quinta-feira, 9 de março de 2017

Nova expedição à Barra do Longá




Da esquerda para a direita (sentido horário): o Didi (D'di), capitão-mor Natim Freitas, imediato Carlos Eduardo, grumete Elmar, Fátima e a Didi


Nova expedição à Barra do Longá

Elmar Carvalho

No sábado de carnaval, resolvi fazer nova excursão fluvial ao povoado Barra do Longá, a bordo do agora super Tremembé. O rio estava cheio, como há muito tempo não o via tão volumoso, embora muito largo por causa do ininterrupto processo de assoreamento e desbarrancamento. As matas ciliares, onde as havia, se mostravam em todo esplendor, ornadas por sinuosos cipós e luxuriante e esmeraldina folhagem.


As coroas de areia, triste sintoma da decadência do rio, haviam desaparecido, com exceção de uma ou outra. Até as grandes pedras, a jusante da ponte do Jandira, estavam submersas, de modo que não as vimos. As rochas a montante, que formavam uma corredeira, entre as quais passamos em viagem anterior, também foram afogadas pelas caudalosas águas de agora.


Como não as enxergávamos, temi algum acidente. Mas o comandante Natim Freitas, coadjuvado pelo imediato Carlos Eduardo Coutinho, foi perito e nada nos aconteceu, de modo que eu, escrivão-mor do Tremembé, aqui estou para fazer este relato ou crônica expedicionária.    


Mais uma vez, numa das curvas do velho Rio Grande dos Tapuias, revi umas casas encarapitadas no alto de um morro. Parecem pertencer a um mesmo grupo familiar. As enquadrei na mira de minha máquina fotográfica à prova d’ água (pois há muitas ondas, por causa do forte vento e da influência da maré, o que causa, às vezes, pequenas pororocas, que nos molham), porquanto, além de escrivão, sou também o repórter fotográfico da viagem.


Sem maiores incidentes, e muito menos acidente, chegamos ao nosso destino, a barra do rio Longá, que passa por vários municípios piauienses, entre os quais Alto Longá, onde nasce, Campo Maior, Barras, Esperantina e Buriti dos Lopes, onde forma uma lagoa e desemboca no Velho Monge. O povoado cresceu muito nos últimos anos. É ligado, desde muitos anos, à sede do município por uma estrada de paralelepípedos. De longe, avistamos as casas e a igrejinha, que compõem um cenário ainda bucólico.


Como o Tremembé é muito arisco, o atracamos com muito cuidado no pequeno cais, e fomos até um pequeno bar onde tomamos duas cervejas comemorativas. Havia alguns pacatos foliões no recinto. Conversamos um pouco, tendo eles nos perguntado de onde vínhamos. Respondemos que da Várzea do Simão. Alguns conheciam essa localidade e os seus antigos proprietários.


O bar e mercearia Comercial Ferreira é uma espécie de sede e quartel general do Liberal Futebol Club. Fomos informados de que ele é o terror da região, e que os times da cidade de Buriti dos Lopes o temem. Vários de seus jogadores já integraram a seleção buritiense. No local estavam expostos vários troféus e taças. Entre os presentes se encontrava o goleiro Figueiredo, que foi, em seu tempo, o melhor golquíper da região. Identifiquei-me como seu colega menor, mas que também tinha seus méritos. O comércio pertence ao senhor Raimundo Ferreira, cartola e mecenas do Liberal.



Encerrando nosso périplo turístico, esportivo e cultural, tomamos revigorante e refrescante banho numa das coroas, que ainda não se encontravam totalmente cobertas pelas águas. Fizemos o arremate na Toca do Velho Monge e no Cantinho do Poeta, onde degustamos delicioso peixe. O Tremembé mais uma vez foi bravo, e não deslustrou seus ancestrais homônimos. 


3 comentários:

  1. Mestre, a volta do Tremembé, em ambiente tão luxuoso, descrito em crônica assaz gostosa, faz-me ver que o armador campomaiorense voltou com todo o gosto a se utilizar dos seus vastos conhecimentos náuticos para singrar as águas sagradas do majestoso Parnaíba, e em grande estilo. Isso sim é uma forma inteligente de brincar o carnaval.

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  2. As fotografias também são de ótimo gosto e puro lirismo. Quão belo é o nosso Rio Grande dos Tapuias quando esbanja fartura em águas e esconde as suas indesejáveis "coroas"!

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  3. De fato mestre Araújo, o nosso Parnaíba é um bravo rio. E se não fosse, já estaria totalmente liquidado, pelos malefícios que lhe fazem, e pelo que não lhe fazem os governos estadual e federal. Aliás, nenhuma obra é feita em seu favor, mas todas o prejudicam, porque lhe retiram água, porque lhe destroem as matas ciliares, as nascentes e os afluentes, e de quebra ainda o poluem. Por isso se encontra tão largo e tão raso, quando as chuvas param ou minguam.

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