UM DEUS PARA OS DEMAGOGOS
Antônio Francisco Sousa
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Tudo o que falam ou comentam a
respeito dele os outros, os da enorme suposta elite e opositores, ou seja, os
inimigos do Brasil, está errado, é invenção, não existe, é cria de mentes
conspiratórias ou de golpistas de plantão.
Por
outro lado, tudo que ele, o mesmo, diz, faz, diz que faz ou faz que diz, de
forma indireta, velada, valendo-se de subterfúgios ou de pura ironia, é
expressão da mais alta e incontestável verdade, fato irretocável, pacífico e
consumado, portanto, não passível de qualquer contra-argumento.
Pode,
inclusive, dita figura, em conversa reservada ou não com amigos, companheiros,
cupinchas, asseclas, camaradas, parentes ou correligionários, depreciar,
ridicularizar, trucidar, execrar, amaldiçoar autoridades de quaisquer poderes,
gente de bem; enfim, pessoas ou indivíduos sobre quem, a princípio, não paire
pecha, dúvida, denúncia ou acusação; sem que tal atitude signifique, de sua
parte, falta de educação, de bons costumes, de ética, sequer, uma forma
inadequada de alguém que já ocupou os mais altos escalões do parlamento e
governo do país exprimir-se, se o ato verborrágico ocorrer entre quatro
paredes, isto é, desde que não vaze para além dali o resultado daquele encontro
verborreico.
Pensando bem, parece que a pessoa
de quem estamos falando, mesmo querendo ou, ainda que isso fosse a única e
inescapável opção, não pode cometer erros, equívocos ou desatinos a que os
demais seres humanos estão suscetíveis, predispostos, propensos. Como se tudo
que pudesse ser considerado erro, falha, engano, incorreção ou deslize de ordem
moral, ética, existencial ou comportamental, apenas se aplicasse ou fosse
impingido aos outros.
É
falácia alguém afirmar ser a mais honesta - dentre todas as honestas - alma que
existe no universo vivente; jactar-se, para alegria de deslumbrados, como se
isso fosse motivo de júbilo ou contentamento, de ser o único brasileiro capaz
de incendiar o país - não verbalizou, mas talvez quisesse deixar dito nas
entrelinhas ou para interpretação de quem quer que fosse: se decidisse peitar o
parlamento, o poder judiciário, a imprensa e a opinião pública, a fim de
fazê-los mudar de ideia a respeito do que sobre ele dizem, pensam ou concluem.
Quem, verdadeiramente, se quimeriza como alguém de tamanha envergadura e
pretensão, certamente, deve sentir-se maior e mais poderoso que um deus.
Não
pode querer ser inferior a um deus quem, além de se ver como um, exige, espera
e aguarda de normais comuns que ousaram desafiá-lo, acusando-o de haver se
envolvido em falcatruas humanas, indignas, portanto, de uma divindade mítica,
que venham pedir-lhe desculpas e perdão. Pouco importa a esse deus dos
demagogos saber que os motivos pelos quais é acusado ou investigado seriam
conhecidos por todos em quase todo o universo. Em síntese: na visão de esse
homem maior do que qualquer outro, simplesmente, ninguém, ninguém mesmo, seria
competente ou poderoso o suficiente para acusá-lo, duvidar ou desconfiar de sua
honestidade, retidão e lisura de caráter.
Felizmente,
nem todos o veem como se imagina: apenas a maioria de uma minoria que se exaure
e diminui toma-o por guru, lume, farol. O contingente formado pelos que não
comungam nem aceitam esse tipo de condução, discute e refuta a pretensa
supremacia existencial desejada por ele, e vão à luta, envidando esforços no
sentido de enquadrá-lo no parâmetro de humanidade que lhe cabe: o das pessoas e
indivíduos falíveis. No nicho em que se encontram os que desconfiam de tão
ufanista honestidade está a parte honesta do parlamento, do poder judiciário e
de outras categorias da sociedade que não se deixam enganar pela lábia de
mercadores de ilusão, que conseguem diferenciar, nas falas, atos e ações
daqueles que se julgam perfeitos, demagogia e hipocrisia do que, racionalmente,
pode ser aceito como factível.
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