Foto meramente ilustrativa |
24 de setembro Diário Incontínuo
HISTÓRIAS DO
IRMÃO JOSUÉ
Elmar Carvalho
Vez ou outra,
na caminhada da Raul Lopes, encontro o irmão Josué Bonfim. Fui-lhe apresentado
pelo colega e amigo Raimundo Lima, juiz aposentado. Ele é proprietário da Loja
Hollywood, tradicional empresa de materiais e equipamentos fotográficos de
Teresina. Nos tempos das câmeras que usavam filmes (e não cartões de memória)
fui seu cliente. Numa dessas caminhadas o irmão contou-me várias histórias
anedóticas. Algumas foram protagonizadas por pessoas de sua afinidade familiar,
cujos nomes acho prudente não declinar.
Em certa cidade
havia um homem que quase sempre trocava a ordem das palavras de suas frases ou
narrativas, chegando a provocar engraçadas inversões, embora fosse uma pessoa
esclarecida, já que era uma das lideranças políticas de sua comunidade. Em
determinada ocasião, às cinco horas da manhã, seguia ele apressado, quando foi
abordado por um conhecido, que lhe perguntou sobre “como estavam as coisas”,
tendo ele respondido, estugando os passos, que “tá ruim, tá ruim”, ao que o
outro lhe inquiriu o motivo dessa ruindade e o local para onde ele se dirigia.
Respondeu, já
quase gritando, que estava “indo ao remédio comprar a farmácia”, uma vez que
sua mulher havia “comido congestão e estava dando carne de porco”. Na verdade,
traduzindo, ele queria dizer que ia à farmácia comprar remédio, porque sua
mulher havia comido carne de porco e estava dando congestão. Segundo Josué, ele,
amiúde, cometia esse tipo de atos falhos. Exemplificou com outros fatos quejandos.
Outro
personagem folclórico tinha umas “crises”, nas quais protagonizava episódios
inusitados e jocosos. Numas dessas vezes o nosso herói trepou num coqueiro, de
onde, com sua força extraordinária, arrancava os cocos e os jogava perto dos
transeuntes, o que provocou receio nos moradores da cidadezinha. (Ao fazer a
revisão, pelo computador, este me sugeriu substituísse “trepou” por “teve
relações sexuais”. Acho que nem mesmo o Super-Homem conseguiria a insólita
proeza de fazer essa atividade com um coqueiro.)
Quando desceu
da palmeira, foi se postar numa esquina próxima. Duas jovens lhe pediram que as
escoltassem, porquanto estavam com medo de um louco, que estava jogando cocos
nos passantes. Ele não se fez de rogado; pediu que as moças subissem na garupa
e no varão de sua bicicleta, e as levou sãs e salvas. Só algum tempo depois as
garotas souberam que o herói que as conduzira era o próprio atleta do arremesso
de cocos.
Em outro evento,
essa figura quase mitológica resolveu comprar um caminhão pequeno, do tipo 3/4.
Após a pechincha de praxe, efetuou o pagamento com uma grande quantidade de
cédulas, que retirou de uma velha sacola. O dono da loja lhe perguntou se ele
não tivera medo de ser assaltado, tendo ele respondido:
- Ora, o senhor
acha mesmo que alguém iria assaltar uma pessoa trajando uma velha roupa,
calçando uma chinela japonesa, e conduzindo uma sacola rasgada das Lojas
Pernambucanas?
Após fechar o
negócio, ele se deslocou com sua mulher para o centro de Teresina. Como fosse
hora de almoçar, adentrou um restaurante que havia na Avenida Barão de Gurgueia,
no qual um prato feito custava cinco cruzeiros e uma refeição completa, oito.
Pediu que o atendente lhe trouxesse um prato feito e duas colheres, uma para
ele, outra para sua esposa. Não sei se ainda ficou com fome, mas o certo é que
fez uma considerável economia.
Econômico e
cioso de seu dinheiro, foi perguntar ao caixa o saldo de sua poupança, tendo o
empregado lhe respondido que consistia em 30 mil cruzados. Pediu a retirada
dessa vultosa importância. Devoto de são Tomé, que só acreditava no que via, contou-a
meticulosamente, cédula por cédula, e depois pediu fosse ela mais uma vez
depositada em sua conta. Ante a perplexidade do bancário, disse queria ter
certeza de que o dinheiro existia de fato, e não apenas no extrato.
O irmão Josué,
após narrar essas e outras peripécias dessa figura notável, acrescentou que
ainda tinha no repertório vários outros “causos” semelhantes. Fiquei com a
certeza de que esse personagem, com os casos engraçados, anedóticos,
folclóricos, de que fora protagonista, bem poderia ser objeto de um livro ou
mocinho de uma comédia televisiva ou cinematográfica.
O próprio irmão Josué também é uma figura mitológica. Acredito que nessas caminhadas você terá assuntos para muitos posts no blog do Poeta Elmar. Só deve tomar cuidado com as correções de texto do word.
ResponderExcluirPor falar em figura mitológica, diria que nem mesmo o bom e velho Hércules (ou mesmo o similar macarrônico Maciste), daria conta da sugestão do computador, que bem poderia ser o 13º trabalho desse fortão grego.
ResponderExcluirDeixarei que o novel escritor Sousa Lima se encarregue de enfeixar as histórias do irmão Josué em livro.