VICENTINHO E O
ZICO
Elmar Carvalho
Fui a Campo
Maior visitar meus pais. Aproveitei para ir a casa do Henrique, filho do craque
de futebol Vicentinho, para tirar umas fotografias desse atleta, com a finalidade
de ilustrar uma crônica que fiz em sua homenagem. Foi ele o maior cobrador de
faltas do futebol piauiense, por causa da precisão e força de seus chutes.
Inteligente, era um grande armador de jogadas, em razão de seus arremessos
certeiros e da boa distribuição em seus lançamentos.
Atuou nos
arquirrivais Comercial e Caiçara, embora este último seja o time de seu
coração, pois foi o que o trouxe do Ceará, e foi nesse esquadrão, sanguíneo e
sanguinário alvirrubro, que atingiu o ápice de sua glória e performance.
Enquanto esperava a vinda de Vicentinho, fiquei numa mercearia vizinha, a
conversar com o amigo Zé Francisco Marques e o professor de química Carlos
Sousa.
Através deste,
fiquei sabendo que o craque, em virtude de sua alta qualidade, tinha o privilégio,
na época em que jogou no Comercial, de não ter que ir para a “concentração”,
que ficava no Horto Florestal, do outro lado da barragem. A casa de Vicentinho
ficava perto do Estádio Deusdete Melo. Os jogadores, quando estava perto do
início do jogo, atravessavam o paredão da barragem e seguiam pela rua onde o
atleta residia até a praça futebolística.
Contou-nos o
Carlos que, duas horas antes da partida, o craque lhe pedia fosse comprar um
copo de pinga no bar e mercearia do senhor Antônio Borges, e tomava duas ou
três doses da calibrina. Um pouco depois, chegava o time comercialino e
Vicentinho engrossava o cortejo em direção ao estádio. Carlos Sousa contou
ainda um outro episódio interessante da biografia futebolística do atleta.
Certo dia, na preliminar do jogo em que o Tiradentes (PI) jogava contra o
Flamengo (RJ), o Comercial venceu o Piauí pelo placar de cinco a dois.
O magnífico
craque Deca marcou três gols, e Vicentinho, dois, em exímias cobranças de
falta, em que a bola passou no chamado L da trave, local onde a coruja costuma
dormir, no jargão do futebol. Antes de começar a partida principal, o craque
flamenguista Zico, no início de sua carreira, foi pedir lições e “bizus” ao
Vicentinho. Acredita-se que essas dicas preciosas foram importantes na
irrepreensível trajetória do grande Zico.
Após a conversa
e as fotografias, retornei a casa de meus pais, em companhia do Zé Francisco,
para inaugurar o que chamei Recanto da Saudade, em homenagem ao bar de mesmo
nome, do saudoso Dom Augusto da Munguba. O Recanto fica no quintal da casa,
debaixo de frondosa mangueira, enlaçada por belas parasitas e rodeada por
outras plantas de menor porte, algumas ornamentais e outras frutíferas.
24 de janeiro de 2010
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