SETE DIAS SEM CARRANCA
Pádua Santos
Presidente da APAL
Wolfgang Amadeus Mozart, o grande
músico austríaco, aquele que começou a compor aos cinco anos e influenciou
inúmeros compositores através de sua produção musical louvada por todos de sua
época, ao morrer, aos trinta e cinco anos, em cinco de dezembro de 1791, contou
com apenas cinco pessoas acompanhando o seu enterro, onde não houve música nem
pompa, sendo enterrado em uma vala comum, sem lápide ou qualquer marca que o
identificasse, não obstante ser considerado pela crítica especializada como um
dos maiores compositores do Ocidente.
Bernardo
Alves da Silva, o Bernardo Carranca, ao falecer em dez do corrente mês (hoje
completa sete dias), teve o seu féretro acompanhado por uma multidão entremeada
defãs e também de alguns amigos. Foi realmente um cortejo digno de nota. Não
faltou reza, choro e nem música, e foi sepultado, no final da tarde, sob
olhares curiosos e ambiciosos, em cova particular, no cemitério Asa Branca.
Não
acompanhei tal enterramento, mas ao ver tudo depois, via internet, fiquei a
lembrar do que disse Rochefoucauld – Escritor,moralista e memorialista
francês:“A pompa nos enterros é antes para lisonjear a vaidade dos vivos do que
para honrar os mortos.”.
Pensei
assim porque pude ver naquele cortejo a presença de políticos de todas as
esferas, de quase todos os partidos com representação na cidade, políticos com
ou sem mandato, porém todos com o pensamento no popular músico morto, em seus
fãs - eleitores, como também nas eleições que se aproximam.
Eu,
também político, muito embora atualmente sem mandato e sem partido, não havendo
comparecido à cerimônia para dar o meu adeus final ao grande músico que a
Parnaíba perdeu, gostaria apenas de a ele dizer:
- Bernardo, eu sempre vou lembrar-me da sua bravura nas
eleições de 2000, quando concorri ao cargo de vice-prefeito. Naquela época os
nossos opositores contavam com requintadas bandas de música provenientes da
Bahia, compostas de artistas que deleitavam os nossos eleitores nas largas
avenidas, cantando do alto de trios-elétricos modernos, músicas quentes e
novas. Enquanto você, sempre do nosso lado, animava nossos pequenos comícios
que aconteciam em um velho caminhão que muitas vezes só pegava no empurrão. Mas
você, com o auxílio do tecladista Teté, cantava e encantava cantando o “Mí
dibuiado”, lendo suas exóticas partituras formadas de notas de cabeça para
baixo, contendo rabiscos que somente você os lia e ali os havia introduzido à
revelia do citado Mozart, ou até mesmo de Rossini, aquele que somente compunha
embriagado. E não é que ganhamos as tais eleições! A política é assim, meu
amigo, tem os seus contrastes. Ela é, às vezes, tal qualos enterros dosmúsicos.
Mas como vou dizer isto ao meu amigo Carranca, se ele já
partiu, de repente e sem despedida? Eu somente poderia dizer se fosse através
do chamado “telefone do além”, descrito por Chico Xavier, em sua doutrina
espírita. E esse contato realmente existe? E eu acredito nisto? Mas se existir
e um dia ele tocar me chamando, e do outro lado estiver o Carranca, eu com ele
conversarei sobre todo o processo político onde participamos juntos, da sua
candidatura a Vereador pelo partido que eu presidia e onde fiz sua filiação; do
show que ele iria dar, ainda neste mês, na festa anual da PAPOCO – minha
associação columbófila - já estava apalavrado. E terminaria o telefonema
dizendo: - Bernardo, me desculpe por não ter comparecido ao seu enterro. É que
atualmente comungo plenamente com o poeta e compositor Vinicius de Moraes: “Os
enterros, eliminei-os de minha vida para que possa lembrar vivos os meus
mortos”.
Parnaíba,
17 de janeiro de 2016.
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