Engajados, alienados, ludibriados
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
A canção de Chico Buarque, crítico
da ditadura militar, parece se repetir nas atuais circunstâncias que apavoram a
população: “A gente vai contra a corrente/ até não poder resistir/ Na volta do
barco é que sente/ o quanto deixou de cumprir”. Bem que a geração atual se
engajasse em heroica luta contra políticos que ludibriam cidadãos. Discursos
para engabelar a população sem consciência crítica, com mixurucas promessas e
bolsas de sobrevivência, miséria e alienação.
A empulhação
virou pasta de governo: na hora de negociar reajustes de salários, bota a culpa
na Lei de Responsabilidade Fiscal. Paradoxal e cretinamente, multiplica cargos
de confiança e secretarias para acomodar gentilezas políticas. Ademais,
governador dobra próprio salário, confortado, às expensas do erário público até
para assepsiar-se no banheiro. Na virada
do ano, deputados sentaram-se gulosos nos custos de gabinete. A política da
retórica esfarrapada de disfarce e interesses pessoais. Deputado Robert Rios,
acostumado a petardos de ocasião, declarou à coluna EM TEMPO, do Diário do
Povo, a propósito da farra de dinheiro
que o governo do Piauí gastará com a convocação de suplentes de
deputados: “O que se gasta com esses suplentes daria para pagar salários a
1.500 soldados”.
Na época de
ouro da rádio AM, Deoclécio Dantas, da Pioneira, esculachava a malandragem
política. Encerrava sempre a amalaguetada crítica com um soco na mesa,
dirigindo-se ao controlador de som com memorável bordão: “É uma lástima, Chico
Paulo”. Outro jornalista, Donnizeti Adalto, anos 90 da modernidade televisa,
bombardeava a sujeira moral da elite: “Morro e não vejo tudo!” Foi assassinado
pela verborreia e discutida ética profissional. O certo é que, daqueles anos
para cá, outro bordão foi plantado por palhaço cearense, Tiririca, em campanha
eleitoral para deputado federal de São Paulo: “Do jeito que está, pior não
fica”. Pior é que ficou, porque se elegem políticos com certificado de palhaço
e malandragem.
A Rádio CBN
informa que o Brasil se encontra atrás de 60 países no desempenho da Educação.
A TV Globo repetiu a notícia. Em primeiríssimos lugares, vários países do
Oriente. Exatamente aqueles que não se divertem com dinheiro público, que
executam corruptos e traficantes, que investem maciçamente em educação e saúde.
Botaram para trás Alemanha, Inglaterra e civilizado norte da Europa. Estados
Unidos, tadinho, quase 40 países na frente. Brasil piscando o olho para o
Gamão, em última colocação.
Neste exato
momento, nos corredores de hospitais, imundos e fétidos, misturam-se crianças,
velhinhos e senhoras prenhes, desesperados, feridos, sangrando, feridas
putrefando. Horror que se repete, diariamente, que só catástrofes de Nepal.
Neste instante, colégios sem professores e merenda escolar. Cadê o dinheiro que
botaram aqui? Gatunos roubaram, tingiram a face de Cristo a bofetadas e
espinhos. Ecoa ainda o clamor do poeta da escravidão: “Senhor Deus dos
desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira, se é verdade tanto horror
perante os céus?!”
Servidores
públicos em greve cobram mais respeito à Educação e Saúde de melhores salários.
O governador, que, no passado, ocupava programas sindicais das rádios e
protestava frente a bancos e escolas, manda dizer que a Lei de Responsabilidade
Fiscal proíbe excesso de gastos. Pelo que se sabe, excesso de gastos e
malandragens não constam da pauta dos abnegados e despojados funcionários.
Então, quem merece borrachadas policiais? É hora, portanto, de engajamento, de
cutucar o poder, repetir a canção: “A gente vai contra a corrente...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário