CORRUPÇÃO: NÓDOA QUE PERSISTE
Jacob Fortes
A corrupção vem de longe, chegou debaixo dos panos como
passageira clandestina das caravelas.
Por mais que existissem controles enérgicos, monitorados por
exatores régios de grande valimento, (governadores, ouvidores e provedores)
imbuídos de poderes majestáticos, de prerrogativas supremas para vigiar as
riquezas da Fazenda Real, cobrar o quinto, julgar e decidir, o fisco régio era
driblado; insondáveis modos corruptivos vigiam: imagens devocionais recheadas
de ouro.
Enquanto escoava o rito com que El-rei drenava as riquezas da
colônia, oprimida, infetada de corruptos, os rebentos tupiniquins iam surgindo
aos milhares, e, nestes, o ardor da liberdade. Suas aspirações libertárias
fustigavam-lhes o sangue! Enquanto a emancipação amadurecia, aqui e acolá levantes
separatistas glorificavam heróis da independência; pena de morte ou degredo.
Finalmente, sem bacamarte, sem baioneta, sem clavinote, sem derramamento, a
independência, — por meio apenas de um grito sonoro vindo de especialíssimas
circunstâncias históricas —, se fez realidade. Vexados por séculos de
exploração os tupiniquins cantaram, se refestelaram. Porém, remanesceram as bactérias virulentas
da corrupção, principalmente na política e na gestão da coisa pública. O que
era tomado dos brasileiros à força, pelos mecanismos reinóis, passou a ser
tomado à surdina, à matreirice, pelos corruptos e corruptores. Desgraçadamente
o povo continua sendo defraudado por uma corrupção sombria e trágica, quase
hegemônica. Nisto deriva o sobrepeso escanchado no cangote dos que, com seu
trabalho, forjam a identidade brasileira; embora por vezes rotulados de tolos
porque se pautam pela correção.
Enquanto a corrupção, viciosa, endêmica, se devota ao santo
sacrifício de drenar os recursos públicos, a pátria, — cambaleante, emperrada,
de semblante demudado, — desapressa os passos da prosperidade.
Tomara que as mãos equânimes do Supremo Tribunal Federal, ao
rigorismo da lei, possam desvendar e punir os corruptos que, por meio de
tramoias, vivem parasitariamente à custa do suor dos tributários brasileiros. O
país — saqueado, esvaído, — já não tem sangue suficiente para saciar a gula de
esponja de tantos fraudadores hematófagos. Ainda que os embusteiros — no papel
de diversivos e entregues ao hábito de pretextar para não assumir
responsabilidades —, aleguem que a culpa é de Getúlio Vargas por ter criado a
Petrobrás, a crença é de que o primado da justiça se imporá. Com ou sem lava
jato, urge água e sabão, abundantemente, para remover essa nódoa que persiste.
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