Por mais que existissem controles enérgicos, monitorados por exatores régios de grande valimento, (governadores, ouvidores e provedores) imbuídos de poderes majestáticos, de prerrogativas supremas para vigiar as riquezas da Fazenda Real, cobrar o quinto, julgar e decidir, o fisco régio era driblado; insondáveis modos corruptivos vigiam: imagens devocionais recheadas de ouro.

Enquanto escoava o rito com que El-rei drenava as riquezas da colônia, oprimida, infetada de corruptos, os rebentos tupiniquins iam surgindo aos milhares, e, nestes, o ardor da liberdade. Suas aspirações libertárias fustigavam-lhes o sangue! Enquanto a emancipação amadurecia, aqui e acolá levantes separatistas glorificavam heróis da independência; pena de morte ou degredo. Finalmente, sem bacamarte, sem baioneta, sem clavinote, sem derramamento, a independência, — por meio apenas de um grito sonoro vindo de especialíssimas circunstâncias históricas —, se fez realidade. Vexados por séculos de exploração os tupiniquins cantaram, se refestelaram.   Porém, remanesceram as bactérias virulentas da corrupção, principalmente na política e na gestão da coisa pública. O que era tomado dos brasileiros à força, pelos mecanismos reinóis, passou a ser tomado à surdina, à matreirice, pelos corruptos e corruptores. Desgraçadamente o povo continua sendo defraudado por uma corrupção sombria e trágica, quase hegemônica. Nisto deriva o sobrepeso escanchado no cangote dos que, com seu trabalho, forjam a identidade brasileira; embora por vezes rotulados de tolos porque se pautam pela correção.

Enquanto a corrupção, viciosa, endêmica, se devota ao santo sacrifício de drenar os recursos públicos, a pátria, — cambaleante, emperrada, de semblante demudado, — desapressa os passos da prosperidade.

Tomara que as mãos equânimes do Supremo Tribunal Federal, ao rigorismo da lei, possam desvendar e punir os corruptos que, por meio de tramoias, vivem parasitariamente à custa do suor dos tributários brasileiros. O país — saqueado, esvaído, — já não tem sangue suficiente para saciar a gula de esponja de tantos fraudadores hematófagos. Ainda que os embusteiros — no papel de diversivos e entregues ao hábito de pretextar para não assumir responsabilidades —, aleguem que a culpa é de Getúlio Vargas por ter criado a Petrobrás, a crença é de que o primado da justiça se imporá. Com ou sem lava jato, urge água e sabão, abundantemente, para remover essa nódoa que persiste.

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