Indignação: estupro no Palácio
Alvorada
José Maria Vasconcelos
Os brasileiros foram dormir indignados com a notícia veiculada, à
exaustão, nos meios de comunicação e redes sociais. O assaltante, ex-morador da
Casa, fugitivo da Justiça, entrara no
Palácio, rendera a frágil e desmiolada primeira dama e a todos, com palavrões
de embriagado, ainda cometera estupro contra a digníssima moralidade.
A população reagiu nas ruas e
praças do Brasil, com panelaço e bordões. Até o juiz federal mais admirado dos
brasileiros, recuado pelo assaltante, sentiu-se reduzida sua autoridade: soltou
as gravações com diálogos sigilosos e palavrões do invasor com a primeira dama
e demais amigos. A nação, assiste a tudo, de dignidade ultrajada. Refiro-me aos
brasileiros de bem, que pagam altos impostos e custo de vida como resgates do
assalto aos cofres públicos. Patriotas
que não aceitam contracheques e benesses da empulhação e submissão ideológica.
Há duas décadas, bela jovem e
bem-sucedida empresária de 33 anos, casada, sem filhos, tentou, com apoio do
marido, engravidar. Ela bateu à porta de especialista de referência nacional,
médico das estrelas. Durante os procedimentos no consultório, a empresária, sob
efeito de sedativos, acordou com o peso do clínico sobre seu corpo,
estuprando-a. “O meu mundo caiu, adquiri várias infeções, perdi vários órgãos e
a esperança de ser mãe, entrei em depressão, quase me suicidava”. A empresária
montou uma rede de vítimas na caçada ao estrupador de suas pacientes, com apoio
da Justiça, até encontrá-lo, fugitivo, e prendê-lo no Paraguai, depois de vinte
anos de caçada. A brava senhora, aos 54 anos,
encarou-o no aeroporto. Uma saga quixotesca publicada no livro BEM-VINDO
AO INFERNO. A HISTÓRIA DE VANA LOPES. A VÍTIMA QUE CAÇOU O MÉDICO ESTUPRADOR,
condenado a 278 anos de cadeia. O livro traz o prefácio do juiz federal Sérgio
Moro, o modesto e jovem Davi que enfrenta os gigantes assaltantes da Lava Jato.
O Brasil torce pelo sucesso do magistrado e reza por mais dignidade da Suprema
Corte. Ele mesmo, assaltante, profetizara, em 1988: “Quando um pobre é pego
roubando, vai preso; se é rico, vira ministro”.
Tem razão o profeta de araque: os
pobres foram feitos para a política, mas para sustentar o poder. Sustentar-se e
contentar-se com migalhas da fome, porque a política, no Brasil, virou ciência
da corrupção, começando pela Casa mais nobre da nação e das Conchas Acústicas.
Espero, como destemida empresária
Vana, que dias melhores ainda virão, até porque invoco filósofo e teólogo Santo
Agostinho, que viveu em período de gigantesca corrupção do Império Romano: “A
esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos
ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”.
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