terça-feira, 8 de setembro de 2015

Deus não é camundongo de laboratório


Deus não é camundongo de laboratório

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Como dizia em matéria anterior, na quarta vigília da noite afluem sonhos prazerosos, às vezes, de recados divinos. Conseguir momentos assim exigem algum exercício: corpo relaxado, após prolongado repouso.

A agitação e competitividade da vida moderna entorpecem o contato com Deus. Brilhante médica, mestrado e doutorado, professora universitária, assiste em hospitais de Teresina, expressa, em e-mail enviado, sobre a crônica, MISTÉRIOS E SONHOS DA QUARTA VIGÍLIA:

         “O texto é pontuado por diversos aspectos ético-religiosos que, até mesmo para uma agnóstica (como me intitulo!), leva a uma reflexão, mesmo que momentânea. Afinal, nos dias de hoje, com o acesso irrestrito à web, nem paramos mais para quase nada. Não sei aonde iremos parar. Há dias, quisera eu ter respondido, mas as atribulações da vida moderna não me permitiram. A minha capacidade está muito aquém dos seus muitos seguidores, mas, às vezes, me agrada algum comentário. Tomara que o agrade também.”

Agradou, e muito, nobre doutora, sua honesta confissão de agnóstica. Por se tratar de um testemunho bastante pessoal, evitei publicar-lhe o nome. Mente quem afirma que nunca passou momentos de descrença ou tibieza com relação à existência ou não de qualquer divindade ou reivindicações metafísicas. Especialmente, em dolorosos e trágicos momentos.

Agnóstico é aquele que não conhece a Deus ou duvida da sua existência. Ao contrário do ateu, que anula e combate a existência divina. Crises de agnosticismo ocorrem até em monges e servos de Deus, quando a fé resvala para discussões.

Isolar-se da turbulência do mundo, buscar o silêncio, orar, agradecer aos céus o dom da vida fazem um bem danado à saúde do corpo e do espírito, como suculento dejejum. Explica-se o interesse de grupos de jovens e adultos que trocam o carnaval ou final de semana agitado por um retiro espiritual. Experiências fantásticas testemunham eles.

Muita gente, em vez de exercitar a experiência com Deus, questiona-lhe a existência com argumentos científicos e filosóficos que apenas confundem incautos. Tentam questionar o divino como camundongo de laboratório, até citam cientistas do saber tudo. Imagino ter que explicar as características e sabores da laranja a quem nunca viu a fruta. Por mais argumentos, inclusive científicos, não o convenceria. Só exibindo a laranja e convidar a chupá-la. Experimentá-la. Deus é uma experiência pessoal, e não tema de discussão vazia. Colocar-se em sua presença, nas caladas da noite ou no escritório, fechar os olhos e soltar: “Senhor, juro que te desconheço, se existes mesmo. Dá-me uma oportunidade para te conhecer!” Mais que na quarta vigília da noite, você o encontrará, quem sabe, na leitura de um livro, num papo com quem tem experiência de Deus. A doutora do e-mail ainda vai encontrar tempo para uma quarta vigília.    

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