BITOROCARA E CAMPO MAIOR: UM SÓ CORPO NO MESMO ESPAÇO
Antônio Francisco Sousa
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
De Bernardo
de Carvalho – O Fundador de Bitorocara, o pequeno-grande livro eletrônico do
bitorocarense Elmar Carvalho, dizer o quê? Muita coisa, em breves palavras:
inebriante na medida certa, qual uma taça de bom tinto carmenère chileno, ou de
um argentino malbec de boa cepa. Novidade, não somente na literatura piauiense
dos tempos hodiernos quanto ao formato, virtual, mas no gênero:
histórico-genealógico, assunto pouco explorado pelo mais poeta, ensaísta e
cronista do que historiador, magistrado inativo, porém, imortal
campo-maiorense.
Sobre os
homens? O dissertado: sem dúvida, um herói singular, figura unívoca, ainda que
não única neste vasto e largo celeiro de grandes nomes da historiografia
mafrensina (por que não - como tantas vezes quase diz o outro homem, o autor -,
bernardiana?). Mesmo que sua Bitorocara tivesse originado São Bernardo, no
Maranhão, o que não o fez por questão que Isaac Newton, o físico, explica por
analogia em uma de suas leis, a que diz que um corpo não pode, ao mesmo tempo,
ocupar mais de um lugar no espaço – menos ainda continuar, permanecer -; haja
vista, propriamente ela, a fazenda, comprovadamente, ficar distante mais de
vinte e cinco léguas, de ontem, cento e cinquenta quilômetros de hoje, da
cidade maranhense; como se não bastasse, com um rio a separá-las, unindo os
dois entes estatais; por si só, não haveria qualquer demérito nessa engenharia
geográfica, se, de fato, não Campo Maior, mas São Bernardo tivesse nascido de
Bitorocara.
Se a lei
proposta por Newton, sancionada e comprovada pela comunidade científica desde
sua descoberta – resistindo aos assédios da Física Quântica - pudesse ser
contestada quanto à sua conclusão – no máximo, um corpo no mesmo espaço-tempo –
uma nova hipótese haveria para ser discutida: e em sendo um mesmo imutável
espaço físico, mas tempos diversos? É que Campo Maior nasceu, pois esta é a
data de fundação da Fazenda Bitorocara que ficava na confluência dos rios
Surubim e Longá (daí porque teve a primeira igreja do povoado como padroeiro
Santo Antônio do Surubim, erguida por Bernardo de Carvalho e Aguiar, dono da
terra, bem próximo à casa-grande, e de cuja primeira missa, celebrada em
novembro de mil, setecentos e doze, portanto, três séculos atrás, participou):
no ano mil, seiscentos e noventa e seis; enquanto a fundação de São Bernardo,
às margens do rio Parnaíba, no lado maranhense, ocorreu em mil, setecentos e
vinte um.
No que tange
ao outro homem, Elmar Carvalho, autor de Bernardo de Carvalho – o Fundador de
Bitorocara, há que se dizer o seguinte: um quase workaholic (viciado em
trabalho), para fincarmos um termo modernoso; apaixonado pelas letras, pela
literatura em suas mais diversas acepções, estilos e gêneros, como se pode
comprovar em esse opúsculo, por meio qual se meteu a fazer incursões e
perquirições minudentes pelos meandros da história genealógica.
Do confronto
entre os diversos estudos e apontamentos feitos pelos mais competentes e
empenhados historiadores, genealogistas e pesquisadores de escol, em relação às
terras adquiridas por Bernardo de Carvalho e Aguiar, uma conclusão assoma: a
certeza quanto à localização da fazenda Bitorocara: às margens da confluência
dos cursos d’água Surubim e Longá, onde se encontra há três séculos povoada e
viçosa a cidade piauiense de Campo Maior. Negar essa verdade parece menos ação
inteligente e mais intenção de escamoteá-la para usufruto intelectual pessoal;
demeritório, todavia, se ao pretenso suposto beneficiário faltar o necessário
estofo cultural histórico-genealógico-geográfico. Mera tentativa exacerbada e
inócua, seria, de espalhar a cizânia sobre fatos a respeito dos quais não resta
senão a residual dúvida decorrente da ausência de um conceito definidor,
peremptoriamente, do que venha a ser verdade absoluta; inatingível, cognitiva e
racionalmente pela inteligência humana no seu atual estágio de desenvolvimento
existencial.
O mais é
saborear a obra, deixando-se envolver pelas sobejas virtudes de Bernardo de
Carvalho e Aguiar, o fundador de Bitorocara (Campo Maior), fazedor de amigos,
inclusive dentre aqueles que até motivos poderiam ter para não lhe querer bem
nem o respeitar: os vencidos nas batalhas que precisou travar ao longo de uma
vida de conquistas e glórias, mas, também, de muito sofrimento físico e moral.
Valeu a
pena, Elmar Carvalho, trazer à tona essa figura mítica, desmistificando-a. Às
vozes discordantes resta tentarem mudar ou reparar a história para buscarem a
sua verdade; o que não quer dizer que encontrarão a verdade.
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