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AS MAIORES TRAIÇÕES DA HISTÓRIA
Valério Chaves Pinto – Des. inativo do TJPI
A história da existência do homem,
desde tempos remotos, está recheada de exemplos de pessoas que apesar de
aparentemente confiáveis, se tornaram capazes de trair e prejudicar os melhores
amigos, um partido, uma ideologia e a
pátria como forma de obter privilégios ou informações sobre um fato tido como
criminoso.
No curso da história do mundo
muitas batalhas e guerras foram vencidas não só pela coragem de seus líderes,
mas por influência de espiões e traidores épicos que passaram para a história.
Nestes tempos de crises em que
muito se discute os valores sociais à luz da ética e da moral relacionados à
prática de crimes de corrupção descobertos através da chamada delação premiada,
instituída por vários diplomas legais existentes no ordenamento jurídico
brasileiro, impossível não citar exemplos de grandes traições que causaram
consequências desastrosas para a história da humanidade à custa de recompensas
aparentemente desprezíveis.
Mas nem sempre a traição de falsos
amigos deu bons resultados.
Alguns episódios tiveram desfecho
trágico e entraram para a história tamanha a traição de seus protagonistas,
como foi o caso de Judas Escariotes que, mesmo sendo um dos 12 apóstolos de
Jesus Cristo, virou sinônimo de traição depois que beijou e entregou o Filho de
Deus aos soldados romanos, recebendo como recompensa 30 moedas de prata.
Outro relato contido no Evangelho
do Novo Testamento diz respeito a negação de Pedro perante o Senhor.
Confirmando a profecia feita durante a Última Ceia, o apóstolo Pedro querendo
se livrar da imaginada agressão dos guardas, por três vezes negou sua
associação com Jesus (João, 18:17). “Em
verdade te digo que esta noite, antes de cantar o galo, três vezes me negarás”
(Mateus, 26:33-35).
Por esses relatos bíblicos, ver-se
que dois apóstolos de Cristo, apesar de terem tido destinos diferentes,
cometeram o mesmo erro contra a mesma pessoa (Cristo). Pedro, que traiu por medo, tornou-se um dos
principais líderes da Igreja Primitiva. Judas, que traiu por ambição, foi capaz
de suicidar-se por arrependimento.
Quarenta e quatro anos antes da
era cristã, o aristocrático romano Marcus Junius Brutus participou do mais
conhecido atentado político da Antiguidade. Na ganância de governar a República
Romana, colocou em prática um plano para matar Julio César, tornando-se assim
no mais famoso traidor da história. Uma conspiração integrada por ele e mais 60
senadores do Império Romano, culminou no assassinato do então ditador e
imperador Caio Julio César, golpeado pelas costas com 23 facadas.
Na época do Brasil Colônia, século
XVII, Domingos Fernandes Calabar, por ambição de alguma recompensa ou melhorar
de fortuna, traiu os colonizadores portugueses ao compactuasse-se com invasores
holandeses na conquista de terras no Nordeste brasileiro, tornando-se um dos
primeiros traidores da história do país. Depois de preso como desertou covarde,
foi punido com a morte.
Em 1792, o coronel Joaquim
Silvério dos Reis, movido por ganância, rompeu compromisso de lealdade aos
companheiros inconfidentes, e mediante promessa de nomeações de parentes, uma
pensão vitalícia do governo português e perdão de suas vultosas dívidas com a
Coroa, delatou todos os planos da Inconfidência Mineira, levando o mártir
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, à forca e ao esquartejamento.
No Livro Quinto das Ordenações
Filipinas, promulgadas no começo do século XVII incentivando a traição nos
crimes de lesa-majestade, encontra-se a verdadeira origem da traição
(modernamente chamada de delação premiada), que previa não só o mero perdão,
mas também um prêmio ao indivíduo que apontasse o culpado (Títulos VI e CXVI).
Na sua obra imortal “Dei delitti e
delle pene”, publicada no século XVIII, Cesare Beccaria, no capítulo destinado
ao estudo das “Acusações Secretas”,
expõe sua opinião contrária aos Tribunais que ofertam impunidade a delatores e
traidores cúmplices no processo de um grave delito.
Na peça “Otelo”, o Mouro de
Veneza, de William Shakespeare, (que sempre explorava a traição em suas peças)
Desdêmona, esposa de Otelo, perdeu a vida por causa da traição de Iago. Este,
sentindo-se injustiçado pelo seu comandante com a nomeação de outro para o
posto de tenente, decide se vingar. Então, disse para o general Otelo que sua
mulher Desdêmona o traiu. Dominado pelo ciúme, o general mata a esposa. Após
saber que tudo não passava de uma mentira de seu alferes Iago, suicida-se.
Nota-se, por fim, que a traição, o
medo e a ambição, independentemente do tempo ou posição social de seus
protagonistas, fazem parte das virtudes e imperfeições humanas como forças
incontidas e inevitáveis que nunca compensarão os prejuízos causados à alma
traidora.
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