HISTÓRIAS
DE ÉVORA
Este romance será publicado neste sítio
internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem
sendo escritos.
Capítulo X
Consummatum est
Elmar Carvalho
No liceu, Marcos teve rápida conversa
com Fabrício. Este lhe disse que estivera no QG e que a madame Doralice
perguntara por ele.
– O menino Marcos está difícil, nunca
mais apareceu. Diga a ele para aparecer. A casa continua de portas abertas para
ele, e eu continuo a mesma e de braços abertos...
O rapaz gostou da notícia. Estava
lendo, com muita atenção, os livros que Madalena lhe emprestara. Dera especial importância
aos prefácios, estudos introdutórios e notas de rodapé, para só então
devolvê-los. Estava ansioso para rever a mulher do médico, para enfim consumar
o que mal iniciara, se tal fosse possível.
Ante o que Fabrício lhe contara, de forma
auspiciosa, decidiu ir ao QG naquela mesma noite de quarta-feira, em que o
movimento no lupanar não era tão grande, como nos finais de semana. Com certeza
o entrevero amoroso com a madame lhe serviria para apaziguar a sofreguidão que
sentia em reencontrar Madalena. Teria mais tenência, e não iria com tanta sede
ao pote. Dessa forma, poderia se esmerar nas carícias e nas chamadas
preliminares.
A madame, levando muito a sério a sua
missão de mestra do jovem, que espontaneamente se impusera, resolveu se exceder
nas lições práticas e teóricas. Indicou-lhe as carícias e manipulações que mais
excitavam uma mulher. Mostrou-lhe as principais zonas erógenas. Enfatizou que
os toques preliminares eram de capital importância para o sucesso de um amante,
sobretudo os mais sutis em certas partes da anatomia feminina.
Disse-lhe que ser o gatilho mais
rápido só era importante nos filmes de faroeste ou bangue-bangue. Deixasse isso
para Ringo, Billy the Kid ou Django. Como no velho brocardo, a pressa era
inimiga da perfeição. Os dois repetiram as performances e pulutricas anteriores,
e inventaram outras mais. Doralice, demonstrando ser a sacerdotisa suprema do
sexo, exercitou a arte do pompoarismo, o que levou Marcos ao delírio, no embalo
de sucções e fricções tão ritmadas.
Com essas novas aprendizagens, e após
a leitura meticulosa dos livros, o rapaz se sentiu apto a retornar à casa de
Madalena, sob o pretexto de devolvê-los. Tocou a campainha. Um pouco depois a
dona da casa apareceu, e o cumprimentou com um breve e discreto sorriso.
Pediu-lhe para que entrasse e sentasse à mesa da sala, em que ele depôs os
livros. Foi até a cozinha, de onde retornou com um delicioso suco de cajá. Com
paciência o rapaz o sorveu, demonstrando sentir muito prazer nessa lenta
degustação.
Madalena, quase como se fosse uma
dedicada mãe a tomar as lições do filho, fez várias perguntas, tanto sobre o
conteúdo das obras como sobre o estilo dos autores. O jovem, para
impressioná-la e para provar que fizera cuidadosa e profunda leitura, falou com
muita vivacidade sobre os livros e seus autores. Falou, inclusive, da escola
literária a que eles pertenciam, enunciando suas características mais notáveis.
Nessa breve conversa o rapaz notou
que a mulher o mirava com ternura e encantamento. Por seu turno, ele não lhe
regateou olhares em que tentou expressar admiração e desejo. Com embevecimento
contemplou seu rosto de incomparável formosura, e com certa cobiça mergulhou
seus olhos nas colinas de seu colo, tentando adivinhar as curvas, os detalhes,
os contornos e a textura dos seus seios, empinados e firmes. Tentando disfarçar
a impaciência, ela o convidou a irem até a biblioteca, para que ele escolhesse
novos livros.
Marcos só era tímido no primeiro
contato. Feita a conquista, tinha a desenvoltura e traquejo de um verdadeiro
amante. Observou que, dessa feita, Madalena cerrara a porta. Ele sabia que um
livro era bem mais delicado que uma mulher, pois uma simples lágrima podia
danificá-lo e manchá-lo para sempre; um simples toque inadequado ou canhestro
podia amarfanhar suas folhas. Mas a tocou com muito mais suavidade do que
tocaria uma página feita do mais delicado e frágil papel.
Afagou-lhe os cabelos e as têmporas.
Em seguida, seus dedos percorreram-lhe as sinuosas e bem delineadas
sobrancelhas. Seguiram o contorno da boca. Pousou o côncavo das mãos sobre as
maçãs do rosto em inefável massagem. Após fixá-la em profundidade, olhos nos
olhos, como se quisesse lhe devassar os mais recônditos pensamentos, colheu-lhe
os lábios entreabertos, ansiosos. Beijaram-se longamente, em frenesi, enquanto
se abraçavam.
Marcos se afastou um pouco para poder
lhe tocar os seios ainda velados pela blusa. Quando quis desabotoá-la, ela lhe
afastou as mãos, e o beijou novamente. Depois, conduzindo-o, abriu a porta que
separava a biblioteca do quarto do casal. O rapaz, então, a desnudou
completamente. Viu a magnífica beleza de seu corpo, cheio de curvas, relevos e
encantamentos. Beijou-lhe os seios esculturais. Afagou-os com suavidade e
vigor, de baixo para cima, até se fixar nos túmidos mamilos de eriçadas e
áureas aréolas. Foi metódico, quase ritualístico. Sussurrou e ofegou ao seu
ouvido, como se seguisse profano breviário.
Aplicou em Madalena tudo o que
aprendera com Doralice, ponto por ponto, milímetro por milímetro, até a
consumação suprema da própria consumação. E ainda assim, como na música, o cio
venceu o cansaço.
Apresso-me e me adianto àqueles que, por ventura, possam tecer alguma critica ao fato de você penetrar fundo nesse assunto que, para alguns, ainda é tabu, para afirmar a minha admiração pelo fato de discorreres sobre tão instigante assunto, sem incorrer ou resvalar para a futilidade. Enquanto isto, trafegas entre a beleza, a sexualidade e a poesia com estrema maestria. Mais um ponto a seu favor.
ResponderExcluirCaro JP,
ResponderExcluirObrigado por suas considerações críticas.
Venho tentando contar fatos do meu protagonista adolescente sem descambar para grosserias e vulgaridades.
Abraço,
Elmar