Manchetes da indignação
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Basta abrir
as páginas dos jornais, acompanhar noticiários da TV e do rádio. Os temas se
repetem cotidianamente, sangram a paciência, enchem de indignação. Precisa
citá-los, se a opinião pública já se acostumou a presenciar, através das
imagens e manchetes, o desmoronamento moral por que atravessa o país? A culpa
não cabe à imprensa, porquanto, graças ao jornalismo investigativo, sem chapa
branca, a opinião pública é informada. Embora estarrecida e indignada, observa
tudo, passiva, e aí comete perigoso deslize
de omissão e submissão aos caprichos de administradores.
Vejam só o que
escreveu Santo Agostinho, no terceiro século da era cristã, em plena devassidão
romana, cujas autoridades militares, judiciárias e políticas se vendiam por qualquer
propina: “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem. A
indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, para
mudá-las”.
A indignação
da sociedade já se manifesta em toda ponta de rua ou mesa de bar, nas avenidas
e concentrações públicas. Falta-lhe, ainda, a coragem para mudá-las, apertando
o cerco às autoridades. Formadores de opinião precisam incorporar-se à
indignação social, com bravura, protestos, exemplo da banda Skank: “Eu fiquei
indignado / Ele ficou indignado / A
massa ficou indignada / Duro de tão indignado”.
A imprensa,
como a literatura, em geral, num país sem liberdade pública até para trabalhar,
é a única tribuna, do alto da qual se pode ouvir o grito da indignação e da
consciência.
Prefeito de
Fronteiras do Piauí, que decretara estado de emergência, contratou os músicos
Zezé de Camargo e Luciano por quase 300 mil reais, incluindo outras despesas de
pura diversão com dinheiro da fome.
Dá ou não dá
indignação prefeita Neuma Café (PT) pagar mais de 1 milhão aos cantores Frejat
(340 mil), a Jorge Bem Jor (350 mil) e Ana Carolina (375mil)? Toda essa
montanha para Festival de Inverno e calor.
Indignação
saber que a verba de gabinete de um deputado estadual do Piauí aproxima-se dos
200 mil reais. Secretário da prefeitura de Teresina dança festivo com 25 mil
reais de contracheque, enquanto barnabés protestam por aumento na Câmara
Municipal, alguns por não aceitar “aumento” miserável de 1%!! Sempre as mesmas
e fajutas desculpas de que “é preciso cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal”
ou coisa parecida, contensão de despesa, que sempre ataca o “baixo clero”.
Uma das
artimanhas de administradores em apuros é engabelar a população indignada com “pão
e circo” do império romano ou com investimentos que nunca se concretizam.
Estratosféricos 195 bilhões de reais para “estradas de logística” e outros
caracacás!! Por aqui, piruetas festivas e blablabá para acalmar grevistas. Só
pílulas azuizinhas do amor.
Coluna de
Zózimo Tavares: “O Governo do Estado e a Prefeitura de Teresina reclamam da
queda de receita, mas anunciam investimentos em obras de mobilidade”. Tá vendo
como administradores engabelam a indignação?
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