sábado, 2 de janeiro de 2016

UM PAÍS COMBALIDO


UM PAÍS COMBALIDO

Jacob Fortes

Que em 2016 o povo brasileiro consiga estancar a artéria, aberta pela corrupção, por onde escorre e se perde o imposto dos contribuintes, a bem dizer o suor dos tributários nacionais. Essa sangria sinistra — aberta em conluio demoníaco por uma súcia de morcegos criminosos durante o silêncio da noite — é a responsável pelos atrasos e desmantelos do País, a começar pelo escangalho na saúde pública e o descaminho daquelas crianças que, deserdadas da sorte, vivem à margem da opulência e da nobreza doutoral. Às ruas, garimpando complacência e à cata de pão, elas vão-se amoldando às lições iniciáticas do crime, avançando nas condutas delitivas, frequentando com empenho os cursos preparatórios que lhes assegurarão vagas nas galerias da detenção. “A tirania mudou sua face, já não existe a brutalidade que aniquilava cabeças; os tiranos de hoje saqueiam a Pátria e degolam as cabeças de outra forma”.

Incrédulos, de olhos aboticados, os brasileiros veem o Brasil perdendo a sua luminosidade e derivando-se para as trevas; perdendo a robustez e se prostrando; perdendo o rumo da navegação assegurado pelos instrumentos náuticos (astrolábio, bússola, quadrante, balestilha) e se orientando pela incerteza que norteia a canoa, sem dono, que resvala à flor da correnteza de rio revolto.

Mas se a corrupção for banida ter-se-á a ressurreição da esperança, circunstância que permite substituir as ruas — palco de todas as passividades e licenciosidades —, pelo benfazejo e redentor caminho da escola. Pode parecer um sonho inatingível, mas serve de utopia para iludir a mente dos brasileiros — já no trapézio instintivo da sobrevivência — que não padecem apenas por causa das suas privações, mas pelo temor do agravamento: ver a sua Pátria-mãe (que sofre e resiste, resiste e sofre) combalida, errando por rumos temerários.

Gostaria que essas imagens, que minhas letras reproduziram, fossem apenas discursos de retóricas ou simples metáforas do exagero iguais às que vemos em certos escritos, mas infelizmente é a dura realidade; que confeita de indignidade o Brasil e sua gente.

Te todo modo, obrigado a Deus por essa Pátria: aviltada, violentada. É a melhor do mundo, pois é a única que posso chamar de minha; nisto reside o meu empenho em repelir para longe tudo quanto lhe degrada, lhe insulta.

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